Análise: Sem reformas, virá à frente um período longo de estagnação
Neste ano a participação da indústria de transformação no PIB deverá mais uma vez declinar e, pela primeira vez desde a década de 1950, se situar abaixo de 13% -neste último trimestre estava pouco acima desse patamar.
Esse movimento segue um padrão observado em outros países: historicamente encolhe a agricultura com o processo de urbanização; posteriormente a indústria, e a economia tem os serviços e comércio como setores dominantes.
Mudanças nos padrões de produção, que se torna mais eficiente, possibilitam a redução dos preços dos manufaturados, e o estilo de consumo também muda -demandam-se cada vez mais serviços.
Porém, no caso do Brasil, algo está fora do lugar. Convergimos em poucos anos para o padrão das economias maduras, a exemplo dos EUA e Canadá, e divergimos de muitos dos nossos competidores (México, Turquia, Coréia do Sul) e mesmo algumas economias avançadas (a exemplo da Itália, Suécia, Alemanha).
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De modo mais geral, ao relacionar a relevância da indústria de transformação com a renda per capita, o país é um ponto "fora da curva", ou seja, para um país de renda média a indústria deveria ocupar um espaço significativamente maior.
Porque então o envelhecimento precoce? A explicação se resume numa palavra: competitividade.
Esta vem sendo subtraída por custos sistêmicos elevados -o exemplo da infraestrutura vem imediatamente à tona; taxa de investimento em capital físico e intelectual insuficiente e baixa produtividade e elevados custos unitários do trabalho.
Esses fatores limitam a capacidade de a indústria competir e restringem seu crescimento.
A produtividade é a chave e, no longo prazo, "é quase tudo" (como diz Paul Krugman [economista americano e prêmio Nobel]).
E, nesse sentido, a nossa fragilidade é evidente.
Não apenas a produtividade fatorial total avança pouco e assim contribui marginalmente para o crescimento da economia (menos do que 1% ao ano nas duas últimas décadas) como, na indústria de transformação, a produtividade medida pelo valor agregado por pessoa ocupada ficou praticamente estagnada entre 1995 e 2010.
Ao mesmo tempo, os ganhos do trabalho no período foram expressivos. Resultado: elevou-se de forma significativa o custo unitário do trabalho -mais de 80% (!)- magnificado pela apreciação do real. Daí as dificuldades das empresas competirem internacionalmente.
Essa situação corrosiva se tornou recentemente ainda mais adversa: desde o último trimestre de 2010, não apenas o custo de trabalho vem subindo como a produtividade faz o caminho inverso -o que possivelmente explica a perda acelerada de tecido industrial em 2011-12.
Não à toa, somente 7% das empresas em sondagem recente da CNI se declararam mais produtivas do que seus pares internacionais.
O país necessita encarar um fato singelo: ficamos para trás em relação aos nossos competidores e, a menos de um programa sério e crível de reformas, a indústria estará fadada a um longo período de estagnação.
CLÁUDIO ROBERTO FRISCHTAK é doutor em economia pela Universidade Stanford e presidente da Inter.B Consultoria Internacional de Negócios
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