Educação traria mais crescimento que subsídios
O Brasil é o único país entre os 26 que perseguem metas de inflação em que o Banco Central não possui autonomia formal -regime no qual os diretores têm mandato fixo, durante o qual não podem perder o cargo.
A conclusão é de pesquisa do Credit Suisse. Para Nilson Teixeira, economista-chefe do banco, a falta de autonomia contribui para a inflação mais alta.
Preços elevados, diz, limitam o consumo, o que reduz as compras no varejo, freando a produção e reduzindo investimentos.
Outras travas ao crescimento, segundo Teixeira, são baixo investimento em infraestrutura e os subsídios do governo ao setor privado.
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Folha - Por que a confiança do empresário não se recupera?
Nilson Teixeira - Os cortes de impostos e a redução do preço de energia deveriam ter gerado mais otimismo e até uma queda da inflação. Mas os gastos do governo continuaram crescendo e a arrecadação caiu, reduzindo o superavit primário. Isso aumentou o risco fiscal, criando uma incerteza que se sobrepôs ao benefício da isenção tributária. Outro ponto foram as intervenções do governo na economia e o processo de idas e vindas na comunicação das medidas, com vários porta-vozes.
Para os empresários, as mensagens dos porta-vozes são contraditórias?
Não diria contrastantes, mas cada um tem seu tom. Não tenho dúvida de que o governo tem, por definição, boas intenções. Mas as idas e vindas, as mudanças de rota causam incerteza. Essa dificuldade de comunicação do governo tem impacto negativo no potencial de crescimento da economia.
Há ações do governo que podem melhorar o PIB potencial no médio prazo.
Quais?
Por exemplo, como você faz para melhorar o capital humano? Com educação.
Você olha a taxa de investimento no Brasil e ela é baixa. Mas a taxa de investimento em máquinas e equipamentos, que é a que tem impacto mais no curto prazo, é alta. Por outro lado, o Brasil é um dos países com menor taxa de investimento em infraestrutura e o impacto disso na economia é no médio prazo.
O governo tem tratado disso. O caminho trilhado pode não ser o melhor, mas aponta para uma situação que tende a tornar o investimento em infraestrutura mais forte nos próximos dez anos.
O que mais pode ser feito?
Medidas para melhorar a eficiência da economia. Por exemplo, reduzir subsídios específicos, tornar os subsídios mais lineares. A literatura mostra que isso tende a melhorar a capacidade de crescimento do país.
O uso de subsídios no fomento à economia é equivocado? Prejudica o crescimento?
Como economista, acho que a oferta desse benefício, se houver, tem de ser linear. Você olha a distribuição de renda no Brasil, é tão desfavorável.
Não seria melhor utilizar esses recursos para melhorar o ensino básico, o treinamento de professores?
Acho que os subsídios para determinados setores são desfavoráveis ao crescimento de médio e longo prazo porque não necessariamente refletem a melhor escolha.
Quem define quem receberá os subsídios do BNDES? Não é o Congresso.
Mas é o BNDES que financia hoje o investimento de risco, de longo prazo.
De 2004 a 2007, as empresas iam ao mercado captar recursos. Isso mudou. Enquanto uma instituição financeira der juros subsidiados, não há como as outras competirem.
As empresas reclamam das regras para investimentos em tecnologia e inovação.
A opção do governo por favorecer o conteúdo nacional impõe maiores custos. O produtor nacional tem um monopólio e todos nós aprendemos que o monopólio leva a maiores preços. E isso é desfavorável para o investimento em tecnologia.
E a inflação?
A inflação em alta causa um mal-estar, um freio do consumo, um freio da produção e, portanto, dos investimentos. E isso ajuda a explicar o fato de os empresários estarem menos otimistas.
Será que o país é um país de inflação de 4,5% ou de 7%? Hoje, o regime de metas não é mais capaz de segurar as expectativas em 4,5%.
Sabe quantos dos 26 países com regime de meta de inflação têm autonomia formal -aqueles que têm presidente e diretores com mandato fixos?
25. Só o Brasil não tem.
Em que a autonomia ajuda?
Ajudaria a ancorar melhor as expectativas, a transmitir uma credibilidade maior em relação ao cumprimento da meta de inflação, reduzindo a inflação corrente.
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