Porto do Açu sairá, com Eike ou com sua participação reduzida, diz Firjan
Reeleito para a presidência da Firjan (Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro), cargo que ocupa há 18 anos, o empresário Eduardo Eugênio Gouvêa Vieira, tem como meta continuar a fazer o que vinha fazendo: ajudar a incentivar a vinda de investimentos para o Estado do Rio de Janeiro.
Ele não esconde o otimismo em relação às perspectivas para o Rio, mesmo ainda esperando a conclusão de obras que começou a negociar no início da sua gestão, como o Arco Rodoviário Metropolitano, que irá desafogar o trânsito na entrada da cidade.
Ele também leva fé na conclusão do Porto do Açu, "obra fantástica que vai acontecer nos próximos anos", e evita falar sobre o mês e meio que passou na empresa de Eike Batista, chamado para um projeto que não chegou a decolar em meio à crise do grupo EBX.
Nos próximos três anos o executivo quer entregar dois projetos que estão em construção: a Casa Firjan da Indústria Criativa, em Botafogo, e a Casa Sesi Matemática, na Barra da Tijuca.
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FOLHA - O Rio de Janeiro estava no foco dos investimentos e das notícias positivas, com UPPs, grandes eventos, projetos como o Porto do Açu, de Eike Batista, mas parece ter entrado em uma nova rota, com muitas críticas ao governador do Estado, Sérgio Cabral, redução nos planos do Eike. O que aconteceu?
EDUARDO EUGÊNIO GOUVÊA VIEIRA - O Rio de Janeiro flutua de acordo com o Brasil. Todos nós estamos frustrados com a velocidade dos investimentos. O Arco Rodoviário Metropolitano do Rio de Janeiro, empreendimento que nasceu na Firjan, já era para ter ficado pronto em 2012, mas ficou para o ano que vem. Atrasou porque é o Brasil, o arcabouço da administração publica brasileira, herdado dos portugueses é feito para não funcionar. Quando nós colocamos na mesa (o projeto do Arco) era no governo do Marcelo Alencar (1995 a 1999).
O senhor ficou frustrado com a pisada no freio do grupo EBX? O senhor, que já esteve inclusive no grupo por um mês e meio, acredita que o Porto do Açu será concluído?
A frustração é o tempo. O Eike estava crente que o Açu seria verdadeiro este ano. Isso transmite uma inquietação, mas é uma obra fantástica, que vai acontecer nos próximos anos, o Eike estando lá ou com redução da participação dele, porque é uma obra mais paradigmática para o Rio e para o Brasil. Mas o Açu precisa ser ligado ao Brasil pela ferrovia, que tinha que ter sido licitada no primeiro semestre (2013). O modelo não decolou e as autoridades estão dizendo que vão licitar agora. A ferrovia virá do interior de Mato Grosso e de Minas Gerais, trazendo minério e grãos. Tenho certeza que em algum momento o Porto do Açu vai andar, não tem opção de não funcionar. No fundo deveria ser uma obra púbica, mas ele (Eike) fez e vai deixar esse legado.
E a desistência da Foton (empresa de caminhões chinesa), que preferiu o Rio Grande do Sul?
Tudo bem, a Foton foi para o Rio Grande do Sul, mas ganhamos a Nissan. Tive várias reuniões com Carlos Gross, presidente da Nissan e Renault. A Nissan já está em obras, a Peugeot já é antiga aqui, mas nos envolvemos nas negociações desde o nascedouro. Também trouxemos a [siderúrgica] CSA. Para atrair a gente oferece formação de mão de obra.
Então a atuação da Firjan é na formação de mão de obra?
Nossa agenda é extensa e atende da pequena empresa até a de grande porte. Fizemos há pouco um seminário importante, sobre o novo marco da mineração, onde estavam empresários pequenos, de areia, cimento, cerâmica vermelha, a Vale, pessoal do carvão. Nós prestamos serviço de acordo com a demanda.
E sua relação com o governador Sergio Cabral, que vem sendo alvo de manifestações quase diárias para que renuncie do cargo?
A minha relação com o governo do Estado é ótima, porque por somos uma casa apartidária, que se dá bem com todo o poder, federal, estadual e com os 92 municípios. Só podemos transitar bem com essas autoridades em função do nosso apartidarismo. As manifestações acontecem no país inteiro, tem os vândalos e tem a manifestação pacífica. Mas isso não está tocando no astral do Rio. Nós antes tínhamos uma cidade totalmente tutelada pelo crime organizado nas comunidades que nos cercavam. Agora não, há um mês tivemos 3 milhões de pessoas em Copacabana louvando a paz, a esperança (Jornada Mundial da Juventude). Se comparar com as manifestações, é uma avalanche de pessoas do bem querendo política com P maiúsculo. E temos eventos vindo aí, obras acontecendo. Pode ser que uma pessoa ache que a linha do metrô deveria ir para ali ou para lá, mas o importante é que estão fazendo (a linha 4 do metrô).
A entidade tem percebido alguma redução dos investimentos?
Os investimentos estão acontecendo. Temos um trabalho chamado Decisão Rio, divulgado a cada três anos, com as informações que captamos no nosso radar para os próximos três anos. O último estudo, divulgado ano passado, apontam investimentos recordes para os próximos anos.
Quando uma empresa deixa de vir para o Estado, como a Foton, não demonstra que algo pode ter mudado?
Está havendo sim uma onda negativa, mas no Brasil todo, em função da questão do custo de vida. Não podemos concordar que o governo trabalhe com a faixa superior da meta de inflação, achar que chegar aos 6,5% é normal. A nossa banda já é bem alta, de 4,5%, outros países acham 3,5% uma barbaridade. E os sinais que a equipe econômica transmite são muito ruins. Impedir os municípios de aumentar as tarifas de ônibus não é razoável, represar o preço da gasolina também não é razoável. Isso prejudica a Petrobras, o que não é bom para os atores que precisamos atrair. Fica a Petrobras a vender ativos importantes e não se deixa que ela arrecade. A Petrobras está subsidiando o Brasil, subsidia quem tem automóvel, mas quem paga são os que têm e os que não têm carros.
Em sua avaliação, o Rio continua na agenda global?
O Rio é a foto do Brasil no exterior. Somos nós que aparecemos na capa do "The Economist" quando falam de Brasil. Há um acúmulo de insatisfação contra preços, contra a vida pública brasileira. A juventude está começando a ler jornal, a classe C quer ter esperança e voz na política, não quer só casa e comida. Quando lê os jornais, a juventude não se sente representada pelos nossos eleitos. E os sinais que eles passam é de que não estão percebendo o que as ruas estão falando. Temos que condenar os vândalos, mas é bom que a insatisfação seja revelada nas ruas, de forma pacífica. Há manifestações em Paris. Isso acontece no mundo inteiro e é sinal de maturidade da sociedade.
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