Abilio Diniz abre mão do conselho do Pão de Açúcar
O empresário Abilio Diniz deixou a presidência do conselho do Pão de Açúcar, empresa fundada por seu pai.
A saída, anunciada um dia antes de a empresa completar 65 anos, coloca um ponto final na disputa com o sócio francês Casino, uma das histórias mais ruidosas do país.
Abilio, cuja imagem pública se confundia com o Pão de Açúcar, torna-se agora apenas mais um acionista e passa a se dedicar à presidência do conselho da BRF, dona das marcas Sadia e Perdigão.
O armistício entre Abilio e Jean-Charles Naouri, presidente do Casino, foi selado nesta sexta-feira, em Paris, com ajuda de William Ury, professor de Harvard e especialista em solução de conflitos.
"É com emoção que renuncio. Vamos virar a página e tocar para a frente", disse Abilio, em coletiva de imprensa. Naouri, que estava em São Paulo, não participou.
O acordo selado tem três pontos: a saída de Abilio da presidência do conselho, a revogação do acordo de acionistas e o fim da holding Wilkes e a desistência de todas as disputas judiciais.
Para acelerar em menos de um ano sua saída, Abilio melhorou as condições de troca de ações ON (com direito a voto) em PN (sem direito a voto) e acabou com a cláusula de não competição.
Ao invés do desconto de 0,91 ON por 1 PN previsto, a troca de ações foi de 1 para 1. O negócio rendeu 7% de ações PN do Pão de Açúcar ao empresário. A fatia de Abilio agora é de 8,5%.
A briga entre Abilio e Naouri se arrasta desde 2011, quando o brasileiro tentou comprar as operações do Carrefour no Brasil. A estratégia impediria que os franceses assumissem o controle do Pão de Açúcar em 2012.
A operação enfureceu o Casino, que alegou quebra de contrato e recorreu à arbitragem internacional. A repercussão negativa foi muito forte e o BNDES, que considerava financiar a aquisição do Carrefour, desistiu.
DETONADORES
Além de dois anos de conflito, a presença de Abilio nos conselhos do Pão de Açúcar (maior rede varejista) e na BRF (maior produtora de alimentos processados) começou a gerar dúvidas sobre conflito de interesses.
O empresário fez uma consulta espontânea ao Cade, órgão de defesa da concorrência, e foi surpreendido com o volume de questionamentos do órgão, que indicaria um parecer negativo.
Questionado sobre o assunto, Abilio disse que "o Cade não foi um problema".
Os dois lados também quiseram evitar "lavar roupa suja" em público.
A partir da próxima semana, começariam as audiências do processo de arbitragem movido pelo Casino.
Segundo a Folha apurou, Abilio temia criar constrangimentos para o governo, já que o BNDES esteve envolvido no episódio. Em duas décadas, a empresa comandada por Abilio foi do fundo do poço à liderança do varejo no país. Nos anos 80, demitiu 20 mil funcionários e fechou lojas. Em 1999, o Casino entrou na empresa e, em 2000, o Pão de Açúcar se tornou líder.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Leia abaixo a íntegra da carta de renúncia de Abilio Diniz:
"Queridos amigos,
Em 7 de setembro de 1948 meu pai, Valentim dos Santos Diniz, fundou o Pão de Açúcar. Desde então dediquei a minha vida à construção deste sonho. Hoje, exatos 65 anos depois, encerro um importante ciclo dessa história de sucesso para a empresa, para a nossa família e para mim.
É com emoção que renuncio à presidência do Conselho do Grupo Pão de Açúcar. Tenho comigo sentimentos de gratidão, felicidade, realização, respeito e orgulho por essa empresa, por essa gente e por esse país.
Na véspera do dia que simboliza a liberdade do Brasil, eu também abraço a minha liberdade para continuar perseguindo os meus sonhos. Como costumo dizer, quero hoje ser melhor do que ontem e, amanhã, melhor do que hoje.
No Pão de Açúcar sempre buscamos a eficiência, o crescimento e o êxito, com muito trabalho e dedicação, e assim construímos uma empresa única, admirada no Brasil e no mundo. Perseguimos sempre a felicidade e não é à toa que o Pão de Açúcar tem como slogan "Lugar de Gente Feliz".
Levo comigo os desafios, as conquistas, as derrotas, as vitórias e, acima de tudo, os aprendizados. É claro que num momento como esse também sinto tristeza; tristeza pela saudade que terei da empresa, das pessoas, das lojas e dos símbolos que tanto amo.
Mas assim é a vida. É preciso ter sabedoria para aceitar as mudanças. É preciso se reinventar e ir em frente. Seguirei a minha vida empresarial fazendo aquilo que sempre fiz, com coragem, correção, alegria e determinação, descobrindo e aceitando novos desafios. Peço a Deus que continue me dando saúde e iluminando o meu caminho, assim como o de vocês.
Agradeço a todos que compartilharam comigo esse sonho, a começar pelos meus pais, Valentim e Floripes, meus irmãos, minha mulher, Geyze, meus filhos Ana Maria, João Paulo, Adriana, Pedro Paulo, Rafaela e Miguel, e aos que, ao longo desses 65 anos, trabalharam e colaboraram com o Pão de Açúcar - são milhares de pessoas que dedicaram suas vidas para fazer dessa empresa realmente um lugar de gente feliz. Agradeço também a todos os consumidores e parceiros que acreditaram em mim e no Pão de Açúcar, mesmo nos momentos mais desafiadores da nossa história.
Sinto-me realizado por liderar o Grupo Pão de Açúcar por todos esses anos. Sinto que contribuí com o meu trabalho e a minha liderança e deixar esse legado me faz muito feliz.
Os últimos dois anos não foram fáceis e, hoje, com alegria, encontramos uma solução suficientemente boa para todos.
Desejo ao Grupo Casino e aos acionistas do Pão de Açúcar sucesso na condução dessa empresa, que ela continue crescendo com a sua gente, a sua cultura e os seus valores, contribuindo para o desenvolvimento do nosso país e sendo sempre um lugar de gente feliz.
Muito obrigado.
Abilio Diniz"
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