Obra é aperitivo digno sobre a gênese da 'Nona' de Beethoven
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O compositor alemão Ludwig van Beethoven |
Para se familiarizar com uma grande obra, é preciso um grande livro? Não necessariamente.
"A Nona Sinfonia: A Obra-Prima de Beethoven e o Mundo na Época de sua Criação", de Harvey Sachs, não realiza voos intelectuais ou estilísticos de envergadura e está muito longe de esgotar o assunto, mas funciona como introdução à partitura.
Com 71 anos, o norte-americano Sachs é um experimentado escritor de livros de música, incluindo a coautoria das autobiografias do tenor Plácido Domingo e do regente Georg Solti. O volume sobre a "Nona" é de 2010.
Embora seja ligado a um dos mais aclamados conservatórios dos EUA, o Curtis Institute, da Filadélfia, sua escrita busca ser acessível ao público não especializado, sem abusar de terminologia técnica, incluindo eventuais anedotas e se permitindo, até, tiradas antiacadêmicas.
Das quatro partes do livro, a mais original é a segunda, na qual Sachs procura mapear o clima artístico de 1824, o ano da estreia da sinfonia.
O foco são alguns dos principais escritores da Europa pós-napoleônica, como Lorde Byron e Púchkin, cujas criações não estão necessariamente relacionadas de forma direta à obra de Beethoven, mas ajudam a entender o ambiente intelectual e político em que foi gerada.
Além de fornecer um apanhado didático da gênese da "Nona" e da biografia de seu criador, Sachs se propõe também a analisar a recepção e a influência da sinfonia.
Um recorte se fazia necessário, mas o leitor termina a obra se perguntando se o adotado pelo autor -limitar-se a compositores nascidos antes da estreia da sinfonia, em 7 de maio de 1824- foi o mais satisfatório, já que deixa de lado os óbvios ecos da "Nona" na produção de músicos como Mahler e Bruckner.
Ignora ainda um dos casos mais flagrantes de "angústia da influência" da história da música: Johannes Brahms (1833-1897), cuja primeira sinfonia foi alcunhada de "Décima de Beethoven".
Mas o verdadeiro calcanhar de aquiles do livro reside na parte três, uma descrição da "Nona" que oscila entre o risco de soar hermética para o "leigo" e redundante para o especializado.
Nesse aspecto, o capítulo dedicado à obra em "Beethoven: Angústia e Triunfo", de Jan Swafford, lançado neste ano no Brasil, é bem mais objetivo e satisfatório.
A Nona Sinfonia |
Harvey Sachs |
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Ainda assim, quem não estiver a fim de encarar o catatau de mais de mil páginas de Swafford encontrará em Sachs, se não um substituto à altura, um aperitivo digno.
A NONA SINFONIA: A OBRA-PRIMA DE BEETHOVEN E O MUNDO NA ÉPOCA DE SUA CRIAÇÃO
AUTOR Harvey Sachs
TRADUTOR Clóvis Marques
EDITORA José Olympio
QUANTO R$ 44, 90 (280 págs.)
CLASSIFICAÇÃO bom ★★★
Livraria da Folha
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