Crítica
Mágico, 'A Tartaruga Vermelha' tem grande artista por trás
Poucas coisas são mais desafiadoras para um crítico do que a simplicidade. Quando nos deparamos com um filme que se resume ao essencial, a essa marca de síntese e clareza que só os grandes artistas conseguem alcançar, temos dificuldade de explicar a beleza que nosso olhar testemunhou.
É precisamente o que acontece após a projeção de "A Tartaruga Vermelha", primeiro longa-metragem do diretor de animações holandês Michaël Dudok de Wit.
Sem qualquer diálogo e com trilha sonora (único elemento tonificado do filme) no limite entre o emotivo e o exagerado, o longa nos mostra muitos anos na vida de um náufrago preso numa ilha deserta com pequenos caranguejos, tartarugas gigantes e aves, e sujeito a diversos fenômenos meteorológicos.
Divulgação | ||
Cena da animação 'A Tartaruga Vermelha', que segue a vida de um náufrago em uma ilha |
Ele tenta sair da ilha com jangadas fabricadas com troncos de árvores. Mas é sempre sabotado por golpes de uma grande tartaruga vermelha.
A partir daí o que acontece é digno das grandes fábulas da história da ficção, e convém não adiantar. Basta apenas dizer que é mágico, poético, onírico e muito, muito belo.
A carreira de Michaël Dudok de Wit é curiosa. Gênio de traços simples e incrível sensibilidade, realizou apenas quatro curtas desde o início profissional como um dos animadores de "Heavy Metal - Universo em Fantasia" (1981).
O melhor desses curtas é uma pequena obra-prima da delicadeza: "Pai e Filha" (2000), espécie de ensaio para o que ele vai desenvolver no primeiro longa.
Em "A Tartaruga Vermelha", destaca-se também o roteiro escrito por De Wit e Pascale Ferran, diretora que se revelou internacionalmente com "Lady Chatterley", e que em seu último longa, "Bird People", explorou brilhantemente um drama com toque de fábula.
A produção coube a um combo internacional de grande penetração comercial, incluindo o Studio Ghibli, fundado, entre outros, pelos magos da animação japonesa Isao Takahata ("O Conto da Princesa Kaguya") e Hayao Miyazaki ("A Viagem de Chihiro"). Com De Wit, formam uma parceria celestial.
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