Criada com 'descartes', peça 'Chorume' debate horrores contemporâneos
Lenise Pinheiro/Folhapress | ||
Júlia Corrêa (esq.), Mayara Constantino (centro) e Fabrício Licursi em ensaio de 'Chorume' |
"Chorume", como sugere o nome, nasceu de descartes. Para sua nova peça, Vinicius Calderoni foi escarafunchar no lixo: em textos não utilizados nos seus trabalhos anteriores e em tudo aquilo que "esgota" na sociedade.
"De alguma maneira, só o que me desestabiliza pôde entrar nesta peça", conta o dramaturgo e diretor, que estreia o espetáculo neste sábado (1º) em São Paulo.
Trata-se de uma série de cenas cotidianas com um quê de absurdo. Elas têm um tom cômico, mas guardam nos seus temas dores contemporâneas, como a intolerância, seja ela política, seja de comentaristas de internet.
Num dos trechos, uma piada de repente se transforma em uma denúncia, depois em sonho –e então volta a ser uma piada.
Outro ressalta a ironia em comer sozinho num restaurante um corte de bife vacío (que, pronunciado, soa como "vazio"). "Às vezes, para a vida continuar, é preciso matar uma metáfora", diz um dos personagens.
Um terceiro cria um mundo em que grupos de performance assumem ataques terroristas, e grupos terroristas assumem performances.
Expoente entre jovens dramaturgos, Calderoni, 31, também faz em "Chorume" um exercício de linguagem. A ideia do nome da peça vem de como utilizar em cena uma literatura que, em princípio, seria imprópria para o palco, como uma placa de trânsito ou uma bula de remédio.
O espetáculo encerra uma trilogia denominada "Placas Tectônicas", composta também de "Não Nem Nada" (2014) e "Ãrrã" (2015) –Calderoni tem um predileção por títulos pouco convencionais.
A série investiga a velocidade das relações contemporâneas e "as coisas que passam por baixo da superfície", diz ele, que ainda integra com Rafael Gomes a companhia Empório de Teatro Sortido.
VELOCIDADE
Como nos espetáculos anteriores, o grupo de atores se alterna entre os diversos personagens das histórias e se movimenta de forma rápida em torno do cenário limpo e abstrato criado por André Cortez –uma coluna central de onde saem três grades, que giram e se movem conforme cada uma das cenas.
Na temporada, o Sesc Bom Retiro também receberá sessões de "Não Nem Nada" (12 e 13/7) e "Ãrrã" (19 e 20/7), peça pela qual Calderoni recebeu prêmios Shell e APCA.
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CHORUME
QUANDO sex. e sáb., às 21h; dom., às 18h; até 13/8
ONDE Sesc Bom Retiro, al. Nothmann, 185, tel. (11) 3332-3600
QUANTO R$ 9 a R$ 30
CLASSIFICAÇÃO 14 anos
Livraria da Folha
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