Em meio à crise fiscal, agendar seguro-desemprego leva até 1 mês
Em meio à crise fiscal do governo e à desocupação em alta, os trabalhadores demitidos encontram uma dificuldade adicional: dar entrada no seguro-desemprego.
Desde meados do ano passado, o serviço só é realizado, nas agências do Ministério do Trabalho, com agendamentos pelo site do órgão.
O problema é que a agenda quase sempre está lotada ou indisponível –entrave que se intensificou neste ano, após o anúncio de mudanças no benefício para preservar recursos do Tesouro.
Alguns trabalhadores ficaram até um mês para conseguir marcar uma data. Quando conseguem, é sempre para 15 dias à frente. Muitos varam noites em frente ao computador, pois a agenda só é liberada à meia-noite e rapidamente as vagas se esgotam.
Demitido em janeiro de um posto de gasolina, Nilton Xavier, 29, só nesta quinta-feira conseguiu se habilitar para receber o benefício. "Fiquei um mês tentando e, quando finalmente consegui, tive de esperar mais um mês quase."
Essa é a terceira vez que receberá o seguro. "Não era assim. A gente esperava, mas já dava entrada no mesmo dia."
Marceli Cristina, 21, saiu do emprego no começo de fevereiro, no qual era atendente. Ela ficou um ano e quatro meses no trabalho. Pelas novas regras do seguro-desemprego, não teria direito ao benefício, pois é a primeira vez que faz o pedido.
Ricardo Borges/Folhapress | ||
Marceli Cristina, 21, saiu do emprego de atendente no começo de fevereiro e tenta dar entrada no seguro-desemprego |
Ela disse que, durante 15 dias, entrava sempre a partir da meia-noite no site para fazer o agendamento. Menos sorte tem Jonatas Rocco, que tenta há dez dias programar uma data. "Só pode ser um truque do governo para adiar o pagamento."
Uma ex-funcionária de uma empresa de telecomunicações, dispensada no início de fevereiro, tentou por dias. Cansada, pagou R$ 20 para um empregado de uma lan house 24h, que conseguiu o agendamento para ela –seu atendimento será na terça.
Rafael Carvalho, 24, ficou um mês para conseguir. Todos são do Rio e tentaram em várias agências da região metropolitana.
Em testes para marcar uma data em outros Estados. o problema se repetiu, inclusive em São Paulo –no Estado, porém, o Poupa-Tempo fornece o serviço com recursos do governo estadual, o que ameniza o problema. No Rio, há uma greve de funcionários do Poupa-Tempo.
O Ministério do Trabalho afirma que não há problema no site, mas que "pode ocorrer indisponibilidade de agenda para o dia solicitado". Diz ainda que o sistema é renovado à meia-noite, abrindo uma nova agenda para o próximo dia disponível.
CONCESSÕES
Em fevereiro, o número de concessões de seguro-desemprego caiu 9% em comparação com o mesmo mês de 2014, mesmo com o desemprego em alta. Segundo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados, foram fechadas 2.415 vagas formais em fevereiro, pior resultado para o mês desde 1999.
Com um "buraco" no FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), fundo responsável pelos benefícios, os repasses do Tesouro para pagar o seguro-desemprego tem crescido –o que o governo tenta evitar em seu programa de ajuste fiscal. Foram R$ 13,8 bilhões em 2014. A previsão é de R$ 17,2 bilhões para 2015 (incluindo o abono salarial).
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