Investimento direto pode financiar deficit externo em 2015, diz BC
O investimento direto em empresas brasileiras pode superar neste ano a previsão do Banco Central e financiar completamente o deficit do país nas suas transações com o exterior. Isso não acontecia desde 2012.
Em outubro, pela primeira vez no acumulado do ano, o investimento direto superou o deficit, e o BC avalia que essa tendência pode se manter até dezembro.
O chefe-adjunto do Departamento Econômico do BC, Fernando Rocha, afirmou que o deficit em outubro (US$ 4,2 bilhões) e no acumulado do ano (US$ 53,5 bilhões) são os menores registrados na série que começa em 2010, quando têm início as novas estatísticas sobre transações correntes.
Rocha disse que o BC prevê deficit de US$ 4,5 bilhões nas transações correntes em novembro e investimentos de US$ 4,8 bilhões.
Se os números se confirmarem, segundo ele, é provável que o deficit em 2015 fique abaixo dos US$ 65 bilhões projetados pela instituição anteriormente. Para o investimento direto, por outro lado, haveria chances de o valor ao final do ano superar a projeção, que também é de US$ 65 bilhões.
"Esses dados mostram um ajuste do setor externo que pode ser mais acentuado do que o BC vinha prevendo", afirmou.
"Neste momento de ajustes [na economia], o setor externo dá uma contribuição positiva, o que se traduz em menor deficit."
INVESTIMENTOS
Segundo Rocha, além da queda na atividade e da depreciação cambial, há outro fator que contribuiu para a queda no deficit, que é a mudança no passivo brasileiros com o exterior, com maior participação de investimentos em empresas e menor de dívidas.
Com isso, em momentos como o atual, há queda nas remessas de lucros para o exterior (as empresas lucram menos e trocam esses ganhos em reais por uma quantidade menor de dólares). Já a despesa com juros segue praticamente estável no ano, apesar do aumento das taxas no Brasil.
Ao citar o investimento direto, que teve em outubro o maior resultado do ano (US$ 6,7 bilhões), Rocha afirmou que houve concentração em operações de alto valor. Os dados do BC mostram uma entrada de US$ 2,2 bilhões de produtos do fumo, via Países Baixos.
Reportagem da Folha desta quarta-feira (25) mostrou que os estrangeiros lideram as aquisições e fusões no Brasil pela 1ª vez desde 2002. Com a desaceleração da economia e a alta do dólar, o mercado brasileiro ficou mais barato e atraente para empresas estrangeiras.
VIAGENS
Sobre o resultado com viagens internacionais, que recuou 30% no acumulado do ano, Rocha afirmou que a desaceleração dos gastos tem se acentuado ao longo de 2015 e que esse processo deve aparecer novamente nos dados de novembro. O número parcial mostra uma despesa de US$ 792 milhões até a última terça-feira (24).
De acordo com o Banco Central, essas despesas somaram US$ 15,1 bilhões no ano até outubro, uma redução de US$ 6,6 bilhões.
No mês passado, foram gastos US$ 1 bilhão, menos da metade dos US$ 2,1 bilhões de outubro de 2014.
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