Executivos de televisão sinalizam mudança na relação com Netflix
Ryan Anson/AFP | ||
Logo do Netflix em prédio de Los Angeles (EUA); redes de TV estão atenta as mudanças da empresa |
Dois dos maiores donos de redes de televisões americanas sinalizaram uma mudança na relação delas com o Netflix, em meio ao temor de que a popularidade do serviço de streaming esteja acelerando uma onda de deserções de clientes de TV paga.
O Netflix e seus rivais licenciam muito de seu conteúdo das grandes redes e se tornaram uma importante fonte de receita para a indústria. No entanto, os investidores temem que o sucesso dos serviços de vídeo digital poderia estar acelerando um declínio na audiência, nas vendas de publicidade e nas assinaturas de TV paga.
Jeff Bewkes, presidente-executivo da Time Warner, disse que redes como a Turner precisavam ter certeza de que as taxas de licenciamento pagas pelo Netflix não canibalizavam fontes mais lucrativas de receita. A Time Warner é dona da rede Turner, que opera o canal de notícias CNN e o Cartoon Network.
"Não queremos que esse dinheiro substitua outra fonte de receita", afirmou Bewkes na conferência Communacopia, do Goldman Sachs, em Nova York.
Perguntado se acreditava que o crescimento do Netflix acelerava o corte de assinaturas de TV a cabo, disse: "Sim, acredito."
Bewkes sugeriu que, quando comprarem conteúdo no futuro, redes como a Turner deveriam oferecer uma programação pelo seu próprio serviço de vídeo "on demand" ou por aqueles operados pelos grupos já estabelecidos de TV paga.
A HBO, divisão da Time Warner, lançou recentemente o HBO Now, seu próprio serviço de vídeo digital, e disse que poderia expandi-lo e incluir canais da Turner e filmes do estúdio Warner Bros.
O presidente-executivo da 21st Century Fox, James Murdoch, disse que o Netflix era um "parceiro valioso", mas que a empresa poderia escolher licenciar mais de seu conteúdo exclusivamente para o Hulu, um serviço concorrente que é propriedade conjunta da rede Fox, da NBC (da Comcast) e da Walt Disney.
"As regras estão mudando nos negócios, e nosso pensamento, evoluindo", afirmou Murdoch. Ele acrescentou que o Hulu reembolsava a Fox de uma maneira "atrativa para nós".
O Netflix disse: "Nós fazemos toneladas de negócios com a Time Warner e com a Fox, e as reconhecemos como parceiras importantes."
Os comentários vieram em um momento em que um novo estudo mostrou que o crescimento dos serviços de vídeo digital é o principal fator do corte das assinaturas de TV a cabo. Cerca de três quartos dos entrevistados que disseram estar "extremamente propensos" a cancelar sua assinatura de TV paga este ano citaram a disponibilidade do conteúdo digital em serviços como o Netflix, de acordo com pesquisa conduzida pela consultoria Magid Associates.
A mesma pesquisa mostrou que o número de consumidores americanos "extremamente propensos" a cancelar sua TV paga quase dobrou para 3,7% em 2015 -valor pequeno em termos de porcentagem, mas equivalente a cerca de 3,7 milhões de clientes.
TV MUDA CONFORME ESPECTADORES
14 de agosto: quando 24 milhões de espectadores sintonizaram para ver a disputa entre Donald Trump e os rivais em torno da nomeação do Partido Republicano para a corrida presidencial, a Fox News bateu recordes para uma transmissão a cabo não desportiva. No entanto, quem acompanhou as redes sociais viu uma reclamação comum: a Fox tornou virtualmente impossível assistir à competição on-line.
Por alguns anos, a indústria da televisão subestimou o perigo das deserções dos clientes de TV a cabo. Mas essa posição se tornou crescentemente indefensável após o pior segundo trimestre em termos de perdas de clientes.
Os executivos agora admitem que o corte das assinaturas está acontecendo, mas tentam convencer os investidores de que também são capazes de capitalizar a crescente popularidade dos vídeos on-line.
"Haverá muito mais opções no mercado", disse Murdoch. "Os consumidores querem ter mais opções. Gastam de US$ 10 a US$ 15 em serviços de streaming e recebem pouco menos do que sua" TV paga oferece.
"O ambiente do streaming é melhor para nós porque nos dá controle e temos a habilidade de inovar e anunciar", acrescentou, apontando para o uso de dados dos consumidores para enviar publicidade mais direcionada a eles.
Admitiu que os anunciantes queriam mais provas de que o conteúdo da Fox estava alcançando os consumidores pelos canais digitais e disse que era incumbência das grandes redes encontrar uma forma de medir essa audiência. "As grandes redes precisam ir em frente com isso em vez de ficarem passivas esperando que as rating agencies as alcancem", disse ele.
Os executivos das empresas de TV paga também insistiram que estavam bem posicionados para lidar com qualquer aceleração nos cortes de assinaturas.
"Enquanto há uma transformação na forma como as pessoas assistem, o consumo de vídeo por hora continua a crescer" disse Stevens. "A chave para nós é entregar serviços em múltiplas plataformas -satélite, banda larga e wireless."
John Stevens, diretor financeiro da AT&T, afirmou que a perda de 133 mil assinantes da DirecTV, divisão de TV por satélite da companhia, ficaram dentro das expectativas da empresa no segundo trimestre e que iria focar em um "crescimento do lucro de longo prazo", em vez de trazer os clientes de volta com promoções.
Ao completar a aquisição da DirecTV este ano por US$ 49 bilhões, a AT&T se tornou o maior grupo de TV paga nos Estados Unidos em número de assinantes.
Brian Roberts, presidente-executivo da Comcast, disse que a companhia se beneficiaria da mudança para o vídeo digital pois isso levaria à absorção de seus produtos de banda larga. "Achamos que vídeo na internet é mais amigo que inimigo -quanto mais você depende deles, mais você precisa de banda larga", disse.
Mike Cavanagh, o diretor financeiro da companhia, apresentou uma série de produtos projetados para atrair os desertores de TV a cabo e aqueles que nunca tiveram uma, entre eles um produto de streaming on-line e um pacote com desconto para estudantes.
"Nem todos serão um gol de placa, porém, o mais importante é a disposição de experimentar para tentar e ficar sintonizado com [como] nosso presente e nosso futuro se comportam", disse.
Tradução de Maria Paula Autran
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 02/05/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | +0,95% | 127.122 | (17h29) |
Dolar Com. | -1,52% | R$ 5,1126 | (17h00) |
Euro | -0,82% | R$ 5,4803 | (17h31) |