Crítica
Drama francês 'Fatima' celebra tenacidade de uma imigrante
Divulgação | ||
Fatima (Soria Zeroual) e a filha mais velha, Nesrine (Zita Hanrot), estudante de medicina |
A imigração magrebina é um problema social relevante na França e nos últimos trinta anos ganhou novos contornos, pois os filhos dos imigrantes –já nascidos no país europeu– estão distantes da cultura e das rígidas tradições defendidas pelos pais mas ao mesmo tempo não se sentem franceses.
A defasagem entre as duas gerações está no centro de muitos conflitos familiares e é um dos temas deste drama do diretor e roteirista Philippe Faucon.
Fatima (Soria Zeroual) tem 45 anos, é divorciada, muçulmana, anda de véu, fala mal o francês e cria as filhas de 15 e 18 anos sozinha, com o que recebe fazendo faxina. Esses atributos poderiam fazer dela uma vítima do machismo e do preconceito, mas o filme a mostra sob outras lentes.
PACIÊNCIA
Com tenacidade e silenciosa paciência, ela enfrenta as dificuldades e decide trabalhar até a exaustão para ajudar a custear os estudos de medicina de Nesrine (Zita Hanrot), a filha mais velha –que também vive seu quinhão de angústias na universidade.
Como se não bastasse, Fatima ainda tem de fazer frente à rebeldia e da filha mais nova, a insolente Souad (Kenza Noah Aïche), pouco aplicada nos estudos.
Apesar da vida corrida, Fatima frequenta um curso de alfabetização em francês para adultos. E faz outra coisa ainda mais notável: cultiva o hábito de escrever –em árabe– poemas e relatos sobre sua condição.
Escrever é ter uma voz interior que a ajuda a refletir sobre a vida que leva e a se reconciliar consigo mesma.
As cenas em que ela escreve, recostada na cama, são um modo de indicar que o filme é uma adaptação dos dois livros autobiográficos publicados em 2006 e 2011 pela imigrante marroquina Fatima Elayoubi, que hoje está com 65 anos.
Longe do sentimentalismo ou outro recurso para exacerbar o drama, Faucon dirige um olhar depurado às três mulheres, marcado por um naturalismo sem concessões, que não deixa de dar espaço à dimensão psicológica delas, na qual emergem incompreensões, dores, hesitações.
Essa maneira de narrar permite que as três personagens transbordem de autenticidade. Para isso também contribui o fato de Zorual não ser atriz profissional e de as duas jovens terem pouca experiência.
O final aberto, sem um desenlace, também recusa os convencionalismos: a luta dessa mãe coragem não termina, é permanente nela e em tantas outras Fatimas.
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