Auditoria na Foxconn encontra jornada semanal ainda longa demais
A Foxconn Technology, companhia que monta os populares iPads e iPhones para a Apple, realizou avanço substancial quanto à melhora das condições de segurança e trabalho em três de suas fábricas chinesas envolvidas na fabricação de produtos para a Apple. Mas ainda não atingiu o mais difícil dos objetivos: reduzir a jornada semanal média de trabalho de seus operários ao máximo autorizado pelas leis chinesas, anunciou na quinta-feira uma organização mundial de fiscalização.
Os auditores, cujo trabalho foi coordenado pela Fair Labor Association, disseram que a Foxconn ainda estava trabalhando para reduzir a jornada semanal média de trabalho de seus operários ao limite de 49 horas. E os sindicatos nas fábricas inspecionadas, que deveriam defender os interesses dos trabalhadores, continuam dominados pelos dirigentes das empresas, segundo a organização.
Ainda assim, a jornada semanal média de trabalho caiu acentuadamente ante as mais de 60 horas que eram prática comum nos fabricantes terceirizados chineses de produtos para a Apple e outras companhias de tecnologia.
Ainda que os auditores tenham se recusado a oferecer detalhes específicos sobre a jornada semanal de trabalho da Foxconn, a Apple informou que vem se esforçando pela redução das longas jornadas dos operários de seus fornecedores, a maioria dos quais localizados na China.
Em um comunicado postado em seu site sobre as responsabilidades de seus fornecedores, a companhia afirmou que, para mais de um milhão de trabalhadores envolvidos em sua rede mundial de suprimentos e cuja situação havia sido avaliada em 2012, "a jornada semanal média de trabalho era de menos de 50 horas".
Um porta-voz da Apple, Steve Dowling, se recusou a discutir aspectos específicos da auditoria conduzida sob orientação da Fair Labor Association, que segundo ele foi realizada independentemente da empresa. Em comunicado, a Foxconn afirmou que a auditoria confirmava os recentes avanços nas operações da companhia. "Continuaremos a avançar tendo por base esse sucesso, em direção ao cumprimento pleno do código da Fair Labor Association", a companhia afirmou.
Mas Dowling disse que a Apple vinha trabalhando de perto com seus fornecedores e conduzindo fiscalização por conta própria a fim de melhorar as condições nas fábricas que montam seus produtos, e a empresa vem postando relatórios públicos sobre os avanços obtidos.
A Foxconn, parte da Hon Hai Precision Industry, de Taiwan, emprega cerca de 178 mil operários nas três fábricas inspecionadas. A companhia tem um total de 1,2 milhão de trabalhadores em fábricas que produzem itens para a Apple, Hewlett-Packard, Dell, Microsoft e outras empresas de tecnologia.
A Foxconn vem sofrendo forte escrutínio há anos por conta das condições de trabalho em suas fábricas. Investigações do "New York Times", de grupos externos e da equipe de fiscalização de responsabilidades de fornecedores da Apple identificaram horas extras excessivas, superlotação nos espaços de trabalho, trabalhadores menores de idade e disposição indevida de resíduos tóxicos.
Acidentes industriais causaram ferimentos e mortes entre os trabalhadores da Foxconn, e a companhia também passou por uma onda de suicídios de trabalhadores.
Ativistas sindicais e defensores dos direitos dos consumidores pressionaram a Apple, uma das companhias mais lucrativas do planeta, a fazer mais para melhorar as condições dos operários que montam seus produtos. A renda média mensal dos operários da Foxconn que montam produtos da Apple é de US$ 500, no momento.
Apple aderiu à Fair Labor Association em janeiro de 2012, e solicitou que a organização auditasse seus fornecedores, começando pela Foxconn. A organização trabalhista vem inspecionando periodicamente fábricas da Foxconn em Guanlan, Longhua e Chengdu, desde fevereiro de 2012, e entrevistando milhares de trabalhadores. A Apple cobre o custo das auditorias.
Depois da primeira inspeção, Apple e Foxconn chegaram a acordo sobre um plano de ação com 360 pontos, a ser completado até 1º de julho de 2013. Até janeiro, 98% da lista já havia sido implementada, informa o relatório da organização.
A maior parte dos pontos consistia de "questões rotineiras", disse Auret van Heerden, presidente da Fair Labor Association, em entrevista na quinta-feira. "Esses aspectos foram resolvidos rapidamente".
Mas a Foxconn também identificou problemas mais substantivos, disse Van Heerden. Por exemplo, quanto à segurança contra incêndios, a companhia criou novas rotas de escape e eliminou gargalos, depois que os auditores solicitaram testes de evacuação de edifícios em momentos de virada de turno, os horários em que as máquinas ficam mais lotadas. "Estávamos deliberadamente procurando problemas, de certa forma", ele disse.
Van Heerden apontou que a Foxconn também reformulou muitos de seus processos, entre os quais substituir operários por robôs no polimento do revestimento traseiro de alumínio do iPad, com o uso de água para capturar a poeira resultante. Uma explosão de pó de alumínio na fábrica da Foxconn em Chengdu, em maio de 2011, matou três operários e causou ferimentos a uma dúzia de outros.
Críticos da Fair Labor Association e da Foxconn disseram que a mais recente auditoria desconsiderava problemas apontados por outros investigadores, tais como horas extras não pagas e o uso de estagiários não remunerados como operários pela Foxconn.
"No geral, a avaliação da Foxconn pela Fair Labor Association continua a ser injustificavelmente rósea", afirmou Scott Nova, diretor executivo do Workers Rights Consortium, um grupo bancado por universidades que monitora as condições de trabalho em fábricas do setor têxtil em todo o mundo, em mensagem de e-mail.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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