Na China, 20% dos trabalhadores podem voltar a ser rurais
Xu Bo trabalhou durante quatro anos como parte de uma equipe de construção em Pequim, ajudando a construir na cidade os arranha-céus que simbolizam a transformação urbana da China.
Mas não planeja se mudar em definitivo para a capital chinesa: "Seria uma fantasia insana. A cidade é cara demais". "Não importa quanto dinheiro eu ganhe, no fim voltarei para casa", ele diz.
Com salários equivalentes a US$ 500, Xu pode não se enquadrar à ideia ocidental de "classe média", mas no contexto chinês ele e outros 269 milhões de migrantes são uma nova categoria de consumidores em ascensão.
Ocupam o espaço intermediário entre os prósperos moradores das cidades costeiras e a massa de lavradores no interior. Mas a maré da urbanização que tirou muita gente da pobreza rural não flui sempre na mesma direção. Muitos migrantes encaram sua vida nas grandes cidades como temporária.
31.ago.2012/Reuters | ||
Funcionária em linha de montagem da fábrica da Foxconn em Wuhan, na província chinesa de Hubei |
Menos de 54% do 1,36 bilhão de habitantes da China vive em cidades, ante uma média de 80% nos países desenvolvidos e 60% nos países em desenvolvimento com renda per capita semelhante.
No entanto, esses números são distorcidos pelo "hukou", sistema pelo qual apenas 35,7% da população pode ter benefícios como educação e serviços de saúde nas cidades. Isso significa que quase 20% dos chineses podem estar a apenas um mês de perder o status de aspirantes à
classe média urbana.
Foi isso que aconteceu durante a crise financeira de 2008/2009, quando cerca de 25 milhões de migrantes rurais voltaram ao campo.
Outro fator que os dissuade de uma mudança definitiva é que os migrantes não podem vender as terras em suas aldeias de origem, porque a propriedade é do Estado.
Isso oferece uma rede de segurança final: se tudo mais der errado, o trabalhador pode sempre voltar para sua terra natal e cultivar comida suficiente para não passar fome. Mas é algo que os vincula às suas fazendas e aldeias.
No mês passado, Pequim delineou um plano decenal para conferir hukou urbano a 100 milhões de migrantes, reconstruir os cortiços das cidades e "orientar a urbanização" de 100 milhões de lavradores em cidades menores.
O objetivo em parte é estimular a economia, por meio de investimentos pesados em habitação, infraestrutura e transporte.
Mas também demonstra o reconhecimento da crescente importância da classe migrante chinesa. Guo Hayan, analista do banco de investimento CICC, aponta: "Há apenas cinco anos os trabalhadores migrantes estavam mais preocupados com o essencial. Agora suas prioridades de gasto são as mesmas da classe média mais ampla –casas, carros e turismo".
Os líderes da china estimam que precisam criar pelo menos 10 milhões de novos empregos urbanos a cada ano para preservar a estabilidade social e evitar novas e perigosas demandas de mudança política. Mas isso só servirá para reforçar a pressão sobre cidades já sobrecarregadas como Pequim, para onde 430 mil pessoas vêm se mudando em média a cada ano, já há 12 anos.
Liu Lingfei, que nasceu na província de Hebei, viveu em Pequim por três anos. Seus pais eram lavradores, e ela se formou na universidade e
trabalha em contabilidade.
"Não há como eu voltar e ser de novo camponesa em minha cidade natal", diz Li, 27. "Estudei contabilidade e finanças -se voltar, não farei nem ideia de que safra plantar em cada temporada".
Mas sem uma reforma mais drástica, muitos imigrantes não terão escolha se a economia chinesa vacilar. Podem se ver não só desempregados mas longe do padrão de vida de classe média.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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