Rapper obesa tenta a fama em 'Patti Cake$', que concorre ao 'Oscar indie'
Divulgação | ||
Cena do filme 'Patti Cake$' |
Numa das cenas de "Patti Cake$", a personagem-título, uma jovem rapper obesa, contempla os arranha-céus de Nova York salpicando o horizonte, do outro lado do rio Hudson. Embora geograficamente colada à capital do mundo, ela não podia estar mais distante daquelas luzes.
O longa estreia nesta quinta (30) tendo a australiana Danielle Macdonald no papel de Patti. Chamada de Dumbo ou Miss Piggy pelos locais, ela tem nas rimas do rap sua única válvula de escape.
Patinho feio com sonhos de estrelato, Patti é a mais completa tradução do lugar de onde veio, o Estado de Nova Jersey. Espremido entre as reluzentes Nova York e Filadélfia, é entrecortado por rodovias e mercados sem graça, os mesmos da série "The Sopranos", que pouco fez para melhorar a imagem local.
O músico Bruce Springsteen se destaca como um dos poucos orgulhos dali. É dele, claro, o som que embala a abertura do filme: uma colagem de imagens que misturam fotos antigas da personagem com imagens das fábricas e estradas de Nova Jersey.
"É um lugar constantemente intimidado pelo que há em volta", afirma à Folha o diretor, Geremy Jasper, nascido ali. Ele concorre com o filme ao Spirit Awards, tido como o "Oscar do cinema independente", na categoria de melhor iniciante em longas.
Em seu primeiro longa, Jasper fez questão de embutir na protagonista as agruras que viveu como músico, tocando às "margens do centro do mundo", como descreve.
"O hip-hop moldou minha vida criativa", diz. "Comecei a compor versos aos 9 anos, em segredo. Fui um garoto rechonchudo que ouvia Public Enemy tentando achar alguma dica escondida para gravar minhas próprias músicas. Patti podia ser minha irmã."
No filme, que tem produção da paulista RT Features, a protagonista se dobra entre o subemprego em bares e as tentativas de se firmar como rapper. Ela tem como escoras o melhor amigo, Jheri (Siddharth Dhananjay), um balconista de farmácia que também compõe versos, e a avó adoentada (Cathy Moriarty).
O entorno não ajuda. Ninguém leva a sério a loura gorducha que quer fazer seu nome num meio tomado por homens cheios de petulância.
Os obstáculos de Patti começam por sua mãe castradora (Bridget Everett). Outrora metaleira com algum futuro, hoje ela é uma alcoólatra que se esgoela cantando Bon Jovi em karaokês decrépitos.
Mas a garota cresce sempre que está atrás de um microfone. Ganha "superpoderes" de rappers, como diz Jasper. "Conheci muitos que eram inarticulados pessoalmente, mas que ganhavam uma outra persona no palco."
Em seu périplo, a protagonista se apresenta em lugares que vão de casas de strippers a festas de bar-mitzvá, "espeluncas onde eu também me apresentei", conta o diretor.
Pelos tipos e universos retratados, "Patti Cake$" parece se somar à atual onda de filmes sobre "brancos enfurecidos", títulos que, como "Três Anúncios para um Crime", tentam galvanizar a ira do eleitor típico de Trump.
Jasper, contudo, não se vê como parte dessa tendência.
"É possível que daqui a alguns anos vejamos o fruto do pesadelo que vivemos", diz. "Para mim, o filme é mais uma celebração ao poder das mulheres do que sobre o universo proletário dos EUA."
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