Análise: Em lugar de propulsor, setor bancário está se tornando um freio para a economia
Em 1558, Thomas Gresham, agente financeiro da rainha Elizabeth 1ª, disse que o "dinheiro ruim expulsa o bom"; frase que o tornou conhecido até os dias de hoje.
Bancos privados evitam risco e preservam lucro em 2013
Observou que, se duas moedas têm valor legal idêntico, mas com conteúdos metálicos diferentes, aquelas com maior densidade de metal nobre seriam entesouradas. Algo parecido ao que está acontecendo com os bancos privados no Brasil.
A pressão política por juros bancários mais baixos, sem haver uma redução de custos (leia-se compulsórios draconianos, tributação distorcida e regulação anacrônica), induziu as instituições a uma escolha óbvia: se não se pode aumentar o preço, a alternativa é diminuir o risco.
Os números do setor ilustram o ponto.
Os balanços divulgados pelos bancos nos últimos dias e a nota à imprensa de operações de crédito publicada ontem pelo Banco Central mostram um crescimento maior no consignado, no crédito imobiliário e em empréstimos a grandes empresas em detrimento a operações com risco de morosidade maior.
Literalmente, os financiamentos bons são priorizados e os de risco elevado não são renovados.
O custo social dessa prática é alto, especialmente para o pequeno tomador. Em parte, os bancos públicos estão aliviando o problema, mas não o suficiente.
Uma em cada cinco famílias tem contas em atraso e R$ 1 em cada R$ 8 devidos no cheque especial ou no financiamento de automóveis está em mora.
É um absurdo numa economia que está em pleno emprego observar uma inadimplência tão elevada nas camadas sociais mais baixas.
Mais grave é como está afetando o país. O setor, que tem as condições de ser um propulsor da economia, está se tornando um freio.
A relação crédito/PIB dos bancos privados no Brasil deveria estar crescendo, uma vez que está bem aquém do potencial; entretanto, caiu nos últimos 12 meses de 27,85% para 27,41%. É um fato alarmante.
A realidade mostra, por um lado, que os bancos privados estão seguindo à risca práticas históricas para preservar sua solidez e rentabilidade. Por outro, mostra que a política bancária é inadequada. Urge sua reformulação.
ROBERTO LUIS TROSTER, doutor em economia, foi professor da USP e da Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e economista-chefe da Febraban (Federação Brasileira de Bancos).
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Atualizado em 06/05/2024 | Fonte: CMA | ||
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