Colômbia tenta driblar "dores do crescimento"
Ao mesmo tempo em avança na construção de uma política externa de aproximação com investidores e empresários, o governo colombiano tem o desafio de resolver rapidamente sérios problemas internos de infraestrutura e renda, cruciais para a movimentação interna da economia do país.
Colômbia é alvo de empresas brasileiras
Reduzir o deficit de transporte, aumentar a oferta de moradia, formalizar empregos e aumentar o índice de bancarização dos colombianos são pautas da agenda prioritária do governo para colocar o desenvolvimento interno no mesmo compasso da expectativa dos investidores.
Projetos de transporte e infraestrutura urbana tornam o país um gigantesco canteiro de obras --executadas a toque de caixa para suportar o crescimento projetado para os próximos anos.
A principal iniciativa nacional, a estrada Rota do Sol, ligará a capital Bogotá à costa do Caribe-- interligando 39 municípios que representam 26,1% do PIB nacional. O trecho crucial do projeto --de 530 quilômetros-- começa a ser feito neste ano, liderado pela brasileira Odebrecht e com investimentos de US$ 1 bilhão.
Paralelamente, obras de infraestrutura proliferam em Bogotá, a partir do aeroporto Eldorado, que passa por projeto de expansão nos terminais para suportar o crescimento de passageiros --alta de 86% entre 2006 e 2010, a 18,6 milhões de pessoas.
A alta trouxe um efeito inesperado: o aeroporto projetado há mais de três anos ficou pequeno mesmo de ser concluído e obrigará o ministério dos Transportes a rever a estrutura. A capacidade projetada para a obra que seria entregue em partes (2012 e 2014) previa tráfego de 18 milhões de passageiros, número que será 8,3% maior neste ano: 19,5 milhões de pessoas.
Na autopista que leva de Eldorado ao centro de Bogotá, a corrida é contra o tempo para colocar em funcionamento a expansão do sistema TransMilenio, que contempla levar corredores com ônibus articulados a toda a capital --suprindo a demanda por transporte de massa e a inexistência de metrô. É visível por toda a cidade --e 7 dias por semana-- o trabalho de retroescavadeiras e máquinas de pavimentação para acelerar a construção.
As obras dividem especialistas colombianos, especialmente pelo efeito caótico que causa ao trânsito e por serem consideradas a cura para os males de transporte em Bogotá. Segundo eles, não investir em projetos de metrô significa condenar a capital ao atraso.
Problemas da capital incluem ainda deficit de táxis (nos momentos de pico ou em dias de evento, a tarefa de conseguir transporte pode ser bem desafiadora) e a dificuldade em lidar com as enchentes.
DESCONECTADOS
Outras dores do país, que são incompatíveis com a imagem do bom momento da Colômbia vendido ao exterior, incluem a baixa penetração de internet e o baixo índice de bancarização dos colombianos.
Hoje, apenas 4% da população, ou 2,2 milhões de pessoas, tem acesso à internet rápida --ainda que a velocidade de conexão seja bem abaixo da média do que se considera banda larga. A baixa penetração é atribuída principalmente à infraestrutura deficiente em cabos de rede.
No início do mês, o presidente Juan Manuel Santos anunciou um plano imediato para massificação das conexões. O projeto inclui a criação de uma rede nacional de fibra óptica em 700 municípios --que abrigam 90% da população--, acesso sem fio à internet por 3G ou 4G nas principais áreas das cidades e implantação de telecentros em cidades com mais de cem habitantes.
A intenção é quadruplicar o número de colombianos conectados nos próximos anos-- uma tarefa que não será rápida e nem simples, devido principalmente à complexidade dos projetos.
Formalização de emprego e bancarização dos cidadãos são outros dois dos projetos mais imediatos e desafiadores para o governo local. Hoje são 2,4 milhões de desempregados e o acesso bancário atinge apenas 62% da população maior de idade.
"A Colômbia tem muitos trabalhadores informais. Queremos mudar esse cenário e trazê-los para a economia e ao mesmo tempo dar-lhes acesso aos bancos. Em bancarização, a ideia é seguir o modelo do Brasil, em que os índices da população com acesso aos bancos superaram 90%", disse o ministro da Fazenda, Juan Carlos Echeverry em entrevista à Folha.
No projeto do governo está a formalização de 500 mil trabalhadores e o estímulo à contratação de 2,5 milhões de pessoas. A chave para atingir esses números é incentivar as empresas, desonerando principalmente a contratação de mão de obra, como foi declarado na Lei de Formalização do Emprego, recém-assinada.
Outra problema silencioso e que pretende ser endereçado pelo governo é o controle de contas públicas. No fim do mês passado, o ex-presidente Alvaro Uribe sugeriu a criação de um controle de segurança para vigiar os mais de 144 mil contratos públicos em vigor, evitar a corrupção e também garantir a aplicação dos recursos de forma correta às obras.
SEGURANÇA
Uma das bandeiras que o governo colombiano carrega com orgulho nas apresentações da Colômbia no exterior é a da redução dos níveis de insegurança no país.
Os aliados do discurso são os números. Segundo o ministro da Fazenda, Juan Carlos Echeverry, as cidades que representam 80% do PIB, como Bogotá, Cali, Medellín, Bucaramanga, e as cidades caribenhas da Colômbia como Cartagena e Baranquilla já estão mais seguras.
Nos últimos cinco anos, foram presos mais de 10 mil integrantes de grupos paramilitares e o número de organizações criminosas passou de 33 (atuantes em 250 municípios) a sete (hoje em 125 cidades).
"O colombiano está viajando mais, perdeu a insegurança de se deslocar de um lugar para o outro", diz o professor Dirk Boehe, do Insper, que morou durante dois anos em Bogotá e visita frequentemente o país.
Quem olha com cautela para os acontecimentos dentro das cidades, porém, encontra uma situação não tão positiva. Em cidades como Bogotá, casos de furtos a pessoas, a residências e homicídios ainda preocupam --especialmente durante eventos que trazem muitos turistas estrangeiros.
Na última semana, a reportagem da Folha conversou com um grupo de cerca de dez brasileiros que vieram a Bogotá para um evento do setor calçadista. Dois deles foram assaltados.
Em um dos casos, de assalto a mão armada próximo ao pavilhão e à espera de um táxi, houve o roubo de celulares e dinheiro. Em outro caso, a vítima teve a bolsa furtada dentro da exposição. Os criminosos encontraram a chave do hotel e também furtaram os pertences pessoais de dentro do quarto.
Para minimizar os problemas de segurança --e aumentar o número de detidos por mês por crimes, hoje em média de 1.200--, a Prefeitura de Bogotá estuda fatiar a cidade em quadrantes com patrulhas dedicadas a região.
Não se sabe em quanto tempo todas as questões apontadas como "dores do crescimento" poderão ser solucionadas pelo governo colombiano, mas, segundo os especialistas, elas são fundamentais para garantir a estabilidade do país nos próximos anos e provar os resultados do ambiente favorável já vendido aos investidores.
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 26/04/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | +1,50% | 126.526 | (17h38) |
Dolar Com. | -0,93% | R$ 5,1156 | (17h00) |
Euro | -1,26% | R$ 5,4711 | (17h30) |