AstraZeneca rejeita segunda oferta da Pfizer
A AstraZeneca rejeitou uma segunda oferta de aquisição, melhorada, da parte da Pfizer, o que torna mais provável que a companhia norte-americana agora busque negociar diretamente com os acionistas do grupo.
Horas depois de receber uma oferta aumentada de 50 libras por ação, o conselho da AstraZeneca rejeitou a proposta revisada de aquisição, alegando que ela "desvalorizava substancialmente" a companhia britânica. O conselho instou vigorosamente os acionistas da empresa a que não ajam quanto à proposta.
Leif Johansson, presidente do conselho da AstraZeneca, disse que "a proposta da Pfizer diluiria dramaticamente a exposição do acionistas da AstraZeneca aos produtos fantásticos que temos a caminho, e criaria riscos para que eles sejam de fato introduzidos. Portanto, o conselho não sente qualquer hesitação quanto a rejeitar esta proposta".
A companhia norte-americana, fabricante do Viagra, anunciou na sexta-feira que havia apresentado uma proposta formal revisada à AstraZeneca para a fusão das empresas. A nova oferta representa ágio de 39% ante o preço de fechamento de 35,86 libras das ações da AstraZeneca em 3 de janeiro, e avalia a companhia britânica em cerca de 63,1 bilhões de libras.
Ian Read, presidente-executivo e do conselho da Pfizer, também escreveu ao primeiro-ministro britânico David Cameron assumindo uma série de compromissos quanto a manter uma forte presença no Reino Unido, por conta de preocupações políticas quanto ao efeito de uma fusão sobre a base científica do país.
O gabinete do primeiro-ministro anunciou que o governo "consideraria a questão com muito cuidado". Mais cedo, o ministro da Ciência britânico, David Willetts, recebeu positivamente a nova oferta, afirmando que a companhia norte-americana "avançou muito ante a posição que ocupava uma semana atrás".
Em declaração, a AstraZeneca confirmou que havia recebido uma proposta "indicava e de cumprimento não compulsório da Pfizer quanto a uma possível oferta".
"O conselho da AstraZeneca se reunirá para discutir essa proposta e novo anúncio será feito quando apropriado. Não pode haver certeza de que uma oferta será feita, e nem quanto aos possíveis termos dessa oferta. Os acionistas são fortemente aconselhados a não agir", afirmou a empresa.
A Pfizer deixou claro que deseja forçar a AstraZeneca a iniciar negociações para uma fusão consentida, em lugar de lançar uma campanha de aquisição hostil, ainda que não tenha descartado esta última possibilidade caso suas abordagens continuem a ser rejeitadas.
A mais recente proposta representa ágio de 32% sobre o preço das ações da AstraZeneca em 17 de abril, o último dia delas no pregão antes que os surgissem as primeiras informações sobre o interesse da Pfizer.
Cerca de dois terços do valor da oferta consistiriam de ações da companhia combinada e um terço de dinheiro - uma ligeira melhora ante a divisão 70/30 da proposta de janeiro.
Cada acionista da AstraZeneca receberia 1,845 ação no grupo combinado e 15,98 libras em dinheiro por ação da AstraZeneca. A proposta representa valor indicativo de 50 libras por ação da AstraZeneca, com base no preço de fechamento de US$ 31,15 para as ações da Pfizer na quinta-feira.
Analistas do UBS consideram que o "aumento modesto" oferecido pela Pfizer serve como ponto de partida nas negociações com o conselho da AstraZeneca, mas ainda assim não basta para refletir os avanços no desenvolvimento de novos medicamentos que a companhia britânica obteve este ano.
Sav Neophytou, analista da Panmure Gordon, disse que a tendência é de que a Pfizer consiga o que deseja, no final. "O lado científico é claro. A matemática indica valor de 50 libras por ação. Acreditamos que os investidores deveriam esperar pelo lado 'arte' da fusão, que pode elevar a oferta na direção das 55 libras.
A Pfizer informou que qualquer oferta estaria condicionada à pesquisa da situação de sua rival britânica e de uma recomendação unânime do conselho da companhia.
COMPROMISSOS
Na carta aberta da Pfizer ao primeiro-ministro Cameron, a companhia assumiu compromissos quanto a investimentos no Reino Unido, embora não fizesse promessas quanto a empregos. As promessas incluem a transferência de seu domicílio tributário ao Reino Unido, basear suas atividades europeias e parte de suas atividades mundiais de pesquisa e desenvolvimento em território britânico, e a manutenção de pelo menos 20% do pessoal total de pesquisa e desenvolvimento do grupo combinado no Reino Unido.
"Estabelecer a maior companhia farmacêutica baseada em pesquisa do planeta no Reino Unido, somado aos compromissos assumidos nessa carta, representam forte indicador quanto aos incentivos que seu governo criou para atrair negócios bem sucedidos ao Reino Unido", afirmou Read.
A Pfizer anunciou publicamente sua intenção de comprar a AstraZeneca na segunda-feira, depois que a segunda maior fabricante britânica de medicamentos rejeitou uma oferta informal de 46,61 libras por ação em janeiro.
O governo britânico anunciou que recebia positivamente "todos os compromissos de empregadores de investir em capacitação, empregos e produção no Reino Unido", e diz-se que Cameron está satisfeito por a Pfizer estar levando em consideração as preocupações do governo no setor.
Mas a equipe de Cameron indicou que o governo não assumiria qualquer posição quanto aos aspectos comerciais da transação, que segundo o governo cabe totalmente aos acionistas das duas companhias.
Willetts disse que ele, o chanceler do Erário [ministro das Finanças] George Osborne, e o secretário de Negócios Vince Cable haviam mantido "conversas muito duras com a Pfizer" na semana passada, enfatizando a necessidade de proteger empregos britânicos e a tradição do país na pesquisa e desenvolvimento. A AstraZeneca tem 6.700 funcionários no Reino Unido.
"O que esperaríamos da Pfizer é que compreenda e assuma o compromisso de manter no Reino Unido as atividades de pesquisa e desenvolvimento das quais nos orgulhamos", ele disse à BBC.
Cameron instruiu Sir Jeremy Heywood, o chefe do serviço público britânico, e John Kingman, o principal funcionário da área comercial do Tesouro, a conduzir conversações com a empresa sobre os detalhes da transação.
Mas o primeiro-ministro continuava a ser pressionado a intervir na tomada de controle, sexta-feira.
Lorde Heseltine, assessor de crescimento econômico de David Cameron e antigo primeiro-ministro assistente em governos conservadores, disse à BBC que o governo deveria ter "poderes de reserva mais fortes" para intervir quando empresas britânicas são alvo de tentativas de aquisição por rivais estrangeiros.
Ele disse que tomadas de controle podem ser "muito úteis", mas que os interesses nacionais precisam ser protegidos, acrescentando que o Reino Unido era o único país a não ter "alguma forma base de segurança para estudar tomadas de controle por estrangeiros".
"Existem tantas questões - sobre a base científica, sobre cadeias de suprimento, sobre perspectivas de emprego - que precisam ser estudadas, e eu não vejo qualquer maneira de fazê-lo a não ser que o governo conte com poderes de reserva", acrescentou lorde Heseltine.
Os comentários deles surgiram depois que um importante líder empresarial apelou ao governo na quinta-feira que expressasse publicamente sua oposição à transação.
Lorde Sainsbury, filantropo britânico e antigo ministro da Ciência em governos trabalhistas, disse que a Pfizer tinha um histórico de adquirir ativos para despojá-los do que tem de mais valioso, e apontou que a empresa cortou 1,5 mil empregos em uma de suas instalações de pesquisa e desenvolvimento no Reino Unido, apenas três anos atrás.
Quaisquer garantias feitas ao Reino Unido quanto a empregos seriam "francamente irrelevantes", ele disse.
"Fica claro para mim que essa proposta de tomada de controle representará um golpe devastador contra o nosso perfil na área farmacêutica, que creio será crucial nos 30 próximos anos", disse o bilionário líder da cadeia de supermercados J. Sainsbury ao "Financial Times".
Lorde Sainsbury declarou acreditar que diversos acionistas da AstraZeneca também estivessem céticos quanto à oferta, e instou o primeiro-ministro a deixar claro que a ligação entre as companhias era "indesejável" e não servia aos interesses britânicos.
Read conversou com Osborne e outros ministros esta semana, para tentar convencê-los de que o grupo criado pela fusão manteria presença de gestão e científica "significativa" no Reino Unido.
Até o momento, Osborne está inclinado a encarar a proposta como vitória para seus esforços de atração de investimentos no setor de ciências da vida, porque a Pfizer anunciou que transferiria seu domicílio tributário dos Estados Unidos ao Reino Unido para aproveitar os incentivos britânicos. Mas outros ministros, como Cable, expressaram preocupação quanto à possibilidade de que a transação resulte em perdas de empregos.
A forte oposição pública de lorde Sainsbury pode levar o Partido Trabalhista a se pronunciar contra o acordo, nos próximos dias. Chuka Umunna, secretário de Negócios no governo paralelo trabalhista, na sexta-feira reforçou suas críticas à proposta, atacando em entrevista à BBC o histórico de "espoliação de ativos" da Pfizer em passadas tomadas de controle acionário e expressando preocupação de que a oferta pela AstraZeneca tivesse como motivação ao menos em parte as vantagens tributárias.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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