'Mercado de papéis de empresas é questão de tempo', diz presidente da Anbima
O aumento do juro básico, a taxa Selic, não deve atrapalhar a captação de recursos das empresas por meio de títulos (as chamadas debêntures), na avaliação de Denise Pavarina, presidente da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais).
Como têm mais risco que os títulos públicos, esses papéis também oferecem ao investidor retornos maiores que os da renda fixa do Tesouro.
Com a alta da Selic, os juros dos títulos públicos sobem, o que poderia inibir a emissão das debêntures.
Para Pavarina, que também é diretora-executiva do Bradesco, as medidas do BC para combater a inflação no país não levarão o juro a níveis altos como no passado.
No segmento de infraestrutura, o governo autorizou que 30 projetos, a maioria do setor elétrico, emitam debêntures com isenção de Imposto de Renda a pessoa física. Até agora, porém, apenas cinco deles acionaram o mercado, segundo dados da Anbima.
Eduardo Knapp/Folhapress | ||
Denise Pavarina, presidente da Anbima, no prédio da diretoria do Bradesco, onde trabalha |
A seguir, leia trechos da entrevista exclusiva à Folha:
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Juros e risco
Os investidores têm necessidade hoje de procurar ativos que ofereçam uma rentabilidade maior que a dos títulos do governo justamente em função do cenário de juros mais baixos que no passado.
Essa passou a ser uma busca não só de grandes investidores, como fundos de pensão, mas também de pessoas do segmento de alta renda.
E acredito que esse ambiente deva permanecer. Não vejo a Selic voltando aos níveis altos do passado, mesmo com o esforço necessário do governo de fazer um aperto monetário para controlar a inflação.
Infraestrutura
Sob o ponto de vista do emissor do título, é claro que um aumento de juros, ainda que pontual, retarda um pouco a decisão. Quando um projeto ainda não começou, a incerteza reforça a cautela.
Não acredito, porém, que haja mudança na perspectiva, pois existe no país uma necessidade gigante de financiamento de infraestrutura.
A iniciativa do governo de isentar de Imposto de Renda para pessoas físicas as debêntures de projetos de infraestrutura é um grande incentivo.
Até agora, o mercado de capitais não era uma opção óbvia porque os custos não eram competitivos. Só o BNDES, basicamente, supria como fonte de financiamento.
O mercado de capitais começa a ser mais um instrumento à disposição. É natural que leve um tempo até que ganhe impulso.
Ainda há muitos marcos regulatórios em processo de definição. Eles são decisivos, pois fornecem a segurança jurídica necessária aos projetos, que são de longo prazo.
Quem está fazendo um projeto quer saber quais são os limites, direitos e obrigações.
Mercado secundário
A partir do momento em que a procura por debêntures aumenta, começa a haver uma demanda que vai além dos vencimentos dos títulos, o que, naturalmente, fomenta o mercado secundário [de revenda desses papéis entre investidores].
A padronização do mercado é outro aspecto importante, para que não haja dúvidas dos investidores em relação a perfil e preço dos papéis. Esse trabalho tem sido feito. Também é importante ter um ambiente de negociação que dê transparência aos preços.
Para isso, a Anbima criou o sistema Reúne, já em funcionamento, em que as instituições associadas informam a negociação dos títulos privados até uma hora após a transação. A maioria desses títulos é negociada via Cetip e uma parte menor, via BM&FBovespa. Quanto mais os preços são divulgados, mais conforto as pessoas têm para negociar.
Oportunidades
Há no Brasil diversas oportunidades para projetos de infraestrutura, inclusive o trânsito nas grandes cidades.
A mobilidade urbana é questão crucial. O transporte público é uma dessas grandes oportunidades.
Há muitas possibilidades de investir, mas é preciso o alinhamento de alguns pontos, como política monetária, aparato regulatório e resposta do mercado. Estamos dando condições favoráveis a papéis que antes eram vendidos a um grupo muito pequeno.
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