Cidade do Paraná faz crochê para forrar o bolso
Fiar delicadas e coloridas peças de crochê é o sustento de um quarto da população de Barbosa Ferraz, cidade do interior do Paraná. Dos cerca de 12,6 mil moradores do local, 3.000 fazem o trabalho artesanal –e pelo menos cem são homens.
A atividade despontou na cidade após o enfraquecimento da agricultura local –café e hortelã– e agora atrai desempregados do corte de cana e da construção civil.
O município já foi um dos mais populosos do Paraná nas décadas de 1950 e 60, quando o cultivo de hortelã era o motor da economia. À época, a cidade do noroeste paranaense chegou a ter uma população de 70 mil pessoas.
Moradores contam que a plantação de hortelã enfraqueceu a terra, deixando-a imprópria para novos plantios. Logo também a cultura do café também arrefeceu com as constantes geadas e a falta de incentivo federal.
A presença masculina no crochê existe desde o início da atividade em Barbosa. O precursor é Waldir de Oliveira, 51, que era secretário municipal nos anos 1990.
Na ocasião, foi ao sul de Minas atrás de nova fonte de renda para o município. Pensou no crochê e trouxe 50 quilos de barbante. Apresentou a matéria-prima para algumas mulheres, que concordaram em produzir as peças.
"Elas não conheciam nem a agulha de crochê. Improvisamos algumas de arame." Com as poucas peças produzidas, ele fez o caminho de volta e as vendeu rapidamente no sul de Minas Gerais.
Motivado, trouxe mais 120 quilos de barbante. Com o tempo, a atividade cresceu e hoje, além da mão de obra, a cidade tem quatro fábricas de barbantes, três de tecelagem, uma de fiação e cinco lojas especializadas. Por mês, cerca de dez toneladas de crochê são produzidas no município e vendidas no Sul e no Sudeste.
TRABALHO MASCULINO
Segundo Oliveira, mais homens aderem à atividade. Ronaldo Afonso, 22, diz que o crochê é sua redenção. Sem emprego no corte de cana e na construção civil, setores que mais absorvem mão de obra no município, ele fatura cerca de R$ 250 por mês com o crochê.
"Parece pouco, mas, para a gente que vive aqui, significa muito", afirma. "Sempre pinta um dinheirinho para comprar uma calça, uma camisa e as coisas de comer." Condenado por homicídio, ele cumpriu dois anos e três meses de prisão na cadeia de Barbosa Ferraz, onde aprendeu a atividade. Dos 17 presos no local, 6 são crocheteiros.
Ele diz nunca ter sofrido preconceito, mas conta que amigos crocheteiros reclamam de já terem ouvido comentários como "crochê deixa o homem feminino". Afonso diz que é tudo bobagem e defende a atividade como terapia. "Quando bate algum pensamento ruim, pego na agulha e começo a puxar o barbante", afirma.
Nos últimos anos, mães passaram a ensinar a atividade aos filhos. É o caso de Elisângela de Oliveira, 35, que apresentou o crochê a Evandro, 16, e Eduardo, 8. Ela produz 90 jogos de tapete por mês –número que cresce quando os meninos estão em férias.
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