Crise e dólar derrubam deficit externo e investimento no país em 2015
A queda na atividade econômica e a alta do dólar reduziram o deficit em transações correntes do país em 43%, para US$ 58,9 bilhões, segundo o Banco Central.
No ano passado, o Brasil reduziu, principalmente, suas despesas com importações, viagens internacionais e remessas de lucro.
Na comparação com o PIB (Produto Interno Bruto) estimado pelo BC para o período, o deficit ficou em 3,32%. Caiu em relação aos 4,31% de 2014, mas ainda está acima do visto em 2013 (3,13%).
A melhora nas contas externas do país tem sido comemorada pelo governo como um dos poucos ajustes econômicos que deram certo no ano passado. A queda no deficit também contribuiu para reduzir a pressão sobre a taxa de câmbio, que mesmo assim teve uma desvalorização de cerca de 50% no ano passado.
INVESTIMENTOS
Enquanto as transações de bens, serviços e rendas com outros países apresentaram melhora no ano passado, as transações financeiras pioraram.
O investimento direto em empresas no Brasil ficou em US$ 75,1 bilhões, 23% menor que o de 2014. Esse também é o menor valor da série que começa em 2010. Em relação ao PIB, que encolheu no ano passado, o investimento passou de 4% para 4,2%, maior valor da série.
Os investimentos estrangeiros também recuaram 15% no mercado de ações e 40% nas aplicações em renda fixa.
O chefe do Departamento Econômico do BC, Tulio Maciel, afirmou que houve queda expressiva nos empréstimos intercompanhia no ano passado, mas que a entrada de dinheiro para compra de participação societária ficou praticamente estável. Esses dois tipos de recursos são computados como investimento direto no país.
Apesar da queda, o investimento direto surpreendeu o BC, que previa uma entrada de US$ 66 bilhões no ao passado. A diferença se deveu, principalmente, à surpresa de dezembro. Para o último mês do ano, o BC esperava uma entrada de US$ 6,1 bilhões, mas vieram US$ 15,2 bilhões.
Parte da diferença é explicada por uma operação de US$ 5,5 bilhões em empréstimos intercompanhia para o setor de derivados de petróleo e biocombustíveis (o BC não confirma se a empresa em questão é a Petrobras). Também foram destaque as entradas de US$ 2,6 bilhões para o setor de energia e de US$ 1,8 bilhão para montadoras de veículos.
EXPECTATIVAS PARA 2016
O BC projeta investimentos diretos de US$ 60 bilhões (3,9%) para 2016. Em relação às transações correntes, espera nova queda no deficit, para US$ 41 bilhões (2,7% do PIB).
Para janeiro, o BC projeta um deficit em transações correntes de US$ 6,7 bilhões, cerca de metade do verificado no mesmo mês de 2015. "Há uma sinalização da continuidade desse processo de ajuste", afirmou Maciel.
O chefe do Departamento Econômico do BC atribuiu a redução no resultado negativo em 2015 a fatores conjunturais e estruturais.
No primeiro caso, destacou a alta do dólar e a menor demanda por bens e serviços do exterior. No segundo, destacou o regime de câmbio flutuante e a mudança no perfil do passivo brasileiro, que deixou de ser predominantemente de dívida e, agora, é formado principalmente por investimentos no país.
"Nos anos 80 e 90, em momentos de crise, você tinha um gargalo na conta de juros, o que agravava a situação. Hoje, não. Investidores são quase como sócios. Em momentos adversos, o fluxo de lucros e dividendos se retrai, que é o que observamos [em 2015]", afirmou.
Maciel disse ainda que, no final de 2014, o deficit externo era uma preocupação na cabeça dos analistas financeiros e que, hoje, essa preocupação está bastante atenuada.
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