Fundador da Dell se inspira no passado para vencer batalha por controle
Michael Dell está lutando por uma companhia que muitos veem como condenada.
Ainda que a empresa que leva seu nome tenha revolucionado a produção de computadores, ficou para trás na transição empresarial para os tablets e smartphones e também perdeu a transição da computação empresarial para as centrais de dados e redes em nuvem.
Ao tentar fechar o capital de sua empresa, Dell de certa maneira está tentando fazer com que o relógio ande para trás.
"A tecnologia da informação se movimenta mais rápido que qualquer outra coisa --nem mesmo o mundo da moda ou do varejo muda tanto", diz Jeffrey Sonnenfeld, professor de gestão na Universidade Yale que diz ter ações da Dell. "Como manter a revolução sempre jovem?"
Dell, 48, recusou entrevista para esta reportagem afirmando que seus advogados o haviam aconselhado a não falar com a imprensa antes da quinta-feira, quando os acionistas da Dell votarão para decidir se aceitam sua oferta de US$ 13,65 por ação, ou US$ 24,4 bilhões pela empresa.
Mas amigos e assessores do empreendedor dizem que ele está tentando proteger seu legado.
"Esse cara não quer ter seu nome em uma empresa que as pessoas vejam como irrelevante", disse Marius Haas, que comanda as vendas da Dell a grandes empresas.
Quatro anos atrás, Haas estava trabalhando para a Hewlett-Packard quando Dell o convidou para um jantar no qual lhe ofereceu emprego em sua companhia. Durante o jantar, Haas mencionou uma pesquisa entre empresas segundo a qual a Dell havia caído do segundo para o 13º lugar em um ranking das companhias com as quais manter uma parceria era essencial. E Dell ficou visivelmente abalado com a informação, ele conta.
"Ele tem muito orgulho daquilo que fez", disse Haas. "Perguntei como pretendia agir a respeito, e ele disse que 'é meu nome que está no prédio. Vou resolver esse problema'".
Mas para tanto, Dell precisa encarar Carl Icahn, investidor cuja especialidade no passado era desmantelar companhias em busca de lucros e que realizou grandes lucros com a TWA, RJR Nabisco e Motorola, entre muitas outras empresas.
INFERIOR
Icahn vem argumentando que Dell está tentando comprar a companhia por valor inferior ao que ela tem, e argumenta que a Dell deveria recomprar um bilhão de suas próprias ações ao preço de US$ 14 cada e reorganizar o conselho do grupo.
Na sexta-feira, Icahn melhorou sua oferta, com um pacote cujo valor ele estimou entre US$ 15,50 e US$ 18 por ação. "A Dell é uma companhia valiosa", ele declarou em, entrevista. "Os computadores estão mudando, mas não vão desaparecer".
Mas no começo da semana, uma consultoria cuja especialidade são batalhas de controle acionário expressou apoio a Michael Dell, afirmando que "o risco talvez não seja o de que ele esteja tentando extrair vantagens indevidas, mas sim de que esteja aceitando o perigo de tentar pegar a faca pela lâmina".
Os planos de Dell para a companhia ecoam a maneira pela qual ele a construiu, originalmente --o retorno de um homem de meia-idade às ideias que tinha aos 19 anos.
A sacada de Dell naquele momento foi a de que era possível obter margem de lucro saudável montando computadores personalizados para os mercados pessoal e empresarial-- oferecendo aos compradores escolhas sobre coisas como memória, tamanho de disco rígido e dimensões do monitor.
Ele deseja aplicar o mesmo princípio às necessidades modernas de computação empresarial, mas dessa vez vendendo os componentes essenciais de um sistema de computação em nuvem - redes, servidores e armazenagem, e mais o software necessário a que tudo isso trabalhe harmoniosamente.
COMPUTADORES
Os computadores provavelmente teriam menor presença na nova Dell. Os planos dele quanto aos aparelhos móveis não estão claros.
Dell afirma que seu plano prejudicará a receita em curto prazo, e com isso provocará queda nas ações. É por isso, afirma, que é preciso fechar o capital da companhia, o que permitiria uma reforma de suas operações sem a pressão de cumprir metas trimestrais de resultados.
Reinventar a Dell para a era móvel não será fácil.
"Teremos uma consolidação brutal em nosso setor", disse John Chambers, presidente-executivo da Cisco Systems e outro veterano da tecnologia. "Se Michael não conduzir sua companhia a uma transformação, ele será como uma equipe esportiva perdedora que tenta sempre a mesma jogada. As chances de sucesso não são causa de otimismo".
Dell deixou o comando das operações cotidianas de sua companhia em 2004, mas manteve a presidência do conselho, confiante em que seu legado estava seguro sob o comando de um sucessor escolhido a dedo para a presidência executiva do grupo.
Ele retornou ao controle executivo em 2007, depois que a companhia foi apanhada em um escândalo contábil que resultou em multas milionárias para ele e para a empresa.
Um ano antes, a reputação da Dell pela qualidade de seus produtos, um dos marcos da fama da companhia, começou a sofrer quando surgiram vídeos na Internet que mostravam laptops Dell sofrendo combustão espontânea devido a baterias defeituosas. A reputação impecável do serviço de assistência ao consumidor da empresa também sofreu quando foi transferido ao exterior.
RETORNO
Desde sua volta, Michael Dell não tem muitos resultados a exibir, apesar dos US$ 13 bilhões que investiu em aquisições para reconstruir a empresa, por exemplo a da Quest Software, cuja especialidade é software de gestão de centrais de processamento de dados, ou a da Force 10, uma companhia de redes. As ações da empresa têm valor 75% inferior ao de 2000, a despeito de gastos de bilhões de dólares na recompra de ações.
Ao longo do caminho, os executivos da Dell foram generosamente recompensados. As opções de ações concedidas a Michael Dell lhe valeram lucros de mais de US$ 650 milhões.
Agora, o patrimônio pessoal de Dell equivale a US$ 15 bilhões, graças à companhia que ele fundou quando ainda estava na universidade. Ele fez investimentos em toda espécie de negócios, da maior companhia norte-americana de jardinagem à rede de restaurantes Applebee's. Dell comanda uma fundação de caridade e este ano doou US$ 50 milhões para criar a Dell Medical School na Universidade do Texas em Austin, a instituição que ele abandonou antes de se formar a fim de criar a Dell Computer.
Ainda assim, a questão para ele é: será que seu nome será lembrado como o de Bill Gates ou Dave Packard, que participaram da criação de gigantes setoriais que duraram gerações? Ou ele e a companhia que fundou se tornarão ainda mais um lembrete de que, nesse setor veloz, poucas coisas duram para sempre?
"Somos todos prisioneiros dos mundos que criamos, e é incrivelmente difícil mudar uma empresa", diz Marc Benioff, presidente-executivo da produtora de software Salesforce.com e velho amigo de Dell. "Ter seu nome em um computador, vê-lo sempre que você vai ao cinema, ser visto como líder mundial em Davos por conta disso - Michael tem tudo isso sempre presente em sua consciência".
Tradução de Paulo Migliacci
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