Filmes sobre a pobreza geram mais impacto que pesquisas
A forma como livros e filmes mostram populações pobres ou países em desenvolvimento influencia mais as organizações multilaterais do que pesquisas econômicas.
Pelo menos é o que afirmam três pesquisadores que publicaram um estudo pelo Banco Mundial em junho e que, recentemente, lançaram um livro sobre esse tema.
O raciocínio dos autores é que as instituições multilaterais são compostas por governos, que, por sua vez, são influenciados pelas opiniões do público de seus países.
E pouca gente lê artigos. O que se sabe sobre um país pobre é, geralmente, descoberto em livros e filmes.
Dennis Rodgers, um dos autores e professor de sociologia da Universidade de Glasgow, diz que isso pode ser positivo: um relatório nunca fará alguém ser voluntário por uma causa, mas um filme teria esse poder.
O estudo, no entanto, diz que pode haver falhas nos retratos de pobreza. Rodgers lista dois: a simplificação excessiva e a figura do europeu ou do americano "herói".
"Na maioria dos filmes, o conhecimento, a tecnologia e a bondade vão do Norte ao Sul. E, se olharmos para como o desenvolvimento funciona, muitas inovações vieram do Sul para o Norte, como o orçamento participativo, que começou no Brasil."
"Cidade de Deus" é citado como "um dos primeiros a chamar a atenção, no circuito de cinema dos países ricos, para o tema da violência urbana, crítico para o desenvolvimento econômico".
No texto, os autores lamentam que ele seja exibido em universidades como um "quase documentário", algo que ele não se propõe a ser.
"Hotel Ruanda", que retrata o conflito entre duas etnias na década de 1990, vai "além da disputa entre o bem e o mal para mostrar pessoas em práticas boas ou más", como salvar vidas ou lavar dinheiro.
O filme mostra "o negócio de transferências internacionais de dinheiro para solidariedade", em que bilhões de dólares são aplicados nem sempre de forma eficaz.
Na Unicamp, o professor Fernando Nogueira da Costa ministrou pela primeira vez neste ano um curso sobre economia no cinema, no qual apresenta um filme por aula.
Para ele, filmes aguçam a visão multidisciplinar. Mas são sempre acompanhados de dados, como o documentário "Pro Dia Nascer Feliz", que mostra alunos em diferentes escolas do país, acompanhado por relatórios sobre o ensino no Brasil.
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