Crítica
De volta oito anos depois, 'Prison Break' desafia verossimilhança
Ninguém pode acusar a série "Prison Break" de inanição criativa. Nem mesmo quando o programa criado por Paul Scheuring surgiu, em 2005: a trama envolvia Michael Scofield (Wentworth Miller), um gênio que planeja tirar o irmão, Lincoln (Dominic Purcell), de uma prisão de segurança máxima usando segredos escondidos em tatuagens pelo próprio corpo.
Nas três temporadas seguintes, personagens conseguiram fugir da cadeia, entraram em conspirações internacionais e até morreram.
Então, não chega a ser um choque hitchcockiano que a quinta temporada, que ressuscita a série após um hiato de oito anos, exija do telespectador uma ampla boa vontade para acreditar nas ramificações do roteiro.
No primeiro episódio, que será exibido nesta terça-feira (4), às 23 horas, no Canal Fox, simultaneamente com os Estados Unidos, descobrimos que Michael (surpresa!) não está morto, mas encarcerado em uma prisão no Iêmen.
As pistas do seu paradeiro são enviadas para o psicopata Theodore "T-Bag" Bagwell (Robert Knepper), que, assim como nas antigas temporadas, rouba a cena.
Mesmo que o telespectador compre a ideia de que alguém poderoso permitiu a saída de um assassino pedófilo condenado a cumprir sentença de prisão perpétua, fica complicado compreender como Lincoln virou um trambiqueiro endividado que, ao descobrir que o irmão está em um país do Oriente Médio, arruma grana para um esquema internacional no melhor estilo "Onze Homens e um Segredo" do outro lado do mundo.
RELEVÂNCIA POLÍTICA
A nova temporada de "Prison Break" parece querer ser relevante politicamente, algo que suas encarnações prévias nunca ambicionaram.
A trama tenta passar mensagens de opressão no Iêmen e até resgata o personagem de C-Note (Rockmond Dunbar), agora um ativista islâmico anti-extremista. Em tempos de "Homeland", a tentativa fica risível.
Ainda mais porque, numa subtrama, acompanhamos T-Bag receber uma mão biônica comandada por ondas cerebrais, uma pesquisa de alta tecnologia cibernética financiada por um misterioso benfeitor. Após essa tentativa de ficção científica, até a possibilidade de Michael ser um vampiro fica plausível. Não duvide.
Os dois primeiros episódios não se preocupam em explicar a ressurreição do personagem, mas gastam muito tempo situando o espectador nesse novo cenário, ambientado sete anos depois do final da quarta temporada.
Esse caldeirão de absurdos, no entanto, não chega a ser decepcionante como o novo "24 Horas". Talvez porque "Prison Break", em diversos momentos, assume seu lado toscão, desfilando planos no melhor estilo Dan Brown para que Lincoln tente libertar o irmão -que, por sua vez, tem uma artimanha muito mais ambiciosa dentro da prisão.
A química entre Wentworth Miller e Dominic Purcell, que ganhou status cult após anos de exibição no Netflix e com os atores trabalhando juntos também na série "Legends of Tomorrow", continua sendo o grande destaque. Mas é muito pouco para ganhar status de saudosismo.
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