Existe preconceito com o lúdico, diz diretor de 'Por Trás do Céu'
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No longa, Aparecida (Nathalia Dill) vive reclusa com o marido, sonhando com a vida na cidade |
A primeira cena de "Por Trás do Céu" já dá o tom do novo filme de Caio Sóh: sobre áridas pedras do sertão, caminha uma tartaruga com asas metal acopladas ao casco.
O réptil é tanto representação das aspirações da protagonista, Aparecida (Nathalia Dill) quanto passaporte para o universo fantástico de Sóh.
"Há preconceito com o lúdico", afirma o diretor. "Essa cena é para ver se o público está disposto a embarcar numa obra que não é realista."
Aparecida vive com Edvaldo (Emílio Orciollo Neto) num canto desolado do Nordeste.
O universo é o do sertão atemporal, simbólico: longe da cidade, o casal não sabe o que é gravata, revista, chocolate. A chegada do antigo amigo Micuim (Renato Góes) e de uma prostituta desgarrada (Paula Burlamaqui) insufla os desejos de fuga em Aparecida, movida muito mais pela solidão do que pela miséria.
"O signo desse sertão não é a terra, que o cinema realista retrata como miserável, mas o céu", diz o cineasta.
"Por Trás do Céu", vencedor do prêmio do público no último festival CinePE, fica no polo alegórico da produção cinematográfica de Sóh. A ele se soma "Minutos Atrás" (2013), filme sobre catadores errantes que guarda um clima de "Esperando Godot".
No outro polo estão os filmes calcados no naturalismo, como "Teus Olhos Meus" (2011), estreia do diretor no cinema, e o ainda não lançado "Canastra Suja" (2016).
O interesse de Sóh, 38, pelo onírico vem de sua bagagem no teatro e no circo. "Por Trás do Céu" carrega elementos de commedia dell'arte, como no arlequinesco Micuim.
Além de diretor e ator, Sóh também compõe e escreve –são seus os textos de "Por Trás do Céu" e "Teus Olhos Meus", que ele cogita levar ao teatro. "Não sinto que as obras acabem numa forma."
"O que me move é o olhar da poesia, sou um contador de histórias", afirma. "A literatura deu a mim, um paulista que mora no Rio, a liberdade de entrar nesse sertão."
Por vezes, os registros se misturam e os longas ficam carregados de teatralidade. "E os críticos dizem que meus filmes viram cheios de verborragia. Mas eu não tenho problema nenhum com ela."
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