Jornalista conta invenção do bitcoin em ritmo de aventura
David Gray/Reuters | ||
Em shopping na Austrália, caixa eletrônico convencional divide espaço com um para bitcoins |
Uma invenção tão secretiva que muito pouco, quase nada, se sabe sobre seu criador -ou criadora ou criadores. O documento que lançou suas bases foi divulgado em um fórum virtual em 2009, assinado por um certo Satoshi Nakamoto, mas até hoje não foi possível juntar o nome a uma pessoa ou grupo de pessoas de carne e osso.
O mistério é muito apropriado. Afinal, o produto criado é tão volátil quanto os boatos que correm sobre ele. Trata-se de uma criptomoeda -forma de dinheiro cujas transações e mesmo sua criação são controladas por códigos em lugar de um banco central.
O conceito provavelmente passa a quilômetros de distância da maioria dos usuários de cédulas, moedas e mesmo cartões de crédito, mas já atraiu a atenção do homem mais rico do mundo, Bill Gates, e de bilionários como o criador da Amazon, Jeff Bezos, e o magnata da mídia Rupert Murdoch.
Eles estavam em uma seleta reunião em Utah, no ano passado, quando o bitcoin -a tal moeda virtual-foi apresentado à nata dos investidores do mundo. Até então, além de servir para especulações financeiras e um punhado de operações experimentais, o dinheiro internético tinha sido usado com sucesso no comércio de drogas e na lavagem de fortunas no submundo digital.
Essa breve, mas movimentada, trajetória está contada em ritmo de aventura em "Digital Gold: Bitcoin and the Inside Story of the Misfits and Millionaires Trying to Reinvent Money" (Ouro digital: bitcoin e a história secreta de desajustados e milionários tentando reinventar o dinheiro).
Além de ter presenciado alguns dos encontros e reuniões que cita em seu livro, o jornalista de economia do "New York Times" Nathaniel Popper realizou mais de 300 entrevistas em lugares tão díspares como Pequim, Xangai e Buenos Aires, Austin, Reykjavic e Amsterdam, para citar apenas alguns.
Também teve acesso a documentos oficiais e a e-mails privados, além de consultar arquivos de redes de aficionados por criptografia e serviços de bate-papo e troca de mensagens eletrônicas de usuários de bitcoins.
Montado em forma de diário -cada capítulo é identificado por uma data–, o livro de Popper é quase um thriller. Mas tem seus momentos de comédia, quando mostra trapalhadas da imprensa para descobrir a identidade secreta de Nakamoto.
Em tom mais sério, não deixa de discutir as motivações ideológicas dos envolvidos na criação da moeda sem governo -em boa parte, figuras que abraçam as teses libertárias que animam o grupo ultradireitista Tea Party.
Também leva o leitor para o teatro das ações, permitindo acompanhar as idas e vindas dos principais atores, os roubos e as trapaças, as fortunas feitas e escangalhadas, as inacreditáveis variações das cotações da moeda virtual e as oscilantes políticas oficiais em relação à novidade.
Na primeira troca de bitcoins registrada, Martti Malmi, um dos programadores pioneiros que ajudaram a construir o sistema, transferiu 5.050 bitcoins. Em moeda real, aquele montante valia US$ 5,02.
Pouco mais de um ano depois, em setembro de 2010, já havia 1 milhão de bitcoins em circulação, e o câmbio com o dólar era um por um. No dia 1º de abril de 2013, superou pela primeira vez a marca dos US$ 100. Hoje há mais de 6 milhões de pessoas de alguma maneira envolvidas com a moeda que, no início deste mês, era cotada a US$ 239,72 (R$ 957,10).
Suculento como uma grande e bem apurada reportagem, o livro chega em momento que mostra os caminhos e os descaminhos do mundo bitcoin.
Em maio, quando "Digital Gold" foi lançado nos Estados Unidos, um de seus personagens ouviu a sentença de prisão perpétua, sem direito a liberdade condicional. Ross Ulbricht, condenado por tráfico de drogas, lavagem de dinheiro e outros crimes, foi o mentor do Silk Road, empório de drogas movido a bitcoins, quando a moeda se equilibrava nos limites da lei.
No início deste mês, a agência reguladora do mercado financeiro em Nova York deu sinal verde para o início das operações de uma empresa que fará negócios com bitcoins e moedas nacionais. Trata-se da Gemini, dos gêmeos Winklevoss, ex-atletas olímpicos que ganharam notoriedade por causa de sua atuação nos primórdios do Facebook e se transformaram em grandes investidores no mercado financeiro. Criar um programa "robusto" contra a lavagem de dinheiro é uma das promessas da companhia.
DIGITAL GOLD
AUTOR Nathaniel Popper
EDITORA Harper
QUANTO US$ 12 (R$ 45,20)
AVALIAÇÃO Muito bom
Livraria da Folha
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Atualizado em 25/04/2024 | Fonte: CMA | ||
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