Dados de emprego nos EUA reforçam peso do mercado sobre taxa de juros
Shannon Stapleton/Reuters | ||
Fila para feira de emprego em 2014, nos Estados Unidos |
O Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que depende pesadamente de dados, agora conta com todos os dados necessários para decidir se eleva sua meta de taxa de juros antes do final do mês. Infelizmente, a decisão continua completamente em aberto.
O tumulto nos mercados nas últimas semanas se tornou questão importante, e reduziu acentuadamente a importância dos números sobre o emprego, que talvez fossem o indicador mais aguardado em uma geração. A esta altura, o Fed deixou de depender dos dados e agora depende dos mercados.
Depois da onda de vendas nos mercados, foi eliminada a possibilidade de que os números do emprego pudessem ser fortes a ponto de remover qualquer dúvida sobre um aumento dos juros em 17 de setembro.
A possibilidade de que surja um número ruim o suficiente para impedir que o Fed eleve os juros continua em aberto, mas os números sobre o desemprego em agosto não foram ruins o bastante para isso.
A situação provavelmente explica por que a reação inicial do mercado foi contida. O dólar e o rendimento dos títulos do Tesouro norte-americano oscilaram, mas não se mexeram significativamente na meia hora posterior à divulgação dos dados.
Como sempre acontece com os números do desemprego, o problema é que a presença de tantos dados, produzidos por pesquisas diferentes que
empregam diferentes metodologias, e tudo isso sujeito a grandes revisões posteriores, pode funcionar quase como um teste de Rorschach para o mercado: os investidores veem aquilo que desejam ver.
Para os que preferem que o Fed postergue o aumento, o número básico quanto aos empregos não agrícolas, que mostra aumento confortavelmente inferior às expectativas, é uma grande prova em seu favor.
A queda na criação de empregos pelo setor privado, que mostrou seu segundo pior resultado quanto a isso desde o começo de 2014, é especialmente surpreendente e difícil de explicar ou justificar.
Diante disso, o índice de desemprego, calculado por pesquisa diferente, caiu para 5,1%, um novo recorde de baixa e sua menor marca desde janeiro de 2008, quando a compressão de crédito estava apenas começando a afetar o mercado de trabalho.
O índice do subemprego, que mostra o número de pessoas que estão trabalhando menos horas do que gostariam, é de 10,3%, também o mais baixo desde 2008.
E em termos mais amplos, o mercado de emprego já vem forte há alguns anos, o que parece tornar as taxas zero de juros, adotadas como medida de emergência, desnecessárias.
O Fed anunciou, famosamente, em agosto que precisava ver "alguma" melhora nas condições do mercado de trabalho antes de aumentar os juros. Os números de agosto representam alguma melhora.
Por que restam dúvidas, então?
Primeiro, o efeito deflacionário de uma queda acentuada nos preços das commodities, nas últimas semanas, causou queda das expectativas inflacionárias. A inflação estável, como o pleno emprego, é parte da missão do Fed, e parece haver pouca necessidade de uma alta nos juros por conta disso.
Os movimentos do mercado também deram força ao dólar, o que tende a ter o mesmo efeito econômico que uma alta nos juros.
Segundo, a desaceleração no ritmo de melhora dos números do emprego sugere, se alguma coisa, que o atual ciclo econômico está chegando ao fim, e chegando a um ponto no qual a expectativa normalmente seria a de que os juros caíssem.
Por fim, e o mais importante, temos os mercados em si.
Uma correção do mercado de ações na escala vista até agora jamais deveria bastar para mudar o curso da política monetária. Mas a volatilidade
acentuada do crédito e dos mercados de renda fixa sugere que o risco do tipo de acidente financeiro que poderia prejudicar a economia está crescendo.
Isso faz com que o Fed dependa mais dos mercados que dos dados. Nem os dados do desemprego e nem a volatilidade dos mercados nas últimas semanas bastam, até agora, para impedir que o Fed decrete um aumento de juros que gostaria de decretar por outros motivos. Mas outra semana de volatilidade extrema poderia mudar esse panorama.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
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