Análise: Dilma lança plano de paz com o mercado
O ministério virtual de Dilma Rousseff é uma proposta de armistício, um plano de paz com a racionalidade econômica.
Joaquim Levy na Fazenda seria um nome simbólico dessa transição de Dilma, a Mesma, para Dilma, a Outra. Nelson Barbosa, de um outro modo, também: deixou o governo Dilma quando a maçaroca fiscal, gastos e maquiagem, engrossava.
A nomeação de dois ministros "corporativos", em vários sentidos da palavra, é outra mensagem, mas política: a senadora ruralista Kátia Abreu na Agricultura e o senador "industrialista", ex-CNI, Armando Monteiro no Desenvolvimento.
Levy é bem mais que um "nome do mercado". Ressalte-se com ênfase que Levy conduziu o então quase inacreditável conserto das contas públicas de Lula 1, de 2003 a 2006, quando secretário do Tesouro do ministério da Fazenda de Antonio Palocci. Fez o ajuste fiscal tão criticado pelo PT na campanha, dando caneladas se preciso.
O secretário do Tesouro cuida de manter dinheiro no caixa e de tomar emprestado no mercado o que falta para fechar as contas.
Desde 2012, Levy dirige a empresa do Bradesco que cuida de investimentos de imensos clientes (seguradoras, fundos de pensão, ricos, empresas). Boa parte desse dinheiro é emprestada ao governo.
Levy esteve, pois, dos dois lados do balcão. Sabe do descrédito das contas públicas e do efeito disso nas taxas de juros. Por seu histórico no governo, não é "amigo da banca".
Já disse por aí que o BNDES tem de mudar e diminuir. Não gosta de juros altos, mas tem horror de dívida pública. Esteve no governo Fernando Henrique Cardoso, no FMI (Fundo Monetário Internacional) e doutorou-se na Universidade de Chicago, que poderia aparecer na propaganda do PT como centro de formação de gente dada a tirar o leite das crianças. Mas durante quase duas décadas foi servidor público.
BARBOSA
Depois que saiu do governo, Barbosa tem feito apresentações públicas e muito notórias de como deve ser o ajuste fiscal (corte de gastos, aumento de receitas), além de estar bem preocupado com a hipótese de o governo do Brasil perder o "grau de investimento" (ser tido como mau devedor, o que elevaria os juros para governos e empresas).
Dilma não deu a palavra final. O nome de Levy causou certa revolta no governo.
Falta nomear secretários da Fazenda, talvez um ou dois diretores do Banco Central e alguém para o BNDES, de onde deve sair Luciano Coutinho. Mas, se a presidente mudar de ideia e baixar a bandeira branca, vai haver confusão.
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