Crédito do BNDES na Argentina despenca
A crise da Argentina, agravada com a retração da economia e a possibilidade de calote de dívida do país, coincide com um tombo nos financiamentos do BNDES a projetos de infraestrutura e construção no país.
O banco estatal tem linha especial de crédito que empresta recursos a países para que empreiteiras brasileiras toquem as obras -e também comprem máquinas usadas na construção ou ao longo do empreendimento.
Trata-se da chamada exportação de serviços. Após o pico de financiamentos, em 2011 (US$ 802,8 milhões), o crédito ao país vizinho só caiu. Chegaram a US$ 152,8 milhões em 2013. De janeiro a março (último dado disponível), período de intensificação da crise, o valor foi de apenas US$ 1,1 milhão.
Entre os motivos para essa forte redução, estão a aversão maior de investidores ao risco do país, a paralisia da economia argentina e a dificuldade em obter garantias para contratar os empréstimos.
Outro fator são a postergação ou o abandono de projetos, que, em muitos casos, contam com parceiros locais ou internacionais, que se tornaram descrentes da situação do país.
Exemplo foi a desistência, em 2013, da Vale de complexo de exploração de potássio, cujas obras já haviam sido iniciadas e orçadas em US$ 5,9 bilhões. O projeto era financiado pelo BNDES e conduzido pela Andrade Gutierrez.
Executivos de empreiteiras ouvidos pela Folha, sob condição de anonimato, dizem que é cada vez mais difícil obter garantias para projetos na Argentina.
Outro problema é a agressividade das construtoras chinesas, que oferecem condições melhores de financiamento de bancos estatais daquele país e não se preocupam tanto com as garantias apresentadas.
"O que eles querem é abrir o mercado. Não se importam muito com alguma eventual inadimplência", diz José Augusto de Castro, presidente da AEB (Associação de Comércio Exterior do Brasil).
O Brasil, diz, é um dos 15 países com capacidade de exportar serviços de engenharia, mas perde terreno na África e na América Latina -um mercado "natural" para as empresas brasileiras.
"A exportação de serviços é importante porque carrega consigo as vendas de bens, especialmente máquinas."
Klaus Curt, diretor da Abimaq (associação do setor de máquinas e equipamentos), diz que o Brasil perde ano a ano espaço nas exportações para a Argentina, ainda o principal mercado do setor.
As vendas ao país vizinho caíram 19% de janeiro a abril. A culpa, diz, são as travas do governo local, que segura a entrada dos bens para conter a saída de dólares.
Ao passo que o Brasil perde terreno, diz, o mesmo não ocorre com a China -país com o qual o Brasil assinou uma série de acordos no âmbito da criação do banco dos Brics. A nação asiática exporta cada vez mais máquinas para a Argentina.
BNDES
O BNDES diz que não "é afetado pela conjuntura atual" da Argentina. "Os financiamentos do BNDES são de longo prazo e centrados em exportações de bens e serviços brasileiros para projetos de infraestrutura."
O banco diz que "não está no fluxo de comércio do dia a dia entre Brasil e Argentina, que é muito calcado em setor automotivo, bens de consumo, máquinas e equipamentos de mais curto prazo".
Segundo o BNDES, há conjunto de projetos em fase de negociação com a Argentina, que somam US$ 2 bilhões. Nenhum contrato, porém, foi fechado.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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