Crítica
Narrativa rasteira desperdiça cenas espetaculares de 'King Kong'
Helicópteros do Exército? Um polvo gigante? Um dinossauro que parece vindo do inferno? Não, nenhum desses. Na verdade, os maiores inimigos de King Kong em sua quarta versão para o cinema são os roteiristas do filme.
O que "Kong - A Ilha da Caveira" tem de bom, ou seja, as cenas sensacionais de lutas protagonizadas pelo gorilão, acaba sabotado sem piedade por um enredo pífio e alguns dos piores diálogos da temporada cinematográfica.
Chega a ser muito constrangedor ver um ator de qualidade como Tom Hiddleston (o Loki de "Os Vingadores") disparar frases pretensamente heroicas no papel de James Conrad, o ex-soldado de forças especiais que é o mocinho da vez. Dá saudade de Jeff Bridges no muito superior "King Kong" de 1976.
Divulgação | ||
Kong enfurecido avança contra helicópteros na Ilha da Caveira |
Quem parece à vontade com roteiro ruim e personagem clichê é Samuel L. Jackson, como o truculento chefe militar que pretende acabar com a raça de Kong. Literalmente, já que Kong é o último de sua espécie.
Jackson anda fazendo uns oito filmes por ano, um pior que o outro. Não tem mais nada a perder em roubadas como essa. O que não é o caso de Brie Larson, atriz precocemente agraciada com um Oscar por "O Quarto de Jack", no ano passado. "Kong" é um passo para trás na carreira, até porque a fotógrafa Mason Weaver não consegue a mínima química com o macaco de 30 metros de altura.
Ela se mostra a pior das "Kong girls". Não tem a sensualidade de Fray Wray, do original de 1933, ou Jessica Lange, da versão de 1976, nem o charme desengonçado de Naomi Watts, que fez a função em 2005. Brie Larson se rende ao fraco roteiro e vai muito mal em cenas que deveriam sustentar sua suposta aproximação com Kong.
Falta inteligência para rechear o enredo sobre a missão de militares e cientistas a uma ilha misteriosa em 1973. Tudo é jogado na tela, a narrativa é rasteira.
Nos outros filmes, o clima de mistério dura bastante antes da primeira aparição de Kong na tela. Aqui, talvez conscientes da história capenga que tinham nas mãos, os produtores tratam de mostrar Kong logo nos primeiros minutos, já na pancadaria.
O filme só vale o ingresso pelo herói peludo em ação, em cenas impressionantes e abundantes. Mas o resto poderia ser mais caprichado.
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