Eletrobras pode entrar em greve por tempo indeterminado na quarta-feira
Empregados do sistema Eletrobras realizam nesta sexta-feira (25) o segundo dia de uma greve "advertência" de 48h. Na próxima quarta-feira (30), está marcada uma nova assembleia de servidores, em Brasília, para definir uma paralisação por tempo indeterminado.
"Se o governo e a companhia não abrirem negociação, a tendência é mesmo de uma greve sem prazo definido", disse Emanuel Torres, presidente Associação dos Empregados da Eletrobras. Na quarta, também em Brasília, será realizada a assembleia de acionistas da empresa, controlada pela União.
A previsão da categoria é encerrar o movimento atual de advertência, cujo o estopim foi a decisão da diretoria da empresa de não pagar neste ano a PLR (Participação nos Lucros e Resultados), até o fim desta sexta-feira.
Segundo a Associação dos Empregados da Eletrobras, a adesão atingiu cerca de 85% dos 23.600 mil empregados das áreas administrativa e de manutenção das companhias controladas pela holding –as geradoras Chesf, Furnas, Eletrosul, Eletronorte, CGTEE e Eletronuclear, além de Itaipu Binacional e das distribuidoras de Amazonas, Acre, Roraima, Rondônia, Piauí e Alagoas.
A estatal não se manifestou sobre o contingente de empregados parados. Mas, como os funcionários da operação não aderiram ao movimento, os serviços de geração e distribuição de energia não foram afetados, segundo a companhia e a associação.
Torres, diretor da associação, diz que, mais importante do que o não pagamento da PLR, é o protesto "contra o sucateamento" das empresas do sistema Eletrobras. O governo, diz, "descapitalizou a empresa" e a diretoria não age em favor da companhia.
O líder sindical afirma ainda que era praxe que 25% do lucro fosse distribuído sob a forma de PLR, mas a empresa argumenta que não haverá pagamento neste ano aos empregados por conta do prejuízo por dois anos seguidos.
Torres diz que a estatal usará o lucro retido em anos anteriores para distribuir cerca de R$ 900 milhões aos acionistas –a União é o maior deles. Procurada, a estatal havia afirmado na quinta-feira que assinou com os sindicatos, em 2013, acordo coletivo, válido por dois anos. O documento, porém, prevê a negociação anual da PLR, desvinculada do pagamento dos dividendos.
"No momento, os empregados reivindicam a Participação nos Lucros e Resultados, que é negociada a cada ano com base no lucro, no resultado e no pagamento de dividendos aos acionistas pela companhia, nada tendo a ver, portanto, com a negociação coletiva de trabalho, prevista para ocorrer em 2015", diz, em nota, a Eletrobras.
A estatal também refuta que "está havendo um desmonte das empresas Eletrobras". "No momento, estão em curso ações e estudos que visam adequar a Eletrobras e suas empresas à nova realidade do Sistema Elétrico Brasileiro."
Editoria de arte/Folhapress |
PERDAS
Reportagem da Folha revelou que a Eletrobras, em uma situação financeira delicada após dois anos de prejuízos bilionários, conta com R$ 12 bilhões de uma indenização para ter fôlego para se reequilibrar e fazer caixa para investimentos nos próximos anos.
Essa conta será paga por todos os consumidores do país, possivelmente em 30 anos. O acerto de como se dará esse pagamento depende ainda uma proposta que está sendo concluída pela Aneel e da palavra final dos ministérios da Fazenda e de Minas e Energia.
Tal compensação à Eletrobras refere-se a investimentos feitos no sistema de transmissão de energia e melhorias em usinas antes de 2000, que não foram considerados num outro acordo do setor elétrico com o governo.
Numa outra indenização que já está sendo quitada, R$ 14 bilhões vão, de modo parcelado, para o caixa da estatal afim de ressarcir a empresa por perdas decorrentes dos novos contratos de concessão de usinas da empresa, que permitiram no ano passado a redução das tarifas de energia.
Nessa conta, porém, ficou de fora o investimento em transmissão e outro de menor monta feitos em hidrelétricas, sempre antes de 2000. É que o governo dispunha de R$ 19 bilhões num fundo setorial de energia e "fez um a conta de chegada", segundo fontes do setor. Por isso, arbitrou o ano de 2000 como parâmetro para os pagamentos. A Eletrobras, porém, recorreu à Aneel ao final de 2013.
Apesar das perdas dos últimos dois anos, o diretor-financeiro da empresa, Armando Casado, mostrou-se otimista com o resultado da companhia neste ano e previu o retorno ao lucro. Em 2013, a estatal teve uma prejuízo de R$ 6,3 bilhões. Em 2012, a cifra ficou negativa em R$ 6,9 bilhões.
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