Especialistas defendem ação imediata para economizar energia
O comemorado sucesso no leilão de energia realizado ontem apenas evita que as tarifas subam ainda mais, mas não amaina o risco de falta de eletricidade neste ano.
Por isso, são necessárias ações claras para reduzir o consumo de eletricidade, afirmam 19 especialistas do setor ouvidos pela Folha.
Para 17 deles, não há dúvidas sobre a necessidade urgente de medidas.
Dentre as sugestões estão medidas de incentivo a quem economizar eletricidade, inclusive com bônus financeiro, racionamento progressivo –começando com planos para cortes voluntários da ordem de 10% e adotando reduções impositivas se necessário– e campanhas públicas de esclarecimento.
Especialistas defendem economia de luz
A adoção de tarifas mais altas, como forma de desincentivar o consumo, também foi sugerida por pesquisadores e entidades do setor.
Dois dos especialistas foram menos enfáticos em relação a ações imediatas.
Marcelo Parodi, sócio da comercializadora Compass, se diz otimista com a possibilidade de o clima ajudar a recuperar reservatórios. E Cristopher Vlavianos, presidente da comercializadora Comerc, considera o racionamento politicamente inviável.
Os reservatórios das regiões Sudeste/Centro-Oeste, que concentram 70% da geração hidrelétrica, fecharam o mês de março com apenas um terço de sua capacidade.
O governo diz que o risco de racionamento é baixo e nega a necessidade de medidas de contenção do consumo.
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LUIZ PINGUELLI ROSA
professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro e ex-presidente da Eletrobras
- "Eu acho que é preciso haver uma racionalização do consumo. Atuar não só pelo lado da oferta, já que as térmicas estão ligadas, a chuva já choveu, inclusive já passou o período chuvoso. O governo devia fazer uma política de redução do consumo, ainda que não impositiva. Que seja por estímulos, como oferecer desconto para quem consumir menos, para a troca de lâmpadas econômicas, como a LED, ou diminuir a temperatura do ar condicionado, que não precisa ficar em temperaturas tão baixas como se usa. Em 2001 houve racionamento, um modelo punitivo, mas isso não concordo. Principalmente para famílias é muito ruim. Já pensou apagar uma casa com crianças e velhos? Sou contra."
REGINALDO MEDEIROS
presidente-executivo da Abraceel (Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia)
- "No curto prazo, a solução é usar a energia de forma racional com informações ao consumidor. É possível reduzir o consumo à metade só com conscientização. Por exemplo, o consumidor desperdiça muito com equipamentos em "stand-by". Se todos tomassem a decisão de desligar os equipamentos, o consumo cairia. Outra opção seria colocar novas térmicas no mercado e importar combustível."
NIVALDE DE CASTRO
coordenador do Gesel/UFRJ (Grupo de Estudos do Setor Elétrico)
- "Não acredito que, como o governo sugere, teremos uma situação tranquila se chegarmos em novembro com reservatórios com nível de 15%. Seria muito conveniente um programa de redução de consumo de energia, com medidas de incentivo a quem economizar. Esse programa, inclusive, poderia ser posto em prática diretamente pelas distribuidoras, até para tirar um pouco essa avaliação política do debate."
ELBIA MELO
presidente-executiva da Abeeólica (Associação Brasileira de Energia Eólica)
- "O estado atual do setor elétrico é de alerta. O período úmido terminou ontem e agora o governo vai fazer uma avaliação e depois adotar uma medida. É bem possível que a partir da semana que vem o governo venha trazer o exato diagnóstico de como está o setor e alguma medida, caso considere necessário. A minha visão é que, se constatar a grave situação, a saída seria buscar racionamento, pedindo à população que voluntariamente reduza o consumo para que possamos passar o ano sem apagão. E geralmente a população adere a esse tipo de política. Campanha é a maneira mais eficaz."
REINALDO CASTRO SOUZA
professor do departamento de Engenharia Elétrica do Centro Técnico Científico da PUC-Rio
- "A situação [do sistema elétrico] é de fato crítica, já que os reservatórios estão um pouco acima do registrado antes do racionamento de 2001 e a demanda é atualmente 60% maior que o período. A partir de maio poderia se fazer uma espécie de racionamento brando, com incentivo à redução do consumo de 5% a 10%. Caso ocorressem chuvas, isso poderia ser abolido e os reservatórios já teriam sido poupados. Caso a situação se agravasse, a população já estaria fazendo a sua parte e não se surpreenderia com a necessidade de um racionamento mais forte."
ANA LÚCIA MIRANDA
coordenadora do Núcleo de Pesquisas em Eficiência, Sustentabilidade e Produtividade e professora da UFMG
- "Tendo a concordar que existe, sim, uma necessidade premente de alertar a população dos riscos e dos custos de uma demanda por energia que não pode ser, por muito tempo mais, atendida pela oferta. O calendário eleitoral não deve, de maneira alguma, interferir nas decisões para o setor elétrico. Estudos apontam uma necessidade urgente de redução de demanda."
MARCELO PARODI
sócio da comercializadora Compass
- "Talvez seja interessante, no máximo, alguma campanha de conscientização para evitar o desperdício. Não estamos tão pessimistas. Se chover abaixo da média histórica no Sudeste e na média em outras regiões, dá para chegar no fim de novembro com um nível de reservatórios que não vai ser fácil, mas passa."
ADRIANO PIRES
presidente do CBIE (Centro Brasileiro de Infraestrutura)
- "Desde janeiro deveriam estar em curso medidas para estimular redução de consumo, com uma campanha na mídia, com formadores de opinião, como artistas de TV, explicando que a pouca chuva e o calor estão afetando o sistema elétrico e que há a necessidade de se economizar luz. Algo do tipo 'quem reduzir em 20% o consumo ganha um desconto na conta' funcionaria."
JOÃO CARLOS MELLO
presidente da consultoria Thymos Energia
- "A única medida que pode ser tomada neste momento é de redução da carga, do consumo de energia. Seja o racionamento de energia, ou seja, um corte obrigatório, ou a racionalização, feita por meio de campanhas de conscientização. O governo pode fazer isso até o fim de maio, quando ele não terá mais dúvidas sobre a situação de recuperação dos reservatórios das hidrelétricas.Pode-se pensar em garantir algum benefício para quem conseguir reduzir esse uso."
ALEXEI VIVAN
diretor-presidente da ABCE (Associação Brasileira das Companhias de Energia Elétrica) e do FMASE (Fórum de Meio Ambiente do Setor Elétrico):
- "Ainda existe possibilidade de racionamento. É um problema que ainda precisa ser resolvido. O sucesso do leilão não tem relação com a energia disponível para atender a demanda. Já passou o momento de propor isso, basta ver o baixo nível de chuvas que tivemos e dos reservatórios. Desconhecemos outra medida que não racionamento ou racionalização a curto prazo. A continuar como está existem sérias restrições à disponibilidade de energia já no fim do ano."
LUIZ AUGUSTO BARROSO
diretor da PSR, consultoria especializada no setor
- "A decisão de racionar é muito difícil e tomada sob incerteza, o que pode levar a arrependimentos. A decisão que maximiza a segurança de suprimento para o setor em 2014 e 2015 é iniciar um processo de redução de consumo, via racionalização ou racionamento."
WALFRIDO ÁVILA
presidente da comercializadora Trade Energy
- "Se até o ONS está dizendo que é melhor segurar energia no fim do ano, acho melhor ouvir o ONS. (...) Não basta apenas chover. Tem que chover muito, para encher os reservatórios."
CRISTOPHER VLAVIANOS
presidente da comercializadora Comerc
- "Se não fosse uma medida política muito ruim de ser tomada, o ideal seria decretar o racionamento. Nenhum governo quer fazer isso, porque traz uma interpretação de que o setor não está sendo bem conduzido. Plano de contingenciamento de consumo é uma coisa normal, mas é uma medida impopular para ser tomada na véspera de eleição. A solução seria abandonar um pouco o foco na modicidade tarifária e criar incentivos para contratação de fontes diversas, entre elas fontes térmicas e fontes renováveis. Ainda estamos com uma dependência muito grande de hidrelétricas."
JOSÉ WANDERLEY MARANGON LIMA
professor da Universidade Federal de Itajubá
- "O governo deveria começar já a avisar a população que há um problema. Devia pedir que as pessoas economizem. Essa é a medida a se adotar no curto prazo para aliviar o consumo. Para médio e longo prazo, o governo devia pensar em como garantir que as obras de geração e transmissão não atrasem tanto. Também é possível criar políticas para incentivar que o consumidor use placas solares em suas casas e gere ele próprio a energia de seu consumo."
CLAUDIO SALES
presidente do Instituto Acende Brasil
- "O mais importante é entendermos que, se chegarmos ao fim do ano com níveis muito baixos dos reservatórios e energia armazenada em volumes muito pequenos, o custo para a sociedade passa a ser muito maior. O governo precisa dar mais clareza e transparência sobre a situação em que estamos. A qualquer momento, o operador pode considerar que vale a pena decretar algum tipo de redução de consumo e eu espero que, se isso ocorrer, eles estejam bem preparados para evitar a implementação de qualquer programa que venha cheio de erros. Qualquer decisão de redução artificial do consumo teria de ser muito bem preparada. E já está tarde para começar."
ILDO SAUER
diretor do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP
- "O governo já deveria ter iniciado uma campanha de redução do consumo, como forma de evitar um racionamento mais drástico. Já deveria, primeiramente, ter convocado a população e pedir uma redução do consumo. Sem essas medidas, os reservatórios de água podem secar antes do final do ano."
CARLOS RIBEIRO
diretor de Operações da Cteep e Presidente da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (ABCE)
- "Um racionamento já deveria estar em curso. Já deveríamos estar com um racionamento de 5%."
JOISA CAMPANHER DUTRA
ex-diretora da Aneel e integrante do Centro de Estudos em Regulação e Infraestrutura da FGV
- "Um programa de racionalização do consumo seria extremamente benéfico, com compensações financeiras na conta de quem economizar energia. A redução do consumo por meio de programas de incentivo seria o recurso que estaria mais à mão."
DJALMA FALCÃO
professor de engenharia elétrica da Coppe/UFRJ
- "A situação mais sensata no curto prazo seria reduzir a demanda por energia. Essa questão já deixou de ser técnica e passou a ser política. Concretamente, o incentivo financeiro na conta de luz para quem economiza daria um alívio até novembro, quando começam as chuvas."
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Atualizado em 17/05/2024 | Fonte: CMA | ||
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