Dilma diz que insistirá em correção de 4,5% na tabela do Imposto de Renda
A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta sexta-feira (20) que insistirá na correção de 4,5% da tabela do Imposto de Renda da pessoa física ao enviar uma nova proposta de correção ao Congresso. Segundo a presidente, qualquer valor acima disso, como quer a oposição, será vetado.
O gesto é uma tentativa de evitar uma derrota no Legislativo caso os parlamentares decidam por derrubar um veto seu a uma proposta de reajuste de 6,5%, aprovada no ano passado e vetada por Dilma em janeiro. A votação sobre a manutenção ou não do veto ocorrerá na próxima terça (24).
"Eu tenho um compromisso e eu vou cumprir o meu compromisso que é 4,5%", disse Dilma nesta sexta após cerimônia diplomática no Palácio do Planalto.
Questionada se vetaria uma eventual modificação promovida pelo Congresso novamente, a presidente foi taxativa. "Eu sinto muito. Nós não estamos vetando porque queremos. Estamos vetando porque não cabe no Orçamento. Nunca deixamos de esconder (sic) que era 4,5%. Já mandei por duas vezes e vou chegar a terceira vez. Mandei novamente e vetei. Vetei não porque não queira fazer, vetei porque não tem recursos para fazer", disse.
A correção da tabela em 4,5% foi promessa de campanha, mas a deterioração nas contas fez o Executivo reconsiderar, nos bastidores, a conveniência de aplicá-la.
No ano passado, o Congresso aprovou um reajuste maior, de 6,5%, valor mais compatível com a inflação calculada em 2014, de 6,41%. No entanto, Dilma vetou a medida em 20 de janeiro com o argumento de que a proposta levaria à renúncia fiscal na ordem de R$ 7 bilhões.
Na época, o governo sinalizou que enviaria uma nova proposta de correção de 4,5% da tabela, o que corresponde à meta oficial de inflação, descumprida desde 2010.
Como a Folha mostrou nesta sexta, o governo tentará sensibilizar na próxima semana sua base de apoio no Congresso argumentando que um reajuste maior, neste momento, fragilizaria o ajuste fiscal, esforço do governo para reduzir o gasto público.
Segundo a Folha apurou, há duas correntes mais fortes na Esplanada. Uma que defende a correção em exatos 4,5% e outra que sugere um índice um pouco maior, mas não superior a 5%. A defesa por um reajuste zero, feita por integrantes da equipe econômica, não vingou.
A concessão seria necessária para evitar que o Legislativo derrube o veto presidencial de janeiro passado. Nas avaliações internas, ou Dilma faz um gesto ao Congresso ou muito possivelmente terá seu veto derrubado.
Um desfecho assim fragilizaria a imagem do Planalto e da própria equipe econômica em relação à sua capacidade de evitar a aprovação de verdadeiras "bombas fiscais" no Legislativo.
QUEBRA DE SILÊNCIO
Amplamente criticada por seus assessores mais próximos e até mesmo pelo PT por ter ficado em silêncio durante tanto tempo, a entrevista dada por Dilma nesta sexta-feira (20) foi a primeira de seu segundo governo. A aparição da presidente está dentro da estratégia defendida por ministros do seu núcleo político de que ela deve falar mais diretamente à sociedade para diminuir as críticas feitas ao seu governo.
A presidente completou 60 dias sem falar com a imprensa, o maior período de silêncio desde que assumiu a presidência, em 2011. Até então, ela havia passado 38 dias sem falar com a imprensa em janeiro de 2012.
Neste período, ela apenas discursou publicamente na sua cerimônia de posse, em 1º de janeiro, na reunião ministerial que promoveu em 27 de janeiro, durante a cúpula da Celac (Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos), realizada em San José, na Costa Rica, em 29 de janeiro, e na cerimônia de inauguração da primeira Casa da Mulher Brasileira, em Campo Grande (MS), realizada em 3 de fevereiro.
Na reunião ministerial, Dilma fez um apelo aos ministros para que "travem a batalha da comunicação", para defender os projetos do governo. "Nós não podemos permitir que a falsa versão se crie e se alastre. Reajam aos boatos, travem a batalha da comunicação, levem a posição do governo à opinião pública, a posição do ministério, a posição do governo à opinião pública. Sejam claros, sejam precisos, se façam entender. Nós não podemos deixar dúvidas", afirmou na época.
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