CRÍTICA
'Dupla Exposição' é prazeroso, mas escorrega em repetições
Elisa Pessoa/Divulgação | ||
Imagem de Elisa Pessoa do livro 'Dupla Exposição' para o conto 'Venice', escrito por Paloma Vidal |
DUPLA EXPOSIÇÃO (bom)
AUTORAS Paloma Vidal e Elisa Pessoa
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 49,50 (104 págs.) e R$ 29,50 (e-book)
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"Dupla Exposição" é o resultado de uma colaboração entre a escritora Paloma Vidal e a artista visual Elisa Pessoa. Pequenos textos e imagens se interpõem a fim de criar uma nova experiência para o leitor/observador.
De acordo com o texto divulgado pela Rocco, o título "inaugura a coleção Duplex, na qual o selo Anfiteatro abre espaço para livros que promovem o diálogo entre diferentes linguagens".
No primeiro texto, Vidal faz uma espécie de colagem a partir de um ensaio de Elizabeth Bishop. Trata-se de "Esforços do Afeto", em que Bishop relembra a amizade com a poeta Marianne Moore.
É possível descobrir o que falta aos textos de "Dupla Exposição" com a leitura deste ensaio, vertido o português por Paulo Henriques Britto.
Mesmo antes de conhecê-la, Bishop admirava a originalidade de Moore. Em uma época em que a poesia ampliava a experimentação, Moore passou a recusar tudo o que vinha de seus pares, criando regras peculiares para os poemas que escrevia –muitas delas incompreensíveis para qualquer um que não fosse a própria poeta.
Em seu radicalismo, Bishop conta que Moore nunca pronunciou o nome de Emily Dickinson, e mesmo o de Walt Whitman não era bem-vindo.
ORIGINALIDADE
É essa originalidade, ou essas regras próprias, que parecem faltar aos escritos de "Dupla Exposição". Com exceção de "Sempre a Partida", que poderia ter sido cortado do livro, não há um texto propriamente ruim.
Alguns, como "Sun in an Empty Room" (um trocadilho com "son", filho), em que a narradora visita uma exposição de Edward Hopper, são delicados e bonitos. "Venice" e "Tavistock Square" também têm sua graça.
O melhor de todos –o que mais se aproxima da ousadia da coleção e das imagens de Elisa Pessoa- é o provocador "10 Exercícios para", um texto que exige do leitor a mesma adesão das fotografias. Os demais, porém, escorregam para um limbo de repetição.
Dupla Exposição |
Paloma Vidal, Elisa Pessoa |
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Ainda que a prosa de Vidal seja prazerosa de se ler, é difícil evitar certa sensação de déjà-vu. Os textos de "Dupla Exposição" se aproximam perigosamente daquilo que tem sido produzido com frequência nos últimos anos –e sobretudo na literatura brasileira.
Tem-se o deslocamento, o exílio e o estranhamento, tudo descrito com a cadência e o peso que procuram ao mesmo tempo emular e transmitir a experiência de deslocamento, de exílio e de estranhamento. Com algumas exceções, o que prevalece é a impressão de que aquilo já foi lido e relido vezes sem conta.
E, em um projeto como esse, o texto deveria justamente recusar a banalidade.
Em certo sentido, o maior problema do livro é a disparidade entre duas linguagens que deveriam estar, aqui, em pé de igualdade. Antes de ocuparem o mesmo patamar, as imagens de Elisa Pessoa são potentes e se destacam, enquanto o texto –embora não haja, no fundo, nada de errado com ele além da repetição– fica aquém.
Livraria da Folha
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