Nova biografia tenta reduzir lado sombrio de Steve Jobs
Um gênio, mas também um ser humano odiável. Essa é uma das conclusões a que pode chegar o leitor de "Steve Jobs", a biografia autorizada escrita pelo jornalista Walter Isaacson e lançada apenas três semanas após a morte do cofundador da Apple, em outubro de 2011.
Isaacson descreveu em detalhes o temperamento do icônico empresário, com "explosões de cólera" perante funcionários e rivais, a quem sabia como "ferir".
No mês passado, ele ganhou uma nova biografia, desta vez escrita pelos jornalistas Brent Schlender e Rick Tetzeli, na qual um objetivo claro é suavizar esse lado mais negro do empresário, que chegou a negar a paternidade da própria filha.
Em "Becoming Steve Jobs" (tornando-se Steve Jobs, em inglês), os autores o defendem. Schlender tinha um relacionamento íntimo com o criador do iPhone.
Ele o entrevistou pela primeira vez em 1986, quando Jobs já havia sido expulso da Apple e trabalhava na criação da fabricante de computadores para universidades NeXT, que nunca decolou.
Monica M. Davey/Efe | ||
Tim Cook (à esquerda) e Steve Jobs, na sede da Apple em 2007 |
Na avaliação dos autores, a ideia de um Jobs irascível, que tinha um ideal de perfeição praticamente inatingível e interferia em cada parafuso de cada produto, é até verdadeira, mas apenas em seu "primeiro ato" na companhia, entre 1976 e 1985.
Nessa fase, Jobs funda a empresa com Steve Wozniak, lança os computadores Apple 1 e Apple 2, que se tornou o principal gerador de caixa da companhia até o fim da década de 1980, e faz uma bem-sucedida entrada na Bolsa. Entretanto, ele também lidera uma série de projetos que, por seus próprios erros, como concentrar-se em detalhes isolados, em vez de no produto como um todo, são retumbantes fracassos.
Entram nessa lista computadores como o Lisa e o Apple 3 -de acordo com o livro, Jobs bateu o pé porque tinha decidido que a máquina não deveria ter uma ventoinha, para não fazer barulho.
Isso fez com que os engenheiros tivessem de se virar para evitar que o computador não esquentasse. Não deu certo: o lançamento atrasou, o produto teve de ser lançado bem acima do preço inicialmente planejado e um grande número de compradores devolveu o aparelho porque ele apresentava "falhas catastróficas por superaquecimento".
A falta de capacidade de liderança de Jobs foi um dos motivos de sua saída de sua própria cria, em 1985.
VIRADA
Mas, como, então, esse líder tão inadequado acabaria revolucionando, a partir dos anos 2000, os mercados de música, telefonia e computação móvel?
Na visão dos autores, a chave foi o período fora da Apple, especialmente os anos dos estúdios Pixar, responsáveis por produções memoráveis como "Toy Story".
A companhia nasceu de uma unidade dos negócios do cineasta George Lucas que foi comprada por Jobs em 1985. Ao chegar a um grupo já formado, com uma cultura própria e a habilidade de entender profundamente o chefe, ele acabou finalmente compreendendo o que significa trabalhar em grupo.
O problema do livro é que não há aprofundamento sobre quais foram, exatamente, os episódios ou fatores que levaram a essa mudança. Há algumas dicas, mas não uma somatória razoável.
A obra também traz a defesa de Jobs por amigos, como Tim Cook, que o sucederia na presidência-executiva da Apple -Cook revela que se ofereceu para doar uma parte de seu fígado para o então chefe, que precisava de um transplante.
A oferta foi rapidamente negada pelo empresário. "Alguém que é egoísta não responde assim", diz Cook, que completa: "A figura dele não é entendida. Eu acho que o livro de Walter Isaacson fez um tremendo desserviço a ele".
Talvez ambas as biografias, mesmo juntas, não consigam explicar completamente todas as facetas de Jobs.
*Becoming Steve
Jobs (Tornando-se
Steve jobs)*
AUTORES Brent Schlender e
Rick Tetzeli
EDITORA Crown Business
QUANTO a partir de US$ 13
(465 págs.)
CLASSIFICAÇÃO Muito bom ★★
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