Dólar alto já afeta inflação e eleva preço de pão e leite
O dólar mais alto até pode beneficiar as exportações brasileiras, mas já mostra seu efeito perverso sobre a inflação e leva ainda mais incertezas ao Banco Central num cenário em o IPCA segue próximo do teto da meta do governo.
Pela primeira vez, o índice de agosto explicitou o peso do câmbio sobre os preços. Itens como farinha de trigo, cerveja, macarrão, pão doce e dolo sofre com o custo mais elevado de matérias-primas agrícolas importadas ou cujos preços são cotadas em dólar --como trigo, cevada, milho e outros. Todos esses itens ficaram entre os maiores aumentos do grupo alimentação.
Os dois, porém, de maior peso na cesta de consumo e com impacto do câmbio são o pão francês e o leite, com alta de 3,75% e 1,56% em agosto, segundo o IBGE.
O pão sofre efeito do custo maior do trigo, importado em sua maioria. Já o leite sente o reflexo do reajuste das rações amimais, que usam grãos cotados em dólar.
Segundo Eulina Nunes dos Santos, coordenadora de Índices de Preço do IBGE, o índice de agosto mostrou o impacto do câmbio também na alimentação fora de casa, já que comerciantes repassaram o custo de aumentos como o do pão. O café da manhã subiu 1,53% em agosto. O lanche aumentou 0,69%.
A economista do IBGE diz que a pressão cambial sobre os preços dos alimentos só não é mais intensa graças à "imensa" safra de grãos do país neste ano, que tem uma aumento previsto de 16%. "A maior oferta compensa de algum modo e em alguns produtos o dólar mais caro."
É o caso dos derivados de soja, cuja colheita deve crescer 23%, segundo a última estimativa do IBGE. O óleo de soja, por exemplo, caiu 1,98% em agosto. A boa safra de cana ditou também os preços menores do açúcar _queda de 0,85% em agosto. Determinou ainda a retração do preço do etanol no bomba dos postos --1,16%-- e indiretamente no custo da gasolina (-0,15%), que recebe uma adição de 25% de álcool.
PREÇOS MONITORADOS
Com aumentos mais moderados de gasolina, álcool, tarifas de ônibus (com a retirada dos reajustes pós-protestos) e energia elétrica, os chamados preços monitorados, que sofrem ingerência do governo, são a grande "âncora" da inflação neste ano, com alta de apenas 1,28% em 12 meses --abaixo do IPCA de 6,09%.
Já os serviços, estimulados por custos mais elevados e a renda ainda em expansão (embora já não no mesmo ritmo de 2012), acumulam alta de 8,60%, superando a inflação média.
PERSPECTIVAS
Para setembro, o LCA projeta uma alta de 0,42% do IPCA na esteira de "relevantes pressões" de farinhas, féculas e massas, panificados e carnes --itens que sofrem impacto do câmbio sobre as matérias-primas e insumos agropecuários.
Uma má notícia veio do IGP-DI, índice da FGV divulgado nesta sexta-feira que pesquisa os preços tanto no varejo como no atacado e praticados por produtores agropecuários e da indústria --esses dois últimos com peso no maior no indicador (60%).
Em agosto, a variação de 0,46% ficou acima do 0,14% registrado em julho por conta especialmente do IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) agropecuário (de -0,27% para 0,36%), que sofre os efeitos do dólar mais alto. Em relação ao IPA industrial, sua variação também voltou a aumentar (de 0,37% para 0,67%).
Ambos os dados sinalizam que a inflação ao consumidor pode acelerar nos próximos meses, dependendo do nível de repasse desses custos mais elevados aos preços praticados pelo comércio.
Se o câmbio joga contra, por um lado, a renda e o emprego em desaceleração, o crédito mais contido (diante de juros mais altos) e os sinais claros de moderação do consumo, de outro, podem impedir que os aumentos no atacado cheguem numa intensidade mais forte ao consumidor, dizem analistas.
Alimento | Variação (em%) |
---|---|
Leite longa vida | 3,75 |
Farinha de trigo | 2,68 |
Cerveja | 2,63 |
Pão de queijo | 1,63 |
Pão francês | 1,56 |
Café da manhã* | 1,53 |
Pão doce | 1,43 |
Macarrão | 1,28 |
Leite em pó | 1,19 |
Bolo | 1,02 |
Refeição* | 0,76 |
Lanche* | 0,69 |
Cerveja fora de casa | 0,56 |
*Itens de alimentação fora de casa, servidos em bares, restaurantes e similares
Fonte: IBGE
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