Setor produtivo brasileiro já teme calote de argentinos
O setor produtivo brasileiro teme que a desaceleração da economia da Argentina, provocada pela desvalorização acentuada do peso, comprima ainda mais as exportações para o país. E falam até em medo de calote de compradores vizinhos.
A Argentina é o terceiro principal mercado dos produtos brasileiros e mais de 90% de suas compras são de produtos industriais.
Carros são o principal item, seguido de outros produtos automotivos, como peças e veículos de carga, que somados representam cerca de 40% das vendas totais ao país.
Em 2013, o país vizinho comprou 9 de cada 10 carros exportados pelo Brasil, 12% da produção nacional, e ajudou a garantir um avanço na atividade das fábricas num ano em que as vendas no mercado doméstico caíram.
Até então, a crise nos vizinhos vinha ajudando porque os argentinos encontraram nos carros uma forma de poupança, fugindo do peso e da corrosão da inflação local.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Com poucas reservas em dólares, porém, a Argentina pretende restringir em 27,5% as importações de carros.
O governo brasileiro e as montadoras trabalham agora para derrubar a barreira.
Para o presidente da Anfavea (associação das montadoras), Luiz Moan,o agravamento da crise cambial na Argentina não mudam o cenário das negociações.
"O acordo Brasil-Argentina não é simplesmente de acesso ao mercado, é de complementação industrial. Qualquer restrição prejudica essa visão, por isso acreditamos numa conclusão favorável".
CALOTE
O setor de eletroeletrônicos exportou US$ 1,5 bilhão à Argentina em 2013, um recuo de 4% ante 2012. Neste ano, diz o presidente da Abinee (que reúne os fabricantes), Humberto Barbato, a expectativa é de mais um ano anêmico.
"Não deve haver novas medidas de contenção [das importações na Argentina], o que vai piorar é o risco de o exportador brasileiro não receber", diz. "Está claro que o país não tem divisas e está numa fase de pré-moratória".
Barbato diz que isso ocorreu na Venezuela, onde alguns fabricantes brasileiros demoraram até cinco meses para receber.
"Daqui para a frente, quem vender fora do convênio de crédito recíproco corre esse risco", diz, referindo-se à conta que os bancos centrais latino-americanos mantêm em conjunto e que serve para honrar os pagamentos de operações comerciais na região.
MENOS PRESSÃO
Para Klaus Kurt Müller, diretor de comércio externo da Abimaq (associação dos fabricantes de máquinas e equipamentos), o aumento do dólar tende a reduzir a pressão por mais restrições às exportações brasileiros. "Importar na Argentina ficará tão mais caro que não serão necessárias tantas barreiras."
Ainda assim, ele prevê recuo nas vendas para o país, resultado de um ambiente mais difícil para os negócios.
"Quando há uma crise, a primeira coisa a ser cortada são os investimentos".
A seu ver, pode haver até cancelamento de encomendas feitas no ano passado. O país, que já foi o principal comprador de máquinas e brasileiras, se tornou o quarto mercado em 2013, em razão dos entraves para exportar.
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