CRÍTICA
Ópera 'Elektra' mostra bom som, dinâmica e clareza
Arthur Costa/Divulgação | ||
Cena de 'Elektra', montagem do Theatro Municipal paulistano para a ópera de Richard Strauss |
A grave crise institucional no Theatro Municipal —que culminou com a demissão do maestro titular e diretor artístico John Neschling no mês passado— parece não abalar músicos e coralistas da casa.
Na ópera "Elektra", de Richard Strauss (1864-1949), talvez a produção mais importante da excessivamente enxuta temporada 2016 (basta dizer que esta é apenas a terceira montagem do ano até aqui), os corpos estáveis garantiram o êxito.
É uma música difícil de fazer, e a Orquestra Sinfônica Municipal mostrou que está em grande forma. Som bonito, ampla dinâmica, clareza rítmica, além de homogeneidade em todos os naipes. O mesmo para o Coro Lírico, dirigido por Bruno Facio.
Assumir a partitura de Strauss em cima da hora não seria tarefa fácil mesmo para um regente experiente, o que acentua as qualidades do jovem Eduardo Strausser (nascido em 1985), que havia sido assistente de Neschling.
Na quarta (12) a soprano dinamarquesa Eva Johansson fez o papel de Elektra com fluência e amplo domínio cênico, mas também com algum esforço vocal diante da pesada massa de instrumentos.
Melanie Diener sobrou como a irmã Crisótemis e o baixo Johmi Steinberg como o irmão Orestes. A mezzo-soprano Susanne Resmark esteve atenta às oscilações psicológicas de Clitemnestra, a mãe.
A direção cênica de Livia Sabag (amparada por cenografia de Nicolàs Boni, figurinos de Fábio Namatame e iluminação de Caetano Vilela) é eficiente e atenta à música.
O palco é dividido em dois andares, com quatro ambientes fixos visíveis o tempo todo. Eventualmente algumas projeções —quase gratuitas— são superpostas à cena.
"Se eu não escutei? Se eu não escutei a música? Mas ela vem de mim", diz Elektra quase no final do excepcional texto do poeta Hugo von Hofmannsthal (1874-1929). De fato, a protagonista nunca sai de cena.
Essa identidade entre "Elektra", a ópera, e Elektra, a personagem, está também na música de Strauss. Em sua entrada, ao pronunciar pausadamente "Agamêmnon!" —o nome do pai assassinado pela mãe e seu amante—, reflete as notas iniciais da orquestra, ré-lá-fá-ré.
Seguindo os passos de Wagner (1813-83), Strauss identifica personagens com "leitmotive" (motivos condutores), figuras sonoras individualizadas manipuladas ao longo do drama.
Strauss e Hofmannsthal superpõem virtuosisticamente música e texto de mãe, filha e irmã. Mas a obsessão de Elektra contamina tudo, permite cogitar que talvez não haja, no palco, nada além de seu ódio e solidão.
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