Em seu 1ª ano, Museu do Amanhã se torna o mais visitado do país
Erbs Jr./Folhapress | ||
Fila para entrar no Museu do Amanhã, na zona portuária do Rio, no início do mês |
Ele entrou no circuito ainda ontem, já muito atrasado, mas chegou causando: em seu primeiro ano de atividade, o Museu do Amanhã tornou-se o mais visitado do país.
Símbolo maior da reforma da zona portuária do Rio, o museu teve 1,4 milhão de visitas desde sua inauguração, em 17 de dezembro de 2015, após sucessivos adiamentos –ele havia sido prometido para o aniversário de 450 anos da cidade, em 1º de março daquele ano.
A visitação do Amanhã em 2016 foi maior do que as dos três museus seguintes –o MIS SP, o Masp e o Museu de Arte do Rio– somadas. Também superou o público de 30 instituições federais sob responsabilidade do Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), que tiveram juntas 977 mil visitas no último ano.
RANKING DOS MUSEUS* - Total de público das principais instituições do país
Especialistas ouvidos pela Folha e a própria direção do museu apontam quatro fatores para o sucesso: a inserção do edifício na renovada área portuária carioca; sua arquitetura espetaculosa, criada pelo espanhol Santiago Calatrava; o impulso dos Jogos Olímpicos; e a divulgação midiática sem precedentes.
Por fim, há a atração causada pela temática moderna e pelas instalações multimídias da instituição, que foi concebida pela Fundação Roberto Marinho e pertence à Prefeitura do Rio.
Receber mais de um milhão de pessoas foi algo que os donos do Amanhã não previram: a expectativa de público para o primeiro ano, firmada em contrato, era de 450 mil pessoas –número a que se chegou após um estudo da Fundação Getulio Vargas encomendado pela prefeitura.
"Fizemos um esforço enorme para que a equipe dimensionada [para 450 mil] pudesse atender essa multidão", diz Ricardo Piquet, 53, diretor-presidente do museu.
O esforço teve seu custo: o Amanhã acertara com a prefeitura um orçamento de R$ 32 milhões para operar por dois anos (2015 e 2016). Na prática, só abriu para o público no ano passado, mas gastou a verba inteira assim mesmo.
"Foi preciso repactuar os contratos de vigilância e de limpeza, para atender três vezes mais pessoas do que o previsto. Eles absorveram essas demandas, fizemos um esforço de manutenção além do projetado. Contratamos temporários para cobrir algumas etapas que sabíamos que seriam necessárias", diz Piquet.
Para 2017, o orçamento previsto é de R$ 32 milhões –metade disso, dinheiro municipal. A instituição esperava receber R$ 20 milhões dos cofres públicos. "Para nossa surpresa, a prefeitura [ainda na gestão de Eduardo Paes] mandou um valor de R$ 16 milhões. Ou seja, é um corte no orçamento. Fizemos um outro esforço para buscar patrocinadores além do que estava previsto, para complementar o orçamento", afirma o diretor do museu.
QUANTIDADE NÃO É TUDO
Apesar de louvar o expressivo número de visitantes conseguido pelo Amanhã, especialistas apontam que esse não pode ser o único dado para se medir a relevância de um museu.
"É uma tendência internacional dos museus cada vez menos oferecer acervo e mais a experiência da arquitetura do prédio", diz o crítico de arte Afonso Luz, 41, ex-diretor do Museu da Cidade de São Paulo. "O espetáculo gera distorções, é um desperdício sem tamanho, porque o dinheiro gasto não forma as pessoas. Para ver a história da arte ou a trajetória de um artista, é uma tarefa complexa. Essa é a diferença de um museu: você vai criando um trabalho diferenciado, educativo, sustenta um mercado de catálogos", afirma Luz.
Paulo Vicelli, diretor de relações institucionais da Pinacoteca de São Paulo, diz que o Amanhã "é um fenômeno e teve um sucesso merecido", mas afirma que não se deve comparar a visitação dele com as de museus de arte.
"O Museu do Amanhã não é uma instituição como a Pinacoteca. Ele não tem acervo, não tem uma coleção. É um museu de sensações, você vê as televisões, é uma outra abordagem. Ele usa de uma linguagem que é mais compreendida pelo público de hoje, sobretudo o público jovem. Talvez os museus mais tradicionais precisem aprender a mesclar um pouco suas linguagens com essa tecnologia que atraiu mais de um milhão de pessoas", diz Vicelli.
Recorde de público também não se traduz necessariamente em qualidade, e Piquet reconhece que a quantidade imprevista teve efeitos indesejados, como filas que chegavam a mais de três horas.
"Para este ano, não temos a expectativa nem o desejo de bater recorde nenhum, porque extrapolamos o limite para uma boa visita ao museu. Receber quase 10 mil pessoas num dia, como nós recebemos, causa uma visita frustrante, você não consegue ver tudo", diz o diretor.
Ainda assim, ele estima bater a casa do 1 milhão de visitas novamente. "Neste mês de janeiro o público vem girando em torno de 4.500 pessoas por dia. Se essa média se reproduzir até o final do ano, vamos chegar em algo como 1,1 milhão."
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