Jornais debatem distribuição em rede social
O jornal "The New York Times" confirmou na última semana que, junto com outras empresas jornalísticas dos Estados Unidos e da Europa, vem conversando há meses com o Facebook para postar conteúdo diretamente na rede social –sem que o usuário tenha que se transferir para o site do jornal.
A negociação prossegue, mas a intenção da rede social seria iniciar os testes "nos próximos vários meses". Foi o próprio Facebook que abordou as empresas. Também teriam sido contatados, entre outros, "The Guardian", "National Geographic", "The Huffington Post", "BuzzFeed" e "Quartz".
Nesta segunda-feira (30), a The New York Times Company nomeou um vice-presidente para produtos e tecnologia, Kinsey Wilson, que assumiu anunciando que o jornal pretende deixar para trás "o ponto em que uma única apresentação de nosso retrato das notícias satisfaz os nossos leitores".
'MATAR A MARCA'
A aparente aceitação de outra plataforma digital pelo diário nova-iorquino, que é referência para inovação no setor em todo o mundo, provocou reações contrárias desde que surgiram as primeiras informações sobre sua aproximação e de outros títulos com o Facebook.
O próprio David Carr, que era colunista de mídia do "NYT" e morreu há dois meses, escreveu em outubro sobre o início da "turnê" dos executivos da rede social pelos jornais. E alertou que "todo mundo sabe que, se o cão for grande o bastante, pode lambê-lo até matar".
Com a confirmação da proximidade do acordo, agora, acumularam-se críticas de analistas como Felix Salmon e Dan Gillmor. Para o primeiro, poderá "matar a marca jornalística". Para o segundo, os jornais "se preparam para dar o seu futuro de presente para o Facebook".
No entender de Rosental Calmon Alves, brasileiro que dirige o Centro Knight para o Jornalismo nas Américas, da Universidade do Texas, "é uma transformação profunda na maneira como o conteúdo jornalístico é distribuído". E reflete um momento em que o Facebook "está substituindo a web".
SEM TERREMOTO
Já o analista e consultor de mídia Ken Doctor, do Nieman Journalism Lab, da Universidade Harvard, sublinha que ainda faltam muitas informações sobre o eventual acordo –em questões centrais como a possibilidade de assinar o jornal via página do Facebook ou o amplo acesso a dados dos usuários.
Mas "com certeza os acordos do Facebook serão um tremor de terra menor do que parte da cobertura vem reportando", diz ele, lembrando: "As empresas jornalísticas vêm fazendo acordos de distribuição há 20 anos, para acessar novos públicos de Yahoo, MSN e, mais recentemente, Flipboard".
A diferença agora está no "alcance puro e simples" do Facebook, que soma 1,4 bilhão de usuários no mundo –o que torna "o resultado potencial maior, tanto do lado positivo", como novas receitas de publicidade e assinatura, "quanto do negativo", como uma perda de tráfego pelo site do veículo.
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