Denúncias de corrupção levam Petrobras a adiar balanço
Após 28 dias de atraso, a Petrobras decidiu adiar mais uma vez a divulgação de seu balanço do terceiro trimestre deste ano, segundo nota divulgada ao mercado na noite desta sexta-feira (12) pela empresa. Nova data não foi marcada, mas estatal negociou novo limite, até o dia 31 de janeiro, para apresentar balanço não auditado aos credores.
A empresa lista cinco episódios que contribuíram para a decisão tomada na reunião do Conselho de Administração da companhia, ocorrida na noite desta sexta.
A estatal cita como motivos para a postergação: renegociação de cláusulas de contratos de dívida com vencimento para o dia 31 de janeiro, que possibilitariam a empresa apresentar o balanço até esta data; uma intimação, em 21 de novembro, pela SEC (Securities and Exchange Commission), a CVM americana, requerendo novos documentos sobre as denúncias de corrupção; os depoimentos, em 3 de dezembro de dois diretores de empresas do grupo Toyo Setal no escopo da operação Lava Jato; a citação da empresa em ação coletiva, movida por minoritários na Justiça de Nova York; e o ajuizamento, no último dia 11, das ações criminais de 36 suspeitos de envolvimento em esquemas de desvios pelo Ministério Público Federal.
A empresa soltou nesta sexta-feira apenas um relatório com alguns indicadores operacionais-financeiros, tais como receita de vendas e endividamento. O lucro líquido e a geração de caixa, dois importantes indicadores que mostram a saúde financeira da companhia, não foram divulgados.
A receita de vendas da petrolífera no terceiro trimestre somou R$ 77,7 bilhões, alta de 7% em relação ao verificado no trimestre anterior. No período de janeiro a setembro, a receita atingiu R$ 252,2 bilhões, alta de 13% em relação a igual período.
A dívida líquida ficou no terceiro trimestre em R$ 261,4 bilhões, alta de 8% frente ao apurado no segundo trimestre (R$ 241,3 bilhões). No ano, a dívida líquida acumulada subiu 35% em relação a igual período do ano passado, quando esteve em R$ 192,9 bilhões.
NÚMEROS NÃO AUDITADOS
Os números não foram auditados pela auditora independente PricewaterhouseCoopers, que se recusou a aprovar as contas da companhia após as denúncias de corrupção pelo ex-diretor de abastecimento Paulo Roberto Costa no âmbito da Operação Lava Jato, deflagrada em março. O parecer de auditores independentes é uma exigência da legislação para empresas que negociam ações em Bolsa.
A Petrobras terá que apresentar o balanço em até um ano, sob risco de perder o registro de companhia aberta, o que a tornaria inapta a ter ações negociadas em Bolsa. A divulgação do balanço sem aval da auditoria externa atende a exigências de alguns contratos de credores de títulos da empresa, para o que a companhia teria até o dia 31 de dezembro para atendê-las, conforme explicou recentemente o diretor de finanças e relações com investidores da Petrobras, Almir Barbassa.
Na ocasião, Barbassa disse que a divulgação sem aval dos auditores em razão de "dever de transparência" por parte dos gestores da companhia.
O PREÇO DA CORRUPÇÃO
A Petrobras reconheceu ao mercado que não conseguiria divulgar o balanço do terceiro trimestre no prazo exigido pela legislação no dia 13 de novembro.
A empresa admitiu, na época, que precisaria rever o valor contábil de seus ativos e descontar deles os valores atribuídos ao pagamento de corrupção.
Em outubro, uma semana depois de o ex-diretor da Petrobras e delator da Lava Jato, Paulo Roberto Costa, ter dado detalhes do funcionamento do suposto esquema de desvio de propinas, a PwC alertou a Petrobras de que era "absolutamente necessário" aprofundar as investigações e indicou que não seria possível dar o parecer às contas do terceiro trimestre, conforme exigido pela legislação.
Depois disso, a Petrobras contratou dois escritórios, no Brasil e nos Estados Unidos, para aprofundar as investigações. A Petrobras tem ações negociadas na NYSE, a Bolsa de Valores de Nova York.
As denúncias já levaram investidores americanos a entrar com pelo menos seis ações contra a empresa, pedindo ressarcimento de perdas no valor dos papéis.
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