Robôs japoneses estão perdendo a vantagem sobre os do Vale do Silício?
23.mar.2011/Efe | ||
Modelo de robô enviado ao Japão para ajudar nos trabalhos de recuperação do desastre de Fukushima |
Quando robôs foram colocados em operação na usina nuclear de Fukushima danificada pelo tsunami de 2011, não se tratava de máquinas produzidas no Japão. Em lugar disso, robôs produzidos pela iRobot, uma companhia americana, para operar nos campos minados do Afeganistão e Iraque tiveram de ser usados.
Era uma clara demonstração de como, apesar de sua longa tradição de competência na robótica, a liderança japonesa no setor deixou de ser automática. Máquinas mais adaptáveis, criadas para ambientes difíceis, começam a ganhar destaque. Um fator ainda mais importante é que aprendizado mecânico e outras técnicas de inteligência artificial estão ganhando muita importância, agora que os robôs estão aprendendo como responder a, e como interagir com, os seres humanos.
Os principais fabricantes japoneses de robôs estão cientes de que não serão capaz de manter sua vantagem se continuarem a se comportar como se nada tivesse mudado. No futuro, os robôs que operam em rede predominarão, de acordo com Hiroaki Kitano, presidente do laboratório de ciência da computação da Sony, que participou na criação do Aibo, um cachorrinho robotizado desenvolvido em 1999.
A liderança dos Estados Unidos no campo do aprendizado mecânico contribuiu para uma onda de autoconfiança entre os americanos que trabalham no setor, e a afirmações de que a posição do Japão na robótica já começa a se erodir.
"Quando aconteceu o desastre de Fukushima, surgiu a percepção de que o imperador estava nu", disse Rodney Brooks, cofundador da iRobot e antes disso diretor de inteligência artificial no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
O desafio vindo do lado oposto do Pacífico é reconhecido no Japão, onde um foco renovado em inteligência artificial e em tecnologias de rede essenciais para a robótica se tornou aparente. "Não vamos sair derrotados pelo Vale do Silício", diz Shunsuke Aoki, presidente-executivo da Yukai Engineering, que está tentando implementar um sistema de inteligência artificial em um sistema de robôs para a família chamado Bocco.
A liderança japonesa em robótica dependia, até hoje, de duas coisas. A primeira é a presença firme do país no ramo de produção automatizada. Uma pesquisa da Nikkei revelou que três dos cinco maiores fabricantes mundiais de robôs industriais em 2014, em termos de fatia de mercado, tinham sede no Japão, com a Fanuc em primeiro lugar.
Essa tecnologia avançou para bem além das linhas de montagem. Por exemplo, a fabricante de equipamento para construção Komatsu emprega drones (aeronaves de pilotagem remota) fabricados nos Estados Unidos para mapear locais de construção, e vende escavadeiras e retroescavadeiras robotizadas.
O segundo foco da força japonesa está nos robôs antropomórficos. O mais recente exemplar dessa linhagem é o Pepper, da SoftBank, um robô humanoide projetado para interpretar e reagir às emoções humanas. Lançado em 2015, o produto se provou tão popular que o estoque inicial foi vendido quase instantaneamente, e os novos lotes também são vendidos assim que são fabricados, embora as quantidades produzidas ainda sejam pequenas. Masayoshi Son, fundador e presidente-executivo da SoftBank, prevê que dentro de 24 anos haverá 10 bilhões de robôs no planeta, ultrapassando a população humana.
Alguns especialistas norte-americanos, porém, questionam o valor de tentar modelar os robôs em forma humana, dada a dificuldade de aperfeiçoar tecnologias e ao mesmo tempo lidar com as limitações desse tipo de máquina. Sebastian Thrun, antigo professor da Universidade Stanford que ajudou a desenvolver o carro autoguiado do Google, questiona se um dia haverá um grande mercado para esse tipo de produto, embora diga que "creio que seria fascinante ver como as pessoas reagem a isso, e que esse contato pode revelar verdades mais profundas sobre a humanidade".
Se a liderança japonesa na robótica agora está sob ameaça, não é difícil descobrir a causa. "O Japão historicamente vem sendo forte no aspecto físico dos robôs", diz o professor Martial Herbert, diretor do Instituto de Robótica da Universidade Carnegie Mellon, em Pittsburgh. "Os Estados Unidos são fortes na parte do pensamento. O que estamos vendo é uma mudança de ênfase para o lado do pensamento. Os Estados Unidos estão muito adiante nas pesquisas de inteligência artificial".
As normas associadas ao financiamento de pesquisas militares pelo governo norte-americano também influenciaram a situação, disse Brooks. A concessão de verbas de pesquisa a universidades é condicionada a uma cooperação estreita entre os departamentos de ciência da computação e engenharia mecânica, ele diz, o que força a colaboração interdisciplinar necessária em um campo de tamanha complexidade. Em contraste, os "silos" isolados em que os departamentos de suas universidades operam "vêm sendo um verdadeiro problema no Japão".
Essas mudanças vêm colocando companhias dos Estados Unidos em posição de destaque. A principal delas é a Alphabet, a nova holding do Google, depois da aquisição de sete startups de robótica em 2013. O Google também lidera no desenvolvimento de carros autoguiados, que são na verdade robôs móveis, equipados com computadores e sensores, o que torna desnecessária a presença de volantes e pedais de freio.
Outras empresas norte-americanas ricas e ambiciosas entraram na corrida dos robôs. A Amazon pagou US$ 775 milhões para adquirir a Kiva Systems, fabricante de robôs de transporte, e hoje emprega mais de 30 mil desses robôs em 13 imensos armazéns, para a movimentação de produtos. A Amazon também está desenvolvendo drones para entregas, e para isso recorreu ao conhecimento de engenheiros de robótica e antigos astronautas.
Os Estados Unidos são hoje, e "por larga margem", o líder mundial no campo de robôs autônomos, de acordo com Melonee Wise, presidente-executiva da Fetch Robotics, uma startup do Vale do Silício.
Se o Japão corria o risco de ficar para trás, Fukushima foi certamente uma chamada à ação para o setor. Mesmo os norte-americanos que criticam a atuação japonesa na robótica admitem que o Japão respondeu à ameaça de ser ultrapassado com uma campanha para desenvolver novas tecnologias que definirão o futuro do setor.
Startups japonesas se encarregaram de parte desse trabalho, ao lado das empresas estabelecidas, agora que o foco começou a mudar para empresas capazes de agir muito mais rápido na descoberta de usos para a nova tecnologia. Elas incluem a Preferred Networks, uma empresa de aprendizado mecânico que está trabalhando para aplicar inteligência artificial a robôs e sistemas autônomos de condução de veículos e se aliou a fabricantes poderosos como a Fanuc e a Panasonic.
"É necessário esforço para combinar hardware, software e tecnologias de rede", disse Toru Nishikawa, presidente-executivo da Preferred Networks. "Se conseguirmos fazê-lo, o mundo verá o valor de nosso trabalho".
Mas se o futuro da robótica está nas mãos de empresas iniciantes, muita gente no Vale do Silício acredita que o polo de tecnologia da Califórnia esteja largando com grande vantagem.
"Estou completamente convencido de que se houver um grande avanço na robótica voltada ao consumidor, ele virá do Vale do Silício, e provavelmente do Google", diz Thrun, que deixou a empresa de buscas na Web para trabalhar com educação online. "Não se trata de software, e sim de novas ideias de negócios e de inovação".
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 17/05/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,10% | 128.151 | (17h38) |
Dolar Com. | -0,54% | R$ 5,1019 | (17h00) |
Euro | -0,26% | R$ 5,5613 | (17h31) |