Música 'Deu Onda', de MC G15, exemplifica funk produzido em SP
Ao compor uma música, um conjunto de sons precisa ser organizado para soar bem aos ouvidos. No funk não é diferente. Na capital paulista, o gênero ganhou inovações que tocam dois aspectos fundamentais dessa organização: o ritmo e a melodia, que se relacionam como a armação de um prédio e seu revestimento.
Assinada pelo DJ Jorginho, a arquitetura de "Deu Onda" é uma das causas do sucesso do MC G15 e um ótimo exemplar do funk de São Paulo.
O tamborzão, sequência rítmica do funk carioca, foi reinventado pelos produtores paulistas. As batidas de bateria eletrônica se transformam em sons de metal ou madeira, por exemplo, em estruturas com algumas variações. Em "Deu Onda", a percussão não segue a forma clássica do tamborzão, mas o resultado ainda é "tchu tcha tcha".
"Como é virtual, tem gente que acha que é simples", explica Alexandre Hypolito, arranjador e produtor da GR6.
Outra novidade estabelecida em São Paulo são as melodias. Os "pontinhos" são sequências que muitas vezes reproduzem um trecho do que é cantado em algum instrumento por meio de um sistema chamado Interface Digital de Instrumentos Musicais (MIDI). No caso de "Deu Onda", é a escaleta que retoma o refrão. "O Jorginho transpõe a voz em MIDI", diz Alexandre.
O casamento dessas características, entre outras, resultou em uma música que cria conflitos nas batidas, dispostas de maneira diferente do tamborzão, e nas notas, que não fazem parte de um mesmo conjunto e soam de maneira estranha ao se cruzar. Na teoria musical, esses aspectos são chamados de contrametricidade e politonalismo.
"Muita gente que não considerava o funk como música agora vai ter que considerar, porque está ficando rico, está se profissionalizando, está tomando outras proporções", explica Alexandre.
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O QUE DEU ONDA?
Contrametricidade
em alguns momentos, as batidas marcam o andamento da música de maneira diferente até mesmo para o funk carioca.
Politonalismo
ao simular a cantoria em um instrumento, notas musicais de conjuntos diferentes se conflitam, isto é, frequências sonoras pouco usadas simultaneamente acabam se encontrando.
Adlibs
recurso muito comum no rap norte-americano que consiste em pequenos trechos vocais cada vez mais utilizados no funk para marcar o ritmo junto das batidas.
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