crítica
Potente, suspense brasileiro 'O Rastro' acerta com clima sinistro
Divulgação | ||
Rafael Cardoso é um médico que se dá conta do sumiço de uma paciente; Leandra Leal vive sua mulher |
O RASTRO (bom)
DIREÇÃO J. C. Feyer
ELENCO Rafael Cardoso, Leandra Leal, Claudia Abreu, Felipe Camargo
PRODUÇÃO Brasil, 2017, 14 anos
QUANDO em cartaz
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O Brasil "vive uma história de horror", escreveu o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos integrantes da força-tarefa da Lava Jato, nas redes sociais no sábado (20). Ele se referia às revelações de corrupção que vieram à tona com a delação dos executivos da JBS.
Recém-lançado, o misto de terror e suspense "O Rastro" expõe, veja só, o retrato de desvios morais no sistema público brasileiro como uma de suas facetas centrais. É uma ficção assaltada pela realidade.
Semanas atrás, ao planejar a estreia do filme para meados de maio, produtores e exibidores não desconfiavam, evidentemente, do que estava por vir no noticiário político. O timing do lançamento acaba se revelando um trunfo. Ninguém deve esnobar a sorte, mas "O Rastro" reúne qualidades que merecem levá-lo para além do calor das circunstâncias.
Em sua estreia na direção de um longa, o pernambucano J. C. Feyer acompanha as dificuldades do médico João Rocha (Rafael Cardoso) para conduzir a desativação de um hospital carioca, que está em deterioração.
Em meio à transferência dos pacientes, ele se dá conta do sumiço de uma garota que estava internada e, na busca obsessiva por ela, defronta-se com situações mais e mais atípicas.
É na primeira metade que o filme mostra potência. Os sinais de descalabro da saúde pública estão a serviço de uma atmosfera de mistério, que se fortalece especialmente nas cenas dentro do hospital.
Para a criação desse clima sinistro, contribui o requinte técnico na direção de arte, na fotografia, na edição de som.
Cardoso não decepciona como protagonista, mas o filme cresce mesmo quando estão em cena Leandra Leal (a mulher grávida do médico) e Claudia Abreu (a chefe da UTI). A personagem de Claudia, aliás, é perturbadora até nos diálogos mais banais.
Na segunda parte, contudo, as soluções dramatúrgicas e, sobretudo, visuais são menos inspiradas. Bem-sucedido na primeira hora, o equilíbrio entre terror e suspense praticamente se esvai na proximidade do arremate. O horror engole a sutileza.
Ainda assim, é a memória dos acertos que prevalece. Com produção esparsa e desigual nesses dois gêneros, suspense e terror, o cinema brasileiro tem em "O Rastro" uma boa notícia.
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