Problemas da economia não são difíceis de resolver, diz presidente do Grupo Abril
A capa da edição desta semana da "Economist", com o título "Será que o Brasil estragou tudo?", não precisa necessariamente ser levada a ferro e fogo: as condições econômicas atuais podem ser menos favoráveis, mas os problemas brasileiros não são tão difíceis de resolver. A solução passa por maior agilidade do governo no sentido de captar investimentos privados.
"Ainda não chegamos lá, essa compreensão está atrasando, é um diálogo fundamental. O governo precisa do setor privado e o setor privado precisa de condições adequadas".
A afirmação é do executivo Fabio Barbosa, 58, que ganhou notoriedade após sua gestão à frente do banco ABN-Amro. Barbosa também presidiu a Febraban (2007) e o Santander (2007- 10).
Desde 2011, ele preside o grupo Abril e mais recentemente, há três meses, sucedeu FHC, acumulando também a presidência da Fundação Osesp, Organização Social que mantém contrato com o governo do Estado, para gestão da orquestra sinfônica e da Sala São Paulo.
O propósito da entrevista a seguir era falar sobre os desafios da Osesp. Após meia hora, a conversa enveredou pela economia brasileira, as perspectivas dos grandes grupos de mídia e o momento atual da editora Abril.
OSESP
Os horizontes se abriram, na medida em que a orquestra se tornou mais respeitada. O desafio agora é definir quais são os objetivos daqui em diante. Isso passa pela qualidade da orquestra, valorização do músico, e disseminação da cultura, como o evento reunindo cerca de 12 mil pessoas em Santos, ocorrido ano passado. A Osesp não deve ser popularizada - no sentido de abrir mão de sua excelência -, nem elitizada. Hoje ela obtém 43% do seu orçamento por conta própria. Em 2006, este percentual era de 24%.
CONTEXTO ECONÔMICO
O Brasil opera em condições menos favoráveis que nos primeiros anos deste século. Os preços das commodities e as relações de troca se deterioram, refletindo na balança comercial e na própria correção cambial.
Há décadas convivemos com um problema de baixo investimento, dada a limitada capacidade de investimento do Estado. Agora o governo está se abrindo para concessões no setor privado em infra-estrutura, que é justamente o maior gargalo.
Zé Carlos Barretta/Folhapress | ||
Fabio Barbosa, presidente do Grupo Abril |
Vejo com clareza uma situação de tentativa e erro, para se descobrir qual o modelo que vai funcionar. Os leilões e concessões mais recentes mostram que o governo ainda busca equilíbrio entre a proposta de atrair capital privado sem onerar demasiadamente o usuário da infra-estrutura que será construída.
Capa desta edição da Economist (em 2009 a revista publicou uma capa com a imagem de Jesus Cristo Redentor decolando no Rio de Janeiro, sob o título "O Brasil decola"; nesta semana, publicou capa com o Cristo dando uma pirueta para baixo, intitulada "Será que o Brasil estragou tudo?").
Brinco que passei anos da minha vida dizendo que o Brasil não era tão ruim, isso nos anos 90. Depois, no começo do século,comentava que o Brasil não era tão bom quanto se dizia. E agora estou dizendo que o país não está tão ruim quanto se diz. Sempre houve exagero para um lado e outro.
CRESCIMENTO E INFLAÇÃO
A economia cresceu, incorporando um contingente importante de novos consumidores, o que nos leva a este gargalo.O Brasil tem problemas, mas que não são tão difíceis de resolver. O tema central é a produtividade, pois estamos vivendo o chamado bônus demográfico, com um crescimento da população em idade de trabalho maior que jamais no passado. Nem tantos aposentados e nem tantos jovens. Portanto seria o momento certo para o país crescer e enriquecer, antes de envelhecer. Daí o incômodo com o crescimento baixo. O baixo crescimento preocupa porque o momento demográfico requeriria um crescimento maior.
ATUAÇÃO DO GOVERNO
O governo identificou a necessidade de trazer o setor privado para investir. Mas ainda não houve um entendimento sobre as condições aceitáveis para que saia o investimento. Ainda não chegamos lá, essa compreensão está atrasando, e é um diálogo fundamental. O governo precisa do setor privado e o setor privado precisa de condições adequadas.
Nas próximas semanas e meses, saberemos qual a condição do governo na atração de capital privado, por conta dos leilões e concessões que estão por vir em estradas, ferrovias, pré-sal. Os portos mostraram uma abertura muito grande para o setor privado.
POLÍTICA ECONÔMICA
O que vejo agora é uma tentativa de equilibrar um cenário internacional desfavorável com uma baixa taxa de crescimento mas também com um nível baixo de desemprego. O BC tateou esse equilíbrio mudando os patamares dos juros, para depois entender que teriam que ser mais altos. E o BC voltou com coragem para reequilibrar. É uma leitura de mercado difícil de fazer, até o FED teve leitura volátil.
PERSPECTIVA
Diferentemente de alguns países com dificuldade enorme em buscar demanda em uma sociedade que já não consome tanto, o Brasil sempre teve um problema oposto. Aqui é preciso conter o potencial de consumo às vezes para evitar superaquecimento. E há uma demanda reprimida gigantesca na infra-estrutura. Diferentemente de outros, sabemos nosso caminho.
Não temos aeroportos e estradas vazias, temos é necessidade de novos aeroportos e estradas. E o que não temos é o capital, a questão é como gerar mais capital.
MÍDIA
A tecnologia mudou mas o conceito continua o mesmo. O papel da mídia enquanto instituição de informação e credibilidade, com muita pesquisa e apuração por parte dos jornalistas, continua inalterado. Agora, chegar ao leitor é algo que mudou, e temos que nos preparar para estar onde ele quiser, com a plataforma e linguagem adequada. Nunca se leu tanto como atualmente, mas de diferentes maneiras.
PUBLICIDADE
Temos tido um crescimento em assinaturas, na ordem de 3%. É um voto de confiança. Vendas em bancas tem sofrido, está a -5%. Mas o problema maior não é a circulação, e sim como atender anunciantes que buscam novas formas para chegar ao consumidor. No meio revistas a publicidade caiu 7%.
FIM DO PAPEL
O problema não é de circulação ou aceitação das marcas. Acredito que o papel sempre vai existir porque tem leitores que querem. Mas este que é o ponto, recentemente ouvi de um editor que nossa responsabilidade agora é de sermos agnósticos com relação à plataforma [expressão originalmente cunhada pelo publisher do jornal "New York Times", Arthur Sulzberger Jr.].
Não importa se é papel, tablet ou móvel. O que importa é que existe gente interessada em se comunicar com a marca, que se identifica com a curadoria deste ou daquele título. O papel de informar e entreter com qualidade e responsabilidade continua existindo, e essa demanda parte da sociedade. A mídia não tem que se reinventar, ela tem que se adaptar às novas tecnologias e oportunidades.
MODELOS
O que tem que trabalhar é para que o tablet não só replique o que se faz no impresso, pois os recursos de interatividade são muito maiores. Não existe bala de prata. Há vídeos de altíssima qualidade, o leitor quer dar sua opinião, e assim por diante.
O Google às vezes é concorrente e às vezes parceiro. Ele usa seu banco de dados proporcionando ao anunciante uma comunicação mais focada, com menos desperdício. No momento estamos trabalhando um grande projeto com recursos do Google e com o big data, que é a grande revolução que está acontecendo.
EDITORA ABRIL
Estamos exatamente neste ponto, de buscar o digital como forma de se conectar com a sociedade.
Identificamos grande aceitação de nossos produtos, mas a forma através da qual esse produto chega ao leitor ou anunciante tem que ser atualizada. Não em função dos riscos que a tecnologia representa, e sim das oportunidades.
Em suma, as mudanças estão acontecendo, mas não em nossa missão, que é de informar. Nesse momento de transição, fizemos os ajustes necessários para gerar recursos e investimento no futuro. É um momento de transição: as coisas não são como eram mas não são ainda como serão. A gente sofre um pouco. O orçamento está mais enxuto, como em todo setor da mídia.
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Atualizado em 25/04/2024 | Fonte: CMA | ||
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