Curumin bebe de mudanças do mundo e explora eletrônica em novo álbum
Ava Rocha/Divulgação | ||
O músico e compositor paulistano Curumin, que lança seu quarto álbum, "Boca" |
Da política à relação entre seres humanos e telefones celulares, o mundo mudou muito desde que Curumin lançou seu último álbum, em 2012.
Transformações individuais e coletivas impactaram "Boca", o quarto trabalho do músico, nascido Luciano Nakata Albuquerque há 40 anos.
Produzido pelo próprio em parceria com Lucas Martins e Zé Nigro e impulsionado pela edição 2015 do Natura Musical, o disco é lançado nesta quinta (25) —os shows começam no fim de junho e a audição é exclusiva no site do edital nos primeiros dias.
Mistério e ambiguidade inspiram o nome do novo trabalho, sugestão da multiartista Ava Rocha (filha do cineasta Glauber), que concebeu a capa e a arte de "Boca".
Nas possibilidades literais e metafóricas do termo, Curumin viu um norte. "Tem um lado concreto, da anatomia, mas também um simbolismo cheio de possibilidades", diz.
João Carneiro/Folhapress | ||
Show de Curumin na Virada Cultural lotou o auditório do Centro Cultural São Paulo |
Para criá-lo, o que ele botou boca adentro foi música de colegas: "Queria descobrir onde me colocar no meio de gente como Karina Buhr e BaianaSystem".
Essa playlist contemporânea também fez o músico, pródigo em refrões esbeltos, trocar por experimentação o talento para canções.
Temas como "Boca de Groselha" reforçam que a fragmentação eletrônica tomou o lugar da fórmula de soul e samba-funk que lhe garantiu projeção no início dos anos 2000, inclusive no exterior.
Do segundo álbum, "JapanPopShow", vieram sucessos ainda atuais, como "Magrela Fever" e "Compacto", sobre a paixão por discos de sete polegadas em 45 rotações.
Essencialmente baterista e cantor, Curumin vê o álbum "numa mesma linha de organizar um monte de coisas diferentes a partir do ritmo".
Sem afetar a unidade, o disco dispara em direções muitas; flerta com o hip-hop e ricocheteia no samba de mesa em "Paçoca", com vozes de Max B.O., Iara Rennó, Andréia Dias e Anelis Assumpção, com quem é casado.
As parcerias rendem ótimos momentos. Em "Boca Cheia", a um tom minimalista e dançante, como em hits de Ed Motta, soma-se uma sensualidade tonificada pelas rimas da espanhola Indee Styla e pelo venenoso contrabaixo.
"Tramela", com a voz do rapper Rico Dalasam, é outro auge, com versos de métrica instigante e conteúdo político que, sem virar manifesto, não se furta à postura.
SILÊNCIO QUE DIZ
Cantar sobre política não foi objetivo, mas necessidade face a "uma sociedade e um sistema que parecem caminhar para transformar erros em coisas normais", diz.
"Cantar sobre flores e coisas maravilhosas", afinal, "é se posicionar", completa.
O tema apareceu no último domingo (21), em show na Virada Cultural, quando criticou políticos acusados de corrupção, e a dupla tucana Geraldo Alckmin-João Doria.
"Sou completamente contrário à postura deles de achar que violência é recurso político", diz o músico, sobre o desmonte da cracolândia, no mesmo dia do evento.
"A ação causou uma ferida na cidade; você via uma cara de tristeza nas pessoas."
Menos quando tocou "Compacto"; aí a geral sorriu.
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