Indústria brasileira propõe firmar acordo de livre-comércio com EUA
Pressionada pela perda de competitividade e pela queda na exportação de manufaturados, a indústria brasileira está defendendo um acordo de livre-comércio com os EUA.
Análise: Proposta de acordo ainda é um tiro distante
Ontem, em discurso para 200 empresários americanos em Denver (EUA), o presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), Robson Andrade, afirmou que o Brasil deveria fechar um acordo de livre-comércio com os EUA e deixar em segundo plano o Mercosul para avançar em outros tratados importantes.
"Defendemos um acordo com os EUA, que compram principalmente manufaturados", disse à Folha Andrade.
Foi a primeira vez desde o enterro da Alca, em 2003, que a indústria discutiu a abertura de mercado com os EUA.
Até setores mais protecionistas, como o de eletroeletrônicos, defendem o acordo.
"Mudamos o posicionamento. Há dez anos éramos refratários, e havia um açodamento para fechar um tratado", disse Humberto Barbato, presidente da associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica.
"Agora estamos isolados, o Brasil está fora das cadeias de valor, daqui a pouco estaremos parecidos com países da antiga Cortina de Ferro."
SEM PREVISÃO
Procurado, o Ministério do Desenvolvimento limitou-se a dizer que "não há discussão em curso sobre essa questão". "O governo está focado na troca de ofertas com os europeus para um futuro acordo de livre comércio Mercosul-União Europeia", diz a nota.
Os EUA são o segundo parceiro comercial do Brasil, atrás da China. Mas, enquanto o Brasil exporta essencialmente commodities à China, vende em grande parte produtos manufaturados e semimanufaturados para os EUA.
Entre 2000 e 2008, o Brasil manteve superavit comercial com os EUA de quase US$ 10 bilhões por ano. Desde 2008, porém, o país tem deficit (foram US$ 5,6 bilhões em 2012).
O novo posicionamento da indústria vem do deficit em manufaturados (a Associação de Comércio Exterior do Brasil projeta US$ 105 bilhões neste ano), da queda no ritmo de exportações e da primarização da pauta.
Além disso, o Brasil sofre cada vez mais concorrência da China na venda de manufaturados no Mercosul. E, como o Mercosul fechou só três acordos comerciais, o país pode ficar mais isolado.
Em setembro, a CNI levou um grupo de 30 empresários aos EUA e propôs reabrir as negociações comerciais. Mas o timing, após revelações de espionagem pelo governo dos EUA, foi infeliz.
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