Entenda por que o banco central dos EUA pode subir os juros nesta quinta
Jim Lo Scalzo/Efe | ||
Janet Yellen, presidente do banco central americano, em foto de 2014 |
Após quase nove anos sem aumentar os juros que servem como referência para a remuneração dos títulos públicos americanos, o Federal Reserve (Fed, banco central dos Estados Unidos) pode finalmente elevar a taxa básica na reunião do comitê de política monetária que termina nesta quinta-feira (17).
A Folha ouviu Maurício Nakahodo, economista do Banco de Tokyo-Mitsubishi, e responde, abaixo, algumas dúvidas envolvendo a decisão do Fed. Confira:
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Por que o Fed pode aumentar os juros agora?
O mandato duplo do Fed é garantir o máximo emprego e a inflação dentro da meta de 2% ao ano. Os últimos dados de mercado de trabalho nos Estados Unidos mostram taxa de desemprego de 5,1%, a menor em sete anos. Até a crise financeira de 2008, a média histórica era de 4,5%.
Além disso, o consumo das famílias —que representa quase 70% do PIB (Produto Interno Bruto) americano— tem mostrado recuperação. No segundo trimestre do ano, a economia americana cresceu 3,7%, amparada na expansão de investimentos, gastos do governo e consumo.
Uma população empregada e ganhando mais pode se traduzir em pressão inflacionária. No entanto, o último dado de preços ao consumidor nos EUA, divulgado nesta quarta (16), mostrou que o índice de inflação caiu pela primeira vez em sete meses.
Por isso, analistas se mostram divididos em relação a um aumento de juros nesta quinta-feira. Dos 113 economistas ouvidos pela agência internacional Bloomberg, 54 veem aumento da taxa e os demais acreditam que o Fed não mudará sua política monetária.
Karen Bleier/AFP | ||
Mercado de trabalho sólido e aumento do consumo das famílias podem fazer Fed elevar os juros |
Por que os EUA mantiveram os juros em um patamar tão baixo por tanto tempo?
A crise causou a desaceleração da economia americana, com reflexo no aumento do desemprego e queda da confiança dos empresários. O banco central americano, então, precisou cortar os juros para reduzir o custo de captação e estimular a atividade econômica.
A economia americana está pronta para o aumento de juros?
Não há um consenso. Embora os dados de emprego e consumo amparem a decisão, o aumento da taxa provocaria uma valorização do dólar, afetando a competitividade dos produtos americanos e o resultado das empresas.
Além disso, a inflação continua baixa, influenciada pelos efeitos deflacionários dos preços de energia e alimentos. Por isso, o Fed não precisaria ter pressa para elevar os juros.
Até que patamar o Fed deve subir os juros?
As estimativas variam até um máximo de 3% a 4% ao ano em 2018. A velocidade vai depender da resposta da economia. Para Maurício Nakahodo, economista do Banco de Tokyo-Mitsubishi, após elevar os juros, o Fed deve avaliar o impacto econômico. O ritmo, então, seria de elevações intercaladas com reuniões de manutenção dos juros.
"O espaçamento é para o Fed avaliar o impacto da decisão. O banco central vai ter cuidado para não gerar um desequilíbrio nos fundamentos econômicos americanos", afirma Nakahodo.
Mark Wilson/AFP | ||
Analistas veem juros nos EUA em torno de 4% ao ano em 2018 |
Para o consumidor americano, o que significa o aumento de juros?
Basicamente, a elevação dos juros de empréstimos e maior rentabilidade de alguns ativos. A alta seria repassada a juros de hipotecas, financiamento de veículos e cartão de crédito.
O aumento também deve influenciar preços dos ativos, incluindo ações, assim como os juros de títulos emitidos por empresas. A remuneração de depósitos de poupadores deve aumentar.
Como os investidores vão reagir ao aumento dos juros?
Depende. Muitos analistas afirmam que a alta não deve ter tanto reflexo em ativos como o dólar, que já estaria precificando o aumento. Outros especialistas acreditam que haverá uma corrida por títulos públicos americanos, considerados de risco zero.
Isso porque as taxas de juros na Europa e no Japão —também considerados seguros— estão baixas e devem permanecer nesses patamares por algum tempo, enquanto os países europeus e a economia japonesa se recuperam da crise.
Yuya Shino/Reuters | ||
Investidores em frente a painel eletrônico na Bolsa de Tóquio |
O dólar no Brasil sobe cada vez que se fala de aumento de juros nos EUA. Como a moeda deve reagir quando isso ocorrer?
Mesmo com a grande diferença de juros —a taxa básica brasileira está em 14,25% ao ano—, deve haver saída de investidores do Brasil em direção aos Estados Unidos. Isso vai causar uma valorização do dólar em relação ao real.
A desvalorização da moeda brasileira, porém, deve ser gradual e ocorrer a cada elevação dos juros nos Estados Unidos. Não são esperadas variações muito bruscas.
Além do dólar, que outros investimentos reagem ao aumento de juros?
A Bolsa brasileira deve perder atratividade com a perspectiva de aumento de juros nos EUA, por ser um investimento de risco. Então é possível que o Ibovespa, principal índice do mercado acionário brasileiro, sofra algumas quedas, mas nada muito forte.
O ouro também sofre, porque não paga juros. Além disso, sua cotação é influenciada pela demanda de países como a China, que tem desacelerado.
O mercado de títulos é bastante afetado, pois papéis emitidos por empresas com grau especulativo —sem o selo de bom pagador—devem pagar uma remuneração maior. A dificuldade de captação pode causar a falência de algumas empresas.
Paulo Whitaker/Reuters | ||
Bolsa brasileira deve ser afetada pelo aumento de juros nos EUA |
A última ata do Fomc mostrou o Fed preocupado com a crise chinesa. Qual a influência que a China terá nessa decisão?
A China pode influenciar na decisão, mas não é possível mensurar quanto. Com as economias emergentes fragilizadas, o aumento de juros nos EUA pode ter um efeito ainda negativo sobre esses países, provocando queda na demanda mundial e prejudicando o próprio crescimento dos EUA no futuro.
O aumento de juros tornaria ativos denominados em dólares mais atraentes do que os denominados em yuan —moeda chinesa—, o que aceleraria a saída de capitais da China e deixaria o país asiático com menos recursos para investir em títulos públicos americanos.
O Banco Central brasileiro está preparado para o aumento de juros nos EUA?
O BC pode reforçar sua atuação no mercado cambial.
Com a economia brasileira em recessão, o BC não tem espaço para elevar a taxa básica de juros (Selic), pois isso deprimiria ainda mais a atividade econômica. Por isso, para conter a disparada do dólar, tem optado por ofertar a moeda americana, em diferentes tipos de contrato.
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Atualizado em 02/05/2024 | Fonte: CMA | ||
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