Caçador de recompensas persegue empresas chinesas para investidores
Robert Seiden é um caçador de recompensas em Wall Street. Ele rastreia executivos de empresas chinesas que um dia abriram seu capital em bolsas dos Estados Unidos e subsequentemente desabaram.
É uma missão trabalhosa, que pouca gente se dispõe a executar.
Um de seus atuais alvos é o presidente do conselho da Sino Clean Energy, que vem brigando contra investidores em um tribunal estadual de Nevada desde 2014. Em 16 de fevereiro, o juiz determinou que o executivo, Ren Baowen, desacatou criminalmente ordens judiciais, e ordenou sua prisão por descumprimento de ordens judiciais anteriores.
Em uma tentativa de aumentar a pressão sobre Ren, Seiden, o liquidante apontado pelo tribunal para a Sino Clean, fez uma notificação sobre a ordem de prisão a ser publicada pela PR Newswire, uma agência de notícias que distribui press releases de empresas.
A notificação foi publicada em 29 de fevereiro, mas não na China, onde Ren vive. A PR Newswire, em e-mail a Seiden, informou que se recusava a publicar a notificação lá, mencionando "a especial delicadeza política que envolve os interesses de investimento chineses".
Não foi a primeira vez que as táticas de Seiden se viram impedidas. É por isso que muita gente continua cética quanto aos seus esforços. Mesmo assim, ele aceitou o desafio e se tornou a pessoa de ponta para os investidores norte-americanos envolvidos em processos contra companhias chinesas nos quais se alegam trapaceados.
"A menos que o governo chinês venha me prender, farei tudo que a lei autoriza nos termos das ordens judiciais", disse Seiden em entrevista recente.
Seiden, 52, antigo promotor público em Manhattan, foi apontado por juízes como liquidante de nove empresas chinesas - muitas das quais registradas em Nevada - que um dia tiveram ações negociadas nas bolsas dos Estados Unidos.
Mas o montante em dólares que ele recuperou para os investidores é pequeno, até o momento - apenas cerca de US$ 8 milhões dos US$ 90 milhões que ele procura reaver.
Entusiasta de Sherlock Holmes (um busto do detetive fictício ocupa sua mesa em Manhattan), Seiden desenvolveu uma reputação de tenacidade. E por bons motivos: fazer com que os executivos chineses paguem o que devem envolve extensas reuniões, negociações e cooperação da parte das autoridades e bancos chineses.
Ele não se concentra só na China. Emprega antigos agentes de serviços de inteligência em todo o mundo, entre os quais o Mossad, de Israel, e o KGB, da Rússia, a fim de ajudá-lo a conduzir investigações sigilosas em lugares como a Rússia, Uzbequistão e Cazaquistão.
Ele abriu sua empresa, a Confidential Global Investigation, em 2008. No começo, trabalhou para fundos de hedge e seus investidores. Mas uma de suas primeiras missões foi na China, para a Richemont, empresa que controla marcas de luxo como Cartier, Piaget e Jaeger-LeCoultre. Seiden localizou uma quadrilha de falsificadores que operavam da Letônia e Escócia e fabricavam relógios falsificados na China.
Em 2013, Seiden recebeu um telefonema de um advogado que representava um grande investidor na ZST Networks, uma fabricante chinesa de equipamento. Um juiz do Delaware apontou Seiden como liquidante da empresa, para impor os termos de uma indenização de US$ 32 milhões imposta em favor do queixoso. Seiden ainda está tentando recuperar aquele dinheiro, mas a missão colocou sua carreira em um novo rumo.
Mais trabalho começou a chegar a ele, relacionado a processos de investidores quanto a fusões reversas. Nesse tipo de acordo, companhias chinesas desejosas de operar nos Estados Unidos contornavam o método tradicional de promover uma oferta pública inicial de ações e em lugar disso se fundiam com empresas praticamente extintas que já tivessem ações negociadas nos Estados Unidos.
A partir da metade dos anos 2000, esse tipo de companhia atraiu uma onda de interesse da parte de investidores que acreditavam que poderiam enriquecer aproveitando a onda de expansão econômica da China. Mas passados anos, eles têm pouco a mostrar de seus investimentos, a não ser prejuízos.
Muitas das empresas chinesas em questão se viram logo envolvidas em irregularidades contábeis ou imputações de fraude escancarada. Outras simplesmente pararam de publicar balancetes trimestrais nos Estados Unidos, o que deixava os investidores no escuro quanto ao que estaria acontecendo com suas operações na China.
Os críticos afirmam que as autoridades regulatórias demoraram demais a agir.
"As autoridades regulatórias dos Estados Unidos nunca pareceram dispostas a levar esses casos às últimas consequências", disse Paul Gillis, professor de contabilidade na Escola Guanghua de Administração de Empresas, na Universidade de Pequim.
Ao mesmo tempo, havia falta de vontade política de fazer qualquer coisa a respeito na China. "A responsabilidade por esse tipo de coisa é muito espalhada, com grande número de diferentes burocracias chinesas envolvidas", disse Gillis.
Mas recentemente, Seiden conseguiu obter ajuda de algumas autoridades chinesas. Com a assistência do Ministério das Finanças e Comércio e da Administração Estatal do Câmbio chineses, ele recebeu US$ 4 milhões de um acordo com a Shengtai Pharmaceutical, em 2015.
Seiden disse que espera receber mais US$ 28 milhões dentro de alguns meses, como resultado de negociações em curso, entre as quais conversações com os advogados de Ren.
No caso da Sino Clean Energy, uma empresa que produzia carvão ecológico, Seiden afirma em documentos submetidos ao tribunal que Ren "roubou milhões de dólares" de investidores nos Estados Unidos ao "sumir do mapa".
A companhia, sediada em Xi'an, China, não submete balanços atualizados à Securities and Exchange Commission (SEC), a agência que regulamenta o mercado de valores mobiliários dos Estados Unidos, desde o começo de 2012, de acordo com petições dos investidores.
A Sino Clean Energy tinha ações cotadas na bolsa Nasdaq, o que ela conseguiu por meio de uma fusão reversa em 2006 com uma empresa quase inativa chamada Endo Networks. O grupo em seguida levantou mais de US$ 26 milhões em capital nos Estados Unidos.
Matthew Zirzow, o advogado que representa a empresa no processo de falência contra a Sino Clean em Las Vegas, não retornou um telefonema em que a reportagem pedia comentários. Outro advogado de Ren não foi localizado para comentar.
Os investidores nas empresas que Seiden está buscando para recuperar dinheiro reconhecem que esses esforços têm pouca chance de sucesso.
John Kassay, de Parksville, Nova York, diz ter perdido quase US$ 20 mil com seu investimento na Sino Clean, e é parte do processo contra Ren e a empresa em Nevada, "para fazê-los pagar".
Qualquer dinheiro que ele recupere com esse processo, não importa o valor, valerá a pena, diz.
A empresa de Seiden cresceu de apenas alguns poucos funcionários, entre os quais o irmão dele, Steven, um total de 20 empregados. Os casos de fusões reversas com empresas chinesas respondem por 80% do trabalho do grupo.
"Estamos criando um caminho para recuperar dinheiro", ele disse.
Tradução de PAULO MIGLIACCI
Livraria da Folha
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade
- 'Fluxos em Cadeia' analisa funcionamento e cotidiano do sistema penitenciário
- Livro analisa comunicações políticas entre Portugal, Brasil e Angola
- Livro traz mais de cem receitas de saladas que promovem saciedade
Calculadoras
O Brasil que dá certo
s.o.s. consumidor
folhainvest
Indicadores
Atualizado em 20/05/2024 | Fonte: CMA | ||
Bovespa | -0,38% | 127.653 | (10h48) |
Dolar Com. | +0,29% | R$ 5,1170 | (10h53) |
Euro | 0,00% | R$ 5,5613 | (10h31) |