Pequenas indústrias de SP sofrem mais com falta de energia do que de água
As falhas no abastecimento de energia elétrica em março e abril prejudicaram mais micro e pequenas indústrias paulistas do que os problemas na distribuição de água.
Pesquisa do Simpi-SP (Sindicato da Micro e Pequena Indústria de São Paulo) mostra que 14% dos 311 entrevistados foram afetados pela falta de energia, contra 6% pelo corte de água. A margem de erro é de seis pontos percentuais.
Dos empresários que relataram problemas com eletricidade, 51% tiveram queda na produção porque pararam as máquinas.
Outros 21% citaram atraso na entrega dos produtos.
Em ambos os casos, a maioria das falhas ocorreu na capital paulista, seguida de outros municípios da região metropolitana de São Paulo. Entre eles está Guarulhos, um dos que mais sofre com o abastecimento irregular.
Para o diretor regional do Ciesp (Centro de Indústrias do Estado de São Paulo) de Guarulhos, Mauricio Colin, os cortes de energia ou a variação da tensão elétrica são mais prejudiciais para a micro e pequena indústria.
Segundo Colin, a falta de água pode ser contornada com alternativas relativamente simples, como caminhões-pipa e cisternas. Além disso, ela integra o processo produtivo apenas de alguns segmentos a exemplo do têxtil e do alimentício.
"Em grande parte, a água é usada só no resfriamento das máquinas. É mais tranquilo para comprar e dá para reutilizar."
Colin diz que continuar a produção sem luz requer uma estrutura mais sofisticada, como geradores –às vezes caros demais para indústrias de pequeno porte.
Segundo o diretor de relações institucionais do Simpi, Rogério Grof, a falta de acesso ao crédito para esse tipo de investimento faz com que muitos pequenos empresários fiquem à mercê da distribuição.
"Eles não têm como se preparar e serão os mais afetados. A falta de água não está parando a indústria, a produção continua."
PROBLEMAS NA PRODUÇÃO
A cinco anos a empresa de José Viera segue a fabricação de peças automotivas durante períodos de racionamento.
Até o início do mês, Viera e seus funcionários estavam acostumados a um dia com água e o outro sem. Hoje, a indústria trabalha com dois dias sem água para um com abastecimento.
"É assim desde que comecei. Se você trabalhar só quando tiver abastecimento, trabalha um dia sim e outro não."
Viera contrata continuamente caminhões-pipa, mas, mesmo assim, já teve prejuízos.
Neste mês, a caixa d'água esvaziou e uma de suas máquinas superaqueceu, quebrando um dos mecanismos responsáveis pelo resfriamento. A troca custou quase R$ 5 mil.
Também em Guarulhos, o proprietário da SM Bolsas, Marcos Quaresma, teve que interromper a produção nesta quinta-feira (15) devido a um corte de energia.
Com equipamentos e empregados parados durante duas horas, o empresário atrasou entregas e terá que pagar hora-extra para compensar a interrupção.
Ele diz que a falha acontece de 15 em 15 dias e não tem outro plano se ela se tornar mais frequente. O temor existe, mas faltam recursos. "É uma micro empresa."
Colin, do Ciesp, afirma que o medo de futuros apagões é geral.
"A preocupação da indústria é de curto prazo. Até quando vamos abastecer o mercado com energia de termelétricas? Temos que resolver o problema, arrumar a estrutura. As empresas já deveriam se preparar para o que vai vir."
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