Ministro desde 2006, Mantega enfrenta desconfiança dos mercados
Único sobrevivente da equipe ministerial de 2006, Guido Mantega cumpriu seu objetivo. A partir da próxima quinta, entrará para a galeria de ministros como o mais longevo titular da Fazenda no período democrático.
Mantega chegou naquele ano com a incumbência de fechar o mandato ao lado do então presidente Lula —ou, como dizem em Brasília, tapar o buraco cavado por Antonio Palocci, obrigado a deixar a pasta após o escândalo do caseiro Francenildo.
A garantia de maior permanência no cargo só veio em fevereiro de 2007, quando Lula oficializou o colega de partido na equipe ministerial do segundo mandato.
Em tempo de serviço, ele só perde para Artur de Souza Costa, titular da economia por 11 anos no governo Getúlio Vargas. Mantega, aliás, assegura estar próximo de bater também essa marca.
Em conversas reservadas, explica que Costa licenciou-se por 24 meses do cargo. No site do ministério, porém, esse hiato não é registrado.
Ao longo dos últimos oito anos, Guido Mantega percorreu a trajetória de um eletrocardiograma. Assumiu a função relativamente fraco, mas saiu-se vitorioso na crise global eclodida em 2008.
Seu auge foi em 2010, ano em que o país cresceu 7,5%. Não por acaso, foi um dos primeiros auxiliares convidados a integrar o primeiro escalão do governo Dilma Rousseff.
MUDANÇA
A partir de 2010, entretanto, o eletrocardiograma que define a passagem de Mantega pela Fazenda começou, aos poucos, a desenhar declives mais acentuados.
Embora o nível de desemprego tenha atingido um dos menores patamares da história durante a segunda fase de seu comando ministerial, Mantega e sua equipe foram perdendo a confiança do mercado financeiro.
Até mesmo publicações internacionais, que antes estampavam o titular da Fazenda como síntese do vigor da economia brasileira, passaram a criticar o petista e até a pedir sua demissão.
Foi na passagem de 2012 para 2013 que o gráfico do ministro chegou ao seu ponto mais baixo.
Naquele momento, o Tesouro Nacional lançou mão do que foi chamado de "contabilidade criativa" para engordar o caixa do governo sem, de fato, poupar.
O mercado, então, começou a duvidar ainda mais das metas oficiais. Uma delas, porém, Mantega já cumpriu: apagará as oito velinhas na próxima quinta-feira na cadeira tão almejada. Na sexta, como quem prepara o retorno às origens, celebra uma "aula magna" na FGV, onde é professor licenciado.
Os números também sugerem outro feito: Mantega perde para si mesmo.
Nos cinco anos ao lado do ex-presidente Lula, o crescimento médio do Brasil foi de 4,5% ao ano. Nos três últimos, sob a regência de Dilma, a taxa foi reduzida para 2%.
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AS FASES DE MANTEGA
2006 - O TAMPÃO
Antonio Palocci cai em desgraça com o escândalo do caseiro. Guido Mantega é chamado para concluir o mandato no Ministério da Fazenda.
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2007 - O PERDEDOR
Logo na estreia, Mantega sofre derrota brutal no Congresso: perde a CPMF e, com ela, receita anual de R$ 44 bilhões, equivalente a 1,4% do PIB. Saldo: ministro enfraquecido.
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2008 - O ANTICÍCLICO
Governo é obrigado a elevar impostos para compensar a perda da CPMF. O bom momento das commodities ajuda o Brasil. O mundo colabora com Mantega e o ministro volta a recuperar força. Ao fim do ano, crise internacional balança os mercados internacionais e o governo brasileiro elabora uma política de estímulos. Entra em cena receituário que ajudou a economia nacional a sobreviver à crise.
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2009 - O EMPRESTADOR
A política anticíclica capitaneada por Mantega dá certo. Bancos públicos entram pesado e jorram crédito no mercado. Economia se recupera. Mantega resiste a reduzir o superavit primário, mas é vencido pelos então ministros Dilma Rousseff e Paulo Bernardo. Mantega, contudo, consegue evitar a extensão de meta reduzida para o ano seguinte.
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2010 - O MAGO
Estímulos fazem o PIB crescer 7,5%, mas a economia para cumprir a meta de superavit começa a patinar. Para fechar o caixa, governo faz, às pressas, a capitalização da Petrobras. Dinheiro da operação sustenta gasto público e Executivo é acusado de manobra contábil. Era a primeira semente do que se notabilizaria, anos depois, como "contabilidade criativa".
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2011 - O GUERREIRO DO JURO BAIXO
Mantega convence Dilma a jogar o capital político da presidente para reduzir os juros brasileiros. Banqueiros evitam críticas abertas, mas relação fica fissurada. Superavit primário é elevado. Segundo a tese, uma redução forte da Selic serviria de estímulo suficiente para dar um impulso à economia. O PIB, contudo, desacelera.
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2012 - O MANOBRISTA
Mundo piora. Entra em cena o "PIB piada". Economia patina no segundo semestre. Número dois da Fazenda, Nelson Barbosa defende que o governo assuma um superavit primário menor, mas é vencido. Situação fica sensível e Mantega tenta refazer o caminho de 2009: mais dinheiro para o BNDES; mais subsídios; mais desonerações; mais empréstimos. Economia, porém, não deslancha e Fazenda abusa de manobras contábeis para fechar as contas do ano.
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2013 - O DESACREDITADO
Economia até melhora, mas a imagem do ministro fica desgastada a um nível de difícil reversão, conforme agentes do mercado. Mantega se sente ameaçado, e a presidente tem de reiterar a permanência do ministro no cargo. Críticas vêm até do PT. A principal: erro de Mantega foi ter ficado tempo demais na função.
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2014 - O EFEMÉRIDE
Com a política econômica alvo de críticas e perspectiva de crescimento tímido, ministro finalmente bate sua meta: ultrapassar Pedro Malan, titular da Fazenda na gestão FHC, como mais longevo ministro da pasta no período democrático.
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